Bolsa: Ibovespa tem dia volátil com maior cautela sobre casos de covid-19 nos EUA e dados negativos no radar (Paulo Whitaker/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 25 de junho de 2020 às 17h00.
Última atualização em 25 de junho de 2020 às 18h16.
A bolsa brasileira fechou em alta, nesta quinta-feira, 25, após o Senado aprovar o projeto de lei do marco do saneamento básico, na véspera. A expectativa é que o projeto sirva para atrair até 700 bilhões de reais em investimentos para o país, o que poderia ajudar a impulsionar a economia. Com isso, o Ibovespa, principal índice de ações, subiu 1,7%, em 95.983,09 pontos.
“O marco do saneamento abre o caminho para privatizações e entrada de dinheiro estrangeiro. Vai ser algo muito positivo para o Brasil”, afirmou Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset.
O mercado também espera que aprovação do marco do saneamento facilite a aprovação de outras pautas econômicas. "No mínimo, é uma sinalização que o Senado segue em linha para a aprovação de novos projetos", disse Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.
Embora tenha operado no azul pela maior parte do dia, o Ibovespa intensificou o movimento de alta na última hora do pregão, quando as bolsas americanas se estabeleceram em território positivo. A melhora dos índices americanos ocorreu conforme ganhou força, no mercado americano, a expectativa de novos estímulos por parte do Federal Reserve (Fed), que tem como base os dados negativos de pedidos de seguro desemprego, que saíram piores do que o esperado. Por lá, o S&P 500 subiu 1,1%.
“É mais expectativa isso. Acreditam que o Fed vai manter o nível de liquidez para sustentar a economia americana, mas ele já está quase no limite”, disse Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
Nesta manhã, os Estados Unidos também divulgaram que os dados semanais de pedidos de auxílio-desemprego ficaram em 1,48 milhão. Embora número tenha ficado abaixo do anterior, ficou acima das projeções de mercado, que esperavam 1,30 milhão de pedidos.
Apesar do otimismo nos instantes finais, o pregão foi marcado pela maior cautela com o crescente número de casos de coronavírus nos Estados Unidos.
Na quarta-feira, os Estados Unidos registraram 36.880 novos infectados, de acordo com os dados oficiais. Com isso, o país voltou a superar o recorde anterior, de 36.739 casos, registrado em 24 de abril. Os novos casos, segundo o New York Times, têm se concentrado em estados do sul e oeste americano, como Flórida, Texas, Oklahoma e Carolina do Sul.
Novos surtos da doença em países da Europa e da Ásia também preocupam os investidores, que, em sua maioria, viam os processos de reabertura dessas localidades como mais sustentáveis, já que se iniciaram após o pico do número de casos — diferentemente dos Estados Unidos e do Brasil.
"Ainda tem muita gente morrendo por causa do vírus e outras economias podem vir de novo a ter uma tendência de fechamento no curto prazo", afirmou Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.
Apesar da aprovação do marco de saneamento, as ações do setor operam em leve queda. Segundo Esteter, a aprovação do marco, que era amplamente esperada, já estava no preço. "É aquela coisa de 'sobe no boato e vende no fato'." Os papéis da Sabesp, Sanepar e Copasa tiveram respectivas quedas de 1,33%, 2,8% e 1,1%. Por outro lado, as ações da CCR e da EcoRodovias, de concessões rodoviárias, dispararam 9% e 5,75%, respectivamente, devido à possibilidade de elas entrarem no setor de saneamento.
As ações da Eletrobras, contudo, chegaram a liderar as altas do Ibovespa, logo após a abertura, e fecharam em alta de 3,87%. O movimento reflete o maior otimismo sobre a aprovação de projetos no Congresso, na expectativa que o clima se torne mais favorável para a privatização da companhia. "Em termos fiscais, o Brasil precisa muito do dinheiro da venda da Eletrobras, mas é mais difícil de ser aprovada. Na questão do saneamento era mais fácil porque envolvia a saúde e era claro que não conseguiria universalizar o sistema só com dinheiro público", disse Esteter.