Estudo sugere que bolsa brasileira não está tão barata quanto aparenta | Foto: Virojt Changyencham/Getty Images (Virojt Changyencham/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 1 de outubro de 2021 às 09h04.
Última atualização em 1 de outubro de 2021 às 12h20.
A bolsa brasileira pode não estar tão barata como aparenta, mesmo com perdas de quase 7% no ano e com desempenho abaixo das principais bolsas internacionais. Isso é o que aponta um estudo da Wealth High Governance (WHG), assinado pelo gestor Daniel Gewehr e pelo diretor de investimentos Andrew Reider.
Segundo análise da WHG, excluindo os setores de commodities e financeiro, o preço/lucro (P/L) do Ibovespa está em 26,2x, “que é um nível muito alto considerando o custo de capital brasileiro”. O múltiplo supera até mesmo o do S&P 500, negociado a um P/L de 20,3x estimado para 2022, mesmo após ter subido 14,7% no ano.
Na pesquisa, a WHG montou uma carteira com 15 ações de “empresas brasileiras de qualidade” (como B3, Fleury, Localiza, Americanas, Renner, Totvs e Weg) e comparou com as FAAMNG (sigla para Facebook, Apple, Amazon, Microsoft, Netflix e Google) mais os chineses Alibaba e Tencent.
O resultado foi um prêmio de cerca de 20% em relação às maiores companhias de tecnologia do mundo, “que crescem mais rápido, com ROIC (retorno sobre o capital investido) melhor e menor custo de capital”.
“Apesar da correção recente do mercado, as empresas de qualidade brasileiras também continuam caras”, afirma a WHG, que é uma empresa de gestão de investimentos.
O setor brasileiro de commodities, por outro lado, aparenta estar em patamares atrativos, segundo a WHG. Mas, ao avaliar os preços normalizados, a perspectiva é de redução do lucro para os próximos dois anos. “A Vale (VALE3), por exemplo, está só um pouco mais barata contra o histórico quando usamos o minério de ferro de longo prazo estimado pelo mercado.” Já a Petrobras (PETR3/PETR4), diz o estudo, “está realmente barata nessa ótica”.
De acordo com a WHG, de 11 setores da bolsa brasileira, somente o da indústria e o de tecnologia estão acima dos múltiplos históricos. “Porém notamos que 5 deles negociam acima de 20x P/L, uma medida elevada para um país cuja taxa livre de risco de 10 anos está em 11%.”
Um dos principais setores da bolsa, o financeiro, é negociado a 10,1x P/L, mas a WHG vê grandes riscos de investir no segmento, como a maior concorrência de fintechs e o interesse dos órgãos reguladores em fomentar a competição. “Os investidores temem que o crescimento dos grandes bancos não se mantenha no patamar de duplo dígito, após a normalização do ciclo de crédito.”
“A bolsa brasileira está negociando a 8,3x P/L projetado, que é um nível mais baixo do que no auge da covid-19, em março de 2020. À primeira vista, a bolsa parece barata demais, entretanto a análise depende da qualidade e da recorrência do lucro [e é aí onde mora o problema]", diz o estudo.