Mercados

Indicador de Warren Buffett sugere colapso no mercado financeiro. Será?

Índice renova suas máximas, após efeito coronavírus levar os Estados Unidos a uma retração de 4,8% no primeiro trimestre no ano

Warren Buffett: em 2001, ele disse que indicador previa bolha da internet (Daniel Zuchnik/WireImage/Getty Images)

Warren Buffett: em 2001, ele disse que indicador previa bolha da internet (Daniel Zuchnik/WireImage/Getty Images)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 1 de maio de 2020 às 07h16.

Última atualização em 2 de maio de 2020 às 11h11.

Tido pelo lendário investidor Warren Buffett como o melhor indicador individual para avaliar se um mercado está caro ou barato, a fórmula que divide a capitalização total das empresas listadas em um país por seu produto interno bruto (PIB) nunca esteve em níveis tão altos nos Estados Unidos

“Quando o PIB cresce mais devagar que o mercado de ações, o índice indica que o mercado está caro”, explica Henrique Castro, professor de Finanças e Investimentos da FGV EESP.

Pouco antes de estourar a bolha da internet, que devastou os mercados em 2001, o índice também experimentava suas máximas. No fim daquele ano, o Buffett revelou sua admiração pelo indicador em entrevista à revista americana Fortune, fazendo com que o índice ficasse conhecido por seu nome.

O índice, que já vinha próximo de suas máximas, se esticou ainda mais após a contração do PIB americano divulgada nesta semana. Com de queda de 4,8% no primeiro trimestre, a relação do índice passou a ser de 178,8%, de acordo com dados do Federal Reserve de St. Louis. Com isso, o indicador renovou seu maior patamar trimestral, que era do período anterior. 

Para especialistas, o indicador de Buffett liga uma luz amarela no mercado, mas não recomendam usá-lo unicamente como base para a tomada de decisão. “Olhar qualquer índice isoladamente é sempre desaconselhável”, afirmou Cassiano Leme, presidente da Constância Investimentos.

Embora acredite que o indicador de Buffett deva ser levado em consideração, Cassiano vê algumas insuficiências nele, como a incapacidade de capturar o efeito da taxa de juros, que está em sua mínima histórica nos Estados Unidos. “O valor das ações tem relação umbilical com taxa de juros porque é a base do custo de capital que investidores usam”, disse.

Outro ponto levantado pelo professor Castro é o fato de muitas empresas se listarem fora de seu país de origem, o que, de acordo com ele, reduz a precisão do indicador. “Existe uma discussão de que, no lugar do PIB, deveria ser usado o produto nacional bruto, que considera a receita de empresas do país gerada fora dele.”

Castro também avalia que há a chance de o indicador passar por uma maior desconfiguração em anos em que muitas empresas abrem capital. “Esses anos extraordinários fazem com que o valor do mercado de ações suba sem que exista relação alguma com o PIB.”

Efeito semelhante ocorreu em 2007, quando houve o maior número de oferta primária de ações (IPO, na sigla em inglês) da história do mercado brasileiro. Ao todo, os 64 IPOs levantaram 55,65 bilhões de reais - quantia equivalente a 7,8% de toda a soma do valor de mercado das empresas listadas até 2006. Em 2007, o indicador Buffett do mercado brasileiro, disparou de 64,1% para 98%. 

Considerando a expectativa do boletim Focus de que o PIB brasileiro terá contração de 3,24% em 2020, o indicador de Buffett se encontra, atualmente, próximo dos 50% no Brasil. O valor poderia sugerir que a bolsa brasileira está mais barata que a americana - mas esse tipo de comparação é vista com maus olhos por especialistas. 

Um dos principais motivos para isso, é a relação de empresas abertas em relação às de capital fechado, que faz com que o índice tenha grandes discrepâncias de país para país. “Isso faz toda a diferença. Boa parte do nosso mercado não está na bolsa. Em Hong Kong, por exemplo, é o oposto”, disse Castro.

Acompanhe tudo sobre:AçõesAnálises fundamentalistasMercado financeiroPIB

Mais de Mercados

Volvo volta a nomear Hakan Samuelsson como CEO em meio à crise tarifária dos EUA

Com olho na Ásia, JBS (JBSS3) investirá US$ 100 milhões em duas plantas no Vietnã

Blackstone avalia adquirir participação no TikTok nos EUA, dizem fontes

Enel protocola na Aneel pedido de renovação da concessão em SP por 30 anos