Painel da B3: Ibovespa desta fechou em queda em meio às incertezas fiscais (Germano Lüders/Exame)
Repórter de Invest
Publicado em 27 de outubro de 2023 às 10h41.
Última atualização em 27 de outubro de 2023 às 17h35.
Após um pregão volátil, o Ibovespa desta sexta-feira, 27, fechou em queda de 1,29%. Ainda assim, na semana o índice acumula leve alta de 0,32%. O dia começou com os mercados globais assimilando o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. Por aqui, investidores repercutiram os números do terceiro trimestre de duas blue chips divulgados na véspera: o balanço da Vale (VALE3) e o relatório de produção da Petrobras (PETR3;PETR4). No entanto, foi a política que acabou dando o compasso negativo para o índice.
A bolsa brasileira operou a maior parte do dia em estabilidade, mas virou para a queda no início da tarde. Isso porque o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse em encontro com jornalistas que dificilmente o déficit zero nas contas públicas será atingido em 2024 — meta que é proposta pelo Ministério da Fazenda. Na avaliação do chefe do Executivo, um rombo de 0,5% ou 0,25% não seria "nada" e ele ainda reforçou que tomará a decisão "que seja melhor para o Brasil".
“Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai fazer. O que posso dizer é que ela não precisa ser zero. A gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo um corte de bilhões nas obras que são prioritárias nesse País”, disse.
IBOV: -1,29%, aos 113.301 pontos.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, aponta que as falas de Lula contribuíram para uma disparada nas taxas de juros locais. “Com os investidores precificando riscos de maiores déficits nos próximos anos. A esticada nos juros pesou nas ações cíclicas, que derrubaram o Ibovespa, mesmo diante dos ganhos da Vale, após balanço e o anúncio de dividendo extraordinário.”
Já antes da abertura do mercado, o Departamento do Comércio dos EUA divulgou o PCE, medida de inflação preferida do Federal Reserve (Fed). Os números apontam para uma alta de 0,4% no mês de setembro frente a agosto, acima das estimativas de 0,3%. Na comparação anual, o avanço foi de 3,4%, em linha com as projeções. O núcleo do PCE também ficou dentro do esperado, com crescimento de 3,7% na leitura anual. Tanto o índice cheio como o núcleo representam leve desaceleração em relação a agosto, quando registraram alta de 3,5% e 3,9%, respectivamente.
A recepção dos números foi positiva. "Apesar da colocação acima sugerir uma possível piora da inflação no período, quando analisamos a composição qualitativa do indicador, é possível ver que mesmo o avanço do núcleo não teve como causa um comportamento de persistência inflacionária, tendo sido reflexo especialmente do avanço dos preços de automóveis (0,5% MoM), grupo que passou por uma significativa redução de preço nos últimos meses, sendo o aumento do último mês em grande parte uma correção deste processo", explica Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
O economista defende que o dado não foi interpretado pelo mercado como um possível indício de novo reajuste nos juros por parte do Fed. "Algo evidente a partir da análise do comportamento do DXY, que recuou significativamente após a divulgação do indicador."
A mesma linha é seguida por Marcio Riauba, gerente da Mesa de Operações da StoneX. "O que deixou mais tranquilo foram os núcleos, que acabaram vindo em linha. Ponto positivo para o real, no momento que os yields americanos seguem numa volatilidade extrema, com as treasuries de dez anos beirando os 5%", afirma.
Falando no Brasil, a Vale divulgou o seu balanço do terceiro trimestre na última quinta e, no Ibovespa hoje, subiu 3,48%. A mineradora reportou um lucro líquido de US$ 2,836 bilhões, queda de 36% frente aos US$ 4,45 bilhões do mesmo período do ano passado.
Apesar disso, na comparação trimestral houve crescimento: o lucro subiu 217% contra os US$ 892 milhões registrados na janela entre abril e junho. Antes do balanço, a companhia anunciou o pagamento de R$ 8,276 bilhões em juros sobre capital próprio (JCP), o que corresponde a R$ 1,917008992 por ação.
E por falar na mineradora, a commodity voltou a subir nos mercados internacionais. Na bolsa de Dalian, na China, o minério de ferro subiu 2,12%, com a tonelada cotada a 889,5 iuanes (aproximadamente US$ 121,55). Os futuros em Singapura chegaram a subir 2,5% nesta sexta-feira, para US$ 120 a tonelada, com salto de 6,3% na semana.
Outra blue chip que divulgou números na última quinta foi a Petrobras, porém referente à produção de petróleo, gás natural e líquido de gás natural (LGN). No terceiro trimestre, a estatal contabilizou 2,88 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/dia), alta anual de 8,8% e trimestral de 9,1%.
Apesar disso, as ações ordinárias e preferenciais da petrolífera caíram 0,74% e 1,03%, respectivamente. Por outro lado, o petróleo subiu nesta sexta, com o barril do Brent domando 2,90%, aos US$ 90,48, e o WTI, com alta de 2,80%, a US$ 85,54.
Outra empresa de destaque nesta sexta foi a Usiminas (USIM5), que mesmo reportando prejuízo de R$ 166 milhões no terceiro trimestre, ainda liderou as altas do Ibovespa hoje, fechando com alta de 4,18%.
O dólar hoje fechou em alta. Nesta sexta, a moeda americana subiu 0,46%, a R$ 5,013. Na quinta, o dólar fechou em baixa de 0,23%, cotado a R$ 4,990.
Principal índice de ações da bolsa brasileira, a B3, o Ibovespa é calculado em tempo real, baseado na média do desempenho dessa carteira teórica de ativos, cada uma com seu peso na composição do índice.
Funcionando como um termômetro do desempenho consolidado das principais ações para o mercado, cada ponto do Ibovespa equivale a 1 real. Por isso, se o IBOV está em 100.000 pontos, isso quer dizer que o preço da carteira teórica das ações mais negociadas é de 100.000 reais.
O horário de negociação na B3 vai das 10h às 17h. A pré-abertura ocorre entre 9h45 e 10h, enquanto o after-market ocorre entre 17h25 e 17h30. Já as negociações com o Ibovespa futuro ocorrem entre 9h e 17h55.