Ibovespa abre em alta e bolsa pode voltar bater recorde de fechamento depois de quase um ano (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 6 de janeiro de 2021 às 09h28.
Última atualização em 6 de janeiro de 2021 às 18h45.
O Ibovespa virou para queda nos últimos minutos do pregão desta quarta-feira, 6, com os mercados preocupados com manifestações pró-Trump nos Estados Unidos. O índice encerrou o dia com perdas de 0,23%, aos 119.100 pontos, após ter passado a maior parte da sessão em alta embalada pelo apetite a risco no exterior que fez disparar as ações das blue chips, papéis com maior peso no Ibovespa.
No melhor momento do pregão, o índice chegou a 120.924,32 pontos, renovando a máxima intradia registrada na segunda-feira, quando alcançou 120.353,81 pontos. O recorde de fechamento é de 119.527,63 pontos, alcançado em 23 de janeiro do ano passado.
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A tensão nos Estados Unidos foi a responsável pela queda da bolsa brasileira. Durante a tarde, manifestantes favoráveis a Trump invadiram o prédio do Congresso americano para tentar barrar a sessão de confirmação da vitória do democrata Joe Biden. O protesto foi violento e há relatos de que uma mulher teria sido baleada no peito. A manifestação aconteceu depois que o republicano fez um novo discurso alegando falsamente que venceu a disputa pela Casa Branca.
Muitos dos correligionários de Trump prometeram um esforço de obstrução que poderia esticar a sessão após a meia-noite, mas é quase certo que o esforço não terá resultados. Normalmente, a cerimônia costuma ser breve, já que trata-se basicamente de uma formalidade.
“As tensões elevadas nos Estados Unidos reverteram os ganhos do Ibovespa e também tiveram impacto sobre o dólar”, afirma Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos. Mais cedo, o dólar havia chegado a reverter a alta em razão da atuação do Banco Central, que fez leilão de swap cambial durante a tarde, quando ainda prevaleciam preocupações sobre a situação fiscal do país.
A intervenção não foi suficiente e a divisa americana registrou a maior valorização desde o dia 30 de novembro. O dólar encerrou o dia em alta de 0,8%, negociado a 5,30 reais.
Os protestos também arrefeceram os ânimos das bolsas americanas, que chegaram a renovar recordes intradiários ao longo do dia. Ainda assim, o dia foi de altas sólidas para o Dow Jones e o S&P500. O Dow Jones subiu 1,38%, e o S&P500 avançou 0,57%. Já o índice de tecnologia Nasdaq caiu 0,61%, na expectativa de que um governo democrata imponha mais restrições às empresas do setor.
Ao final da tarde desta quarta-feira, os democratas ganharam o controle do Senado com a conclusão da eleição na Geórgia. Agora o partido passará a ter, além da presidência, a maioria no Senado e na Câmara, o que deve facilitar a implementação de políticas democratas.
Embora esse cenário dê a possibilidade de Joe Biden conseguir pacotes de estímulos fiscais ainda mais robustos, como vinha sendo pleiteado pelo seu partido durante o governo Trump, o mercado vinha atribuindo ao Congresso dividido, com Câmara democrata e Senado republicano como o melhor dos cenários. Isso porque, na visão de analistas, impediria medidas consideradas “radicais”, como aumento de impostos corporativos e mais regulamentações sobre o setor de tecnologia.
No entanto, cresce no mercado a expectativa de que a curta margem no Senado (de apenas uma cadeira, contando a de desempate da vice-presidente Kamala Harris) seja insuficiente para garantir a implementação de tais políticas. “O mercado está vendo a possível onda azul [cor do partido democrata] como positiva. Isso favorece um pacote fiscal mais agressivo nos Estados Unidos, que beneficia as commodities e o valor das ações”, afirma Bruno Lima, analista-chefe da Exame Research.
As commodities, a propósito, foram destaque no Ibovespa hoje. Entre as principais contribuições positivas em pontos para o índice, apareceram as ações da Vale (VALE3), puxadas pelo minério de ferro, os papéis dos bancos Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) e as ações da Petrobras (PETR3; PETR4), impulsionadas pela alta dos preços do petróleo. Confira os principais destaques de ações em detalhes aqui.
Divulgado nesta manhã. o relatório de empregos privados do Instituto ADP, de dezembro, apontou para a queda de 123.000 vagas nos Estados Unidos. As expectativas eram de crescimento de 88.000 postos de trabalho. Esta foi a primeira vez desde abril (considerando a revisão de maio) que o ADP aponta para uma queda do número de empregos. O dado é conhecido por ser a prévia do relatório oficial de empregos não-agrícolas (payroll), considerado o mais importante do mercado financeiro. O payroll será divulgado nesta sexta-feira, 8.