Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 7 de fevereiro de 2023 às 10h47.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2023 às 18h35.
O Ibovespa recuou nesta terça-feira, 7, com investidores avaliando o rumo das políticas monetárias no Brasil e nos Estados Unidos.
O dia foi de divulgações no cenário macroeconômico, com a liberação da ata do Copom sobre a última decisão de juros no Brasil reforçando a preocupação com a piora da inflação.
Investidores avaliaram ainda as novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central, que vem adicionando incerteza ao mercado brasileiro nos últimos dias. O saldo foi uma queda de quase 1% para o principal índice da bolsa brasileira.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou hoje a ata da decisão da semana passada, quando a taxa básica de juros foi mantida em 13,75% ao ano. O tom, considerado duro pelo mercado, continuou enfatizando "especial preocupação" sobre a deterioração das expectativas de inflação.
A preocupação é com a política fiscal do novo governo Lula, que tem sinalizado um aumento de gastos. O BC, no entanto, fez um gesto entendido como de conciliação pelo mercado.
“O comitê destacou os riscos fiscais sobre a inflação, mas reconheceu que a execução do pacote fiscal anunciado pelo Ministério da Economia reduziria os riscos de alta”, afirmaram, em nota, os analistas do Bank of America (BofA).
O Itaú BBA também visualizou um reconhecimento por parte do Copom dos esforços do governo para conter o déficit fiscal em 2023, “o que vê como um possível fator para mitigar os estímulos à demanda e, portanto, reduzir o risco de inflação mais alta”.
Ainda assim, os analistas interpretam que tanto a ata como a decisão da última semana apontam para juros mais altos por mais tempo.
Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ata de hoje foi "mais amigável" que o comunicado da decisão da semana passada, considerado mais duro pelo governo. "Mais analítica, colocando pontos importantes sobre o trabalho do Ministério da Fazenda. É uma ata, vamos dizer, mais amigável em relação aos próximos passos que precisam ser tomados", avaliou Haddad.
As declarações se contrapõem às críticas do presidente Lula contra a atuação do Banco Central e a independência da autarquia. Lula insistiu no tema nesta terça-feira, e disse que a culpa da alta na taxa de juros no País é do Banco Central e que o Brasil não pode crescer com a Selic em 13,75% ao ano.
“[Roberto Campos Neto, presidente do BC] tem mais responsabilidade do que Meirelles [ex-presidente do BC] tinha no meu tempo. Naquele tempo, era fácil jogar a culpa no presidente da República. Agora não, a culpa é do Banco Central [independente]. Agora é o Senado que pode trocar o presidente do BC”, disse o presidente em café da manhã com parte da imprensa no Palácio do Planalto.
As críticas trouxeram incerteza e ajudaram o Ibovespa a se manter em terreno negativo. “Lula continua dando palpites e isso traz muita volatilidade para o mercado”, avalia Rodrigo Moliterno, diretor de renda variável da Veedha Investimentos.
De olho nas incertezas, o dólar teve mais um pregão de alta contra o real, chegando perto de superar a marca de R$ 5,20.
O clima negativo veio também dos Estados Unidos, após declaração de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Powell, afirmou que caso a economia dos Estados Unidos continue dando sinais fortes, a autoridade terá de seguir elevando as taxas de juros no país.
"Se os dados continuarem a chegar mais fortes do que esperamos, e concluirmos que precisamos aumentar as taxas mais do que é cotados no mercado, então, certamente faríamos isso, certamente poderíamos aumentar mais as taxas", afirmou Powell, durante evento promovido pelo Clube Econômico de Washington, nesta terça-feira.
Powell disse, no entanto, que a inflação está em declínio, e as bolsas americanas se apagaram a esta parte do discurso para disparar hoje. A forte alta minimizou as perdas da bolsa brasileira, mas não foi o suficiente para fazer o índice inverter o sinal.
Na bolsa brasileira, a BRF (BRFS3) voltou a ficar entre as maiores quedas do dia. A empresa teve o preço-alvo rebaixado pelo BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) de R$ 20 para R$ 11 por conta da deterioração do ciclo avícola.
O pregão foi de baixa também para as ações da Eletrobras, que caíram mais de 3% após Lula chamar o processo de privatização da empresa de “quase que uma bandidagem”.
Na ponta oposta, Embraer (EMBR3) lidera as altas do dia subindo 3,1% depois de ter a recomendação de compra reforçada pelos analistas do BTG. O dia foi também de recuperação para os papéis ligados ao minério de ferro depois das baixas da véspera.