Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 1 de abril de 2022 às 17h31.
Última atualização em 1 de abril de 2022 às 18h37.
Ibovespa hoje: o mercado brasileiro encerrou o pregão em forte alta nesta sexta-feira, 1º, puxado pelas ações da Vale (VALE3) e reagindo a dados de emprego nos Estados Unidos.
O principal índice da B3 superou a marca dos 121 mil pontos pela primeira vez desde o início de agosto do último ano e registrou a terceira semana consecutiva de ganhos, subindo 2,11% no período.
Na bolsa, os papéis da mineradora Vale subiram mais de 1% após o minério de ferro avançar 3,5% na China. A alta da commodity está associada aos dados fracos de atividade industrial no país — que registraram o ritmo mais forte de contração em dois anos. Os dados reforçaram a expectativa de que Pequim adote medidas de estímulo econômico, aumentando a demanda pelo minério.
Papéis associados à economia doméstica também subiram, dando sequência à tendência positiva observada em março. Descontadas, essas ações voltam aos holofotes com a queda na curva de juros que, por sua vez, se apoia na expectativa de fim do ciclo de alta da taxa básica de juro, a Selic. Segundo o Banco Central, a Selic deve subir até a marca de 12,75% ao ano, que será alcançada já na próxima reunião de maio.
Entre os maiores ganhos estão os papéis da Cielo (CIEL3), que foram incluídas hoje na carteira recomendada de ações de abril do BTG Pactual. Outra ação que passou a integrar a carteira foi a SLC Agrícola (SLCE3), que também entrou na primeira prévia da carteira teórica do Ibovespa nesta sexta-feira, e encerrou o dia em alta.
Na ponta negativa, as ações das exportadoras ficaram entre as maiores perdas do dia, reagindo à queda de quase 2% do dólar. O fluxo de investidores estrangeiros continua forte na bolsa brasileira, abrindo caminho para a apreciação do real.
Investidores do mundo inteiro repercutem os números do mercado de trabalho americano, considerados o principal termômetro da economia dos Estados Unidos. A taxa de desemprego americana de março, que saiu nesta manhã, caiu de 3,8% para 3,6%, enquanto a expectativa era de queda para 3,7%.
O payroll, contudo, veio abaixo do consenso de mercado de 490 mil, ficando em 431 mil. O nível de atividade mais fraco sugerido pelo payroll é interpretado por parte do mercado como positivo, pois alivia a pressão sobre a política do Federal Reserve, banco central americano, diante da crescente inflação do país.
"Isso traz um viés mais dovish [favorável à taxa de juro mais baixas] para a política monetária local. O dólar reagiu para baixo [frente ao real] logo após a divulgação, pois o mercado reajustou as expectativas. Esse payroll é o primeiro a capturar todo o período da guerra da Ucrânia, trazendo um pouco da nova realidade", disse Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
Outra parte do mercado, porém, tem interpretado os dados de forma negativa para a política de juros americana. Isso porque além da queda acima do esperado da taxa de desemprego, o payroll do mês anterior foi revisado para cima, de 678 mil para 750 mil novos postos não agrícolas.
Nos Estados Unidos, o rendimento dos títulos americanos de dois anos dispararam após a divulgação dos dados, com investidores precificando um juro médio de 2,44% ao ano para o período. O rendimento dos títulos de dez anos também sobem, mas ficam em 2,42%, abaixo do pago para os títulos de dois anos.
O movimento conhecido no mercado como "curva invertida" é considerado um "sinal vermelho" para investidores por, supostamente, indicar que uma recessão se aproxima. Uma possível queda da economia americana, por sinal, tem se tornado um dos principais riscos para os mercados globais.
Apesar da agitação do mercado de títulos americano, as bolsas de Nova York fecharam o dia em alta, seguindo o tom positivo que se desenhava antes mesmo da divulgação do payroll.