Painel de cotações na B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 28 de janeiro de 2022 às 10h32.
Última atualização em 28 de janeiro de 2022 às 18h29.
O Ibovespa se firmou em terreno negativo nesta sexta-feira, 28, e fechou em queda pela primeira vez em três pregões em um movimento de correção após as recentes altas.
Apesar da queda, o principal índice da B3 registrou sua terceira alta semanal consecutiva, acumulando ganhos superiores a 2% no período. O que tem impulsionado o mercado brasileiro é a entrada de capital do investidor estrangeiro, que está aproveitando para ir às compras após as fortes baixas de 2021.
Ibovespa:
A baixa foi puxada pelas ações da Petrobras (PETR3/PETR4), que recuaram quase 4%. No início do dia, os papéis da petroleira chegaram a seguir a alta do petróleo, que ficou próximo à marca dos 90 dólares por barril. Porém, as ações mudaram de direção após fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas de opinião para a eleição à Presidência.
Em entrevista à rádio Liberal FM, de Belém (PA), Lula disse que sua preocupação não é com o acionista da Petrobras e que não há motivo para atrelar o preço do combustível ao mercado externo. “Com todo respeito que eu tenho aos acionistas, a minha preocupação não é com acionista de Nova York, é com o povo brasileiro”, disse o ex-presidente.
No câmbio, o real continuou a se fortalecer contra o dólar também impulsionado pelo apetite estrangeiro. Nesta sexta, o movimento também acompanhou a fraqueza global da divisa americana após a divulgação de dados econômicos desapontarem nos EUA.
O índice de custo do emprego – que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, citou como chave para elevar os juros de forma mais incisiva – saiu abaixo das expectativas. Com o aumento do apetite a risco, o dólar perde força no mundo. O Dollar Index (DXY), que compara o desempenho do dólar com outras moedas fortes, ficou perto da estabilidade.
Na semana, o dólar recuou 1,18%. No mês, a moeda acumula desvalorização de 3,31%.
Nos Estados Unidos, as bolsas de Wall Street fecharam o dia em alta, embaladas pela forte alta de mais de 5% da Apple após a divulgação de seus resultados. Por aqui, os BDRs da empresa também encerraram o dia com fortes ganhos.
Ainda assim, os principais índices de ações nos EUA devem fechar a semana com perdas, ainda digerindo a última decisão do Fed. Na quarta-feira, Powell sinalizou que a alta de juros no país deve começar em março, com possibilidade de elevações em todas as demais reuniões do ano.
A queda do Ibovespa também ocorreu em linha com o desempenho das ações da Vale (VALE3) que entraram no vermelho, depois de terem refletido a alta do minério de ferro pela manhã. Nesta madrugada, o preço do metal bateu atingiu o maior patamar em cinco meses em meio à expectativa de maior demanda e preocupações com o nível da oferta.
Na máxima do dia, a mineradora chegou a subir mais de 1%, e depois os papéis entraram em movimento de realização. Vale lembrar que a empresa já avançou mais de 18% no acumulado dos últimos dois meses. As siderúrgicas acompanharam o movimento de correção.
As ações de varejistas também passaram por correção após alta nos últimos pregões. Magazine Luiza (MGLU3), que ontem subiu quase 7%, hoje liderou as quedas do dia.
Na ponta positiva, a Braskem (BRKM5) puxou as altas, saltando mais de 7%, após a oferta de cerca de 7 bilhões em ações da empresa ter sido cancelada. O follow-on marcaria a venda de participação da Petrobras (PETR3/PETR4) e da Novonor (ex-Odebrecht).
Segundo comunicado enviado pelas duas empresas, "a instabilidade das condições dos mercados financeiros e de capitais resultou, neste momento, em níveis de demanda e preço não apropriados para a conclusão da transação".
A Petrobras e a Novonor ainda afirmam que esperam retomar a oferta futuramente, “no momento em que for verificada conjuntura econômica mais favorável e com menos volatilidade".
No radar dos investidores brasileiros ainda estiveram dados econômicos divulgados nesta manhã. O IGP-M saiu abaixo do esperado, aliviando os temores sobre a inflação do país. Em janeiro, o indicador da FGV ficou em 1,82%, contra consenso de 2,01%. A taxa de desemprego também surpreendeu de forma positiva, caindo de 12,1% para 11,6%. A expectativa era de queda para 11,7%.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, porém, ressalta que nem tudo está resolvido. Apesar da criação de empregos, o economista ressalta que a queda do nível de renda, impactada pela "alta inflação ainda persistente e da piora qualitativa das vagas criadas".