Repórter Exame IN
Publicado em 20 de setembro de 2024 às 16h54.
Última atualização em 20 de setembro de 2024 às 18h57.
Dólar forte? Para o co-fundador, economista-chefe e chairman da Gavekal Research, Anatole Kaletsky, esse é um mito que está ficando no passado. Depois de o iene, a moeda japonesa, se recuperar de todas as perdas de 2024 e superar seu nível mais forte é chegada a hora de se perguntar se as tendências de longo prazo finalmente mudaram tanto para o dólar americano quanto para o iene. "Minha resposta é sim", diz categoricamente em relatório publicado nesta semana.
Kaletsky afirma que o dólar americano, embora ainda considerado "forte" por muitos, está, na verdade, em uma sustentada trajetória de queda desde setembro de 2022, quando o pânico sobre a guerra na Ucrânia atingiu seu auge. Desde então, o dólar recuou 12% no índice DXY e perdeu valor em relação a diversas moedas, como o euro, a libra esterlina e o franco suíço.
Kaletsky destaca que o iene, após uma recuperação de 7% desde seu ponto mais baixo, deve continuar ganhando força, impulsionado por dois fatores principais: o contínuo desequilíbrio entre as avaliações do dólar e do iene e a reversão das operações de carry trade.
Essas operações, baseadas na diferença de juros entre o Japão e outras economias, começaram a se desfazer com a valorização do iene, gerando grandes perdas para os investidores alavancados.
O dólar, embora possa ter alguns momentos de alta no curto prazo, está vulnerável a déficits fiscais e comerciais crescentes nos EUA, além de riscos políticos associados ao uso de sanções financeiras, enfatiza o economista.
"Por que, então, estou tão confiante de que o iene continuará se fortalecendo? Isso nos leva às razões por trás da fraqueza do dólar. Charles e Louis identificaram os dois motivos mais importantes para se esperar um dólar mais fraco no longo prazo: déficits comerciais e fiscais sem precedentes nos EUA e os riscos políticos criados pela dependência dos sucessivos governos americanos em sanções financeiras", diz Kaletsky.
De acordo com ele, muitos analistas e investidores parecem estar apostando na última, já que a diferença nas taxas de juros a favor do dólar permanecerá ampla, mesmo com o Fed flexibilizando sua política monetária e o BoJ ainda não estando sério sobre o aperto de sua política. "Mas esses argumentos monetários agora são irrelevantes."
Para ele, a tendência de desvalorização do dólar deve se intensificar nos próximos anos, enquanto o iene, apesar de sua volatilidade recente, apresenta um grande potencial de valorização.
A questão muito mais importante agora é se as perdas sofridas nas operações de carry trade com o iene neste verão se mostrarão suficientes para impedir novas operações de carry trade sempre que a tendência de baixa do dólar contra o iene aparentemente se estabilizar. Mas a resposta provável, diz o economista-chefe da Gavekal, é não. E é por isso que o dólar certamente desfrutará de alguns ralis de contratendência, possivelmente até começando após o corte de taxas do Fed.
"Minha impressão, no entanto, é que quaisquer novas operações de carry trade com o iene serão muito menores, com paradas mais apertadas e chamadas de margem mais frequentes." Enquanto isso, a divergência sem precedentes entre um iene extremamente subvalorizado e um dólar supervalorizado e politicamente vulnerável atrairá cada vez mais atenção. "Como resultado, a tendência de baixa de longo prazo do dólar, que começou há dois anos, provavelmente continuará e irá se acelerar", aposta Kaletsky.