Sâo Paulo - As ações brasileiras estão no menor valor relativo desde 2009. Para a Van Eck Associates e a Thornburg Investment Management, vale a pena comprar construtoras e varejistas, uma vez que o ciclo de alta nos juros pode estar chegando ao fim.

O Ibovespa está sendo negociado a 10,7 vezes as estimativas de analistas para os lucros deste ano, comparado a 11,5 vezes para o Índice MSCI de Mercados Emergentes, segundo dados semanais compilados pela Bloomberg. O desconto do Ibovespa em relação ao índice MSCI chegou a 10 por cento no mês passado, o maior desde março de 2009, revertendo o prêmio de 7,6 por cento observado em julho.

O Ibovespa caiu 3,1 por cento nos primeiros três meses do ano, o dobro da queda do MSCI para nações em desenvolvimento, em resposta ao maior aumento na taxa básica Selic desde 2005 para frear a inflação. Cresce a confiança de que os cortes orçamentários promovidos pela Presidente Dilma Rousseff vão conter o avanço dos preços ao consumidor, mesmo com a economia se expandindo num ritmo de 4 por cento.

“O Brasil é um bom lugar para se sair à caça”, disse Lewis Kaufman, que ajuda a administrar US$ 79 bilhões na Thornburg em Santa Fé, Novo México, e cujo fundo Thornburg Developing World Fund teve desempenho melhor do que 96 por cento da concorrência no ano passado.

Itaú, Cyrela

A queda do Ibovespa levou ações do Itaú Unibanco Holding SA, maior banco da América Latina, a serem negociadas ao menor múltiplo em sete meses. Os papéis das Lojas Renner SA, maior varejista de vestuário com ações negociadas em bolsa no Brasil, caíram para o menor valor relativo desde maio. A Cyrela Brazil Realty SA Empreendimentos e Participações, segunda maior construtora residencial do País, caiu para o menor nível desde julho de 2009.

Ed Kuczma, que ajuda a supervisionar US$ 30 bilhões na Van Eck em Nova York, afirma que os investidores ficaram pessimistas demais em relação ao Brasil. O Ibovespa subiu 1 por cento no ano passado, após uma disparada de 83 por cento em 2009.
Investidores fizeram um resgate líquido de R$ 2,4 bilhões da Bovespa este ano, a maior quantia para o período desde 2008, segundo a BM&FBovespa SA.

As recomendações de compra de ações brasileiras diminuíram para 37,5 por cento do total de classificações no mês passado, o menor patamar desde pelo menos 1997, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Em fevereiro, os empréstimos de ações representavam 2 por cento do valor de mercado total da bolsa, após a fatia atingir o recorde de 2,4 por cento em janeiro, de acordo com dados da bolsa sediada em São Paulo.

Pessimismo

“As pessoas estão muito pessimistas”, disse Kuczma, que tem comprado ações de construtoras para ampliar a posição de “abaixo da média do mercado” em Brasil do Van Eck Emerging Markets Fund. Este fundo teve desempenho melhor do que 95 por cento dos concorrentes no ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg.

“Em termos do ciclo de juros, estamos chegando perto do pico”, disse Kuczma. “Acho que as pessoas podem ficar mais tranquilas de investir no Brasil.”

O Banco Central começou a subir a Selic em abril do ano passado, quando a taxa estava na mínima histórica de 8,75 por cento. O aumento de 300 pontos-base, ou 3 pontos percentuais, desde então foi o maior acréscimo desde 2005, quando o Comitê de Política Monetária completou uma sequência que elevou o juro básico do País em 375 pontos-base. O presidente do BC, Alexandre Tombini, vai levar a Selic para 12,25 por cento até o fim do ano, de acordo com pesquisa feita pelo BC com economistas.