Daniel Weeks, economista-chefe da Garde (Leo Martins/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 17 de março de 2022 às 12h44.
Última atualização em 17 de março de 2022 às 12h47.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinalizou mais uma alta de 1 ponto percentual (p.p.) ao elevar a taxa Selic de 10,75% para 11,75% na decisão de quarta-feira, 16. Caso o ajuste seja confirmado na próxima reunião, em maio, a taxa passará para 12,75%. A alta, segundo o Copom, deve ser "suficiente" para controlar a inflação.
A indicação é de que o ciclo de alta de juros pode terminar na próxima reunião, disse Daniel Weeks, economista-chefe da Garde, em entrevista à EXAME Invest. Weeks, porém, não acredita que a Selic irá parar em 12,75%, sendo necessária mais uma elevação de 0,50 p.p. para 13,25% . "O comunicado não mudou a nossa projeção de Selic a 13,25%. Ainda vemos um cenário de inflação pior do que a apontada pelos modelos do Banco Central."
No cenário considerado de "maior probabilidade provável" pelo Copom a inflação terminaria este ano em 6,3% e em 3,1% no ano que vem. As projeções da Garde são de inflação a 7,1% em 2022 e a 3,9% em 2023. "O Banco Central vai se surpreender com a inflação pior que a esperada e vai continuar vendo as expectativas se desancorando de seu horizonte relevante", afirmou Weeks.
Confira a entrevista com Daniel Weeks, economista-chefe da Garde.
Qual foi o principal destaque do comunicado do Copom?
O trecho que indica que, se o petróleo ficar mais calmo, a Selic de 12,75% deve ser suficiente para convergir a inflação para a meta em 2023. O caminho seria mais uma alta de 1 ponto percentual. Por um lado o BC foi mais 'hawkish' ao sinalizar mais uma alta de 1 p.p., por outro, deu a indicação de que 12,75% seria suficiente.
Quer aplicar em fundos de investimentos? Aprenda do zero e comece agora.
A próxima reunião pode ser última alta de juros do ano?
Pode. Mas o comunicado não mudou a nossa projeção de Selic a 13,25%. Ainda vemos um cenário de inflação pior do que a apontada pelos modelos do Banco Central. Temos uma visão mais pessimista para o conflito na Ucrânia. O choque nas commodities e seu impacto na inflação local devem ser maiores que o previsto pelo Banco Central. Mesmo com o petróleo ao redor de 100 dólares por barril, prevemos a inflação em 7,10% para este ano e em 3,9% para o ano que vem. O Banco Central vai se surpreender com a inflação pior que a esperada e vai continuar vendo as expectativas se desancorando de seu horizonte relevante. As divulgações do IPCA dos próximos meses vão continuar apontando para um cenário bem complicado.
A surpresa com a inflação deve vir do lado do petróleo?
A defasagem da Petrobras está quase zerada. Acho que tem chance de ter mais reajustes se o petróleo voltar a subir. Mas, mesmo sem esse risco, a composição da inflação local e o repasse da inflação para o consumidor vai continuar surpreendendo.
Como o início do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos pode impactar as próximas decisões do Copom?
Vimos o Federal Reserve mais hawkish. O principal impacto disso na economia seria no cambio, que se comportou de forma relativamente tranquila [na quarta-feira]. Dado o nosso nível de juros - o BC foi o que mais fez aperto monetário - estamos relativamente blindados para um cenário de Fed mais hawkish. Isso não deve mudar a ideia do Copom quanto ao ajuste da Selic final. Vai depender muito mais do choque de commodities e de como isso vai se propagar na inflação do que do Fed.
O risco fiscal ainda deve impactar na alta da Selic, considerando que este é um ano eleitoral e um candidato de esquerda está a frente nas pesquisas?
Tem muito risco fiscal embutido na curva de juros, principalmente nas taxas de juros mais longas. A taxa de juros para daqui a 5 anos está em 12,5%, que é muito acima do a que consideramos ser a neutra. O que explica isso é o risco fiscal, que está muito latente no mercado. Esse também é um dos motivos para projetarmos a Selic a 13,25%.