Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 6 de julho de 2021 às 10h34.
Última atualização em 6 de julho de 2021 às 16h10.
O Ibovespa enfrenta mais um dia de perdas causado por ruídos políticos nesta terça-feira, 6, com destaque para a suposta coordenação de um esquema de "rachadinhas" por parte do presidente Jair Bolsonaro. Às 16h, o principal índice da B3 caía 1,42% para 125.103 pontos.
Segundo áudios divulgados em reportagem do UOL e atribuída a uma ex-cunhada do presidente, o ainda deputado federal Jair Bolsonaro teria demitido o irmão dela por supostamente ter repassado um valor menor de seu salário como assessor parlamentar do que teria sido combinado.
Esta não foi a primeira vez que o nome do presidente foi envolvido em supostos casos de "rachadinha". Ainda antes de concorrer ao cargo, reportagens da Folha S. Paulo haviam revelado supostos esquemas de funcionários fantasmas em seu gabinete. Quando chegou à presidência, veio à tona, no Estadão, o caso de Fabrício Queiroz envolvendo seu filho Flávio Bolsonaro.
Soma-se a isso, o andamento da CPI da Covid, discussões sobre reforma tributária e supostas corrupções envolvendo compras de vacinas contra o coronavírus.
No mercado de câmbio, mais sensível às preocupações relacionadas à política brasileira, o dólar sobe 2,24% e é negociado a 5,202 reais -- apenas uma semana após estar abaixo da marca dos 5 reais, considerada uma importante barreira psicológica no mercado. "Riscos políticos perturbadores dificultam a apreciação do real", diz em nota Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora.
"Enquanto predominar este ambiente político de tensão, os traders do mercado de câmbio poderão estimular a volatilidade que lhes interessa comercialmente, mas muito dificilmente conseguirão alterar o cenário prospectivo que indica apreciação do real", afirma o especialista.
Embora o dólar suba contra as principais moedas emergentes do mundo, o real tem o pior desempenho desta terça se comparado ao rand sul-africano, peso mexicano, rublo russo e rúpia indiana.
"A discussão política ganhou bastante relevância recentemente e vai continuar. Não tem nada que indique que isso sairá do radar tão cedo", comenta Bruno Lima, analista-chefe de ações do BTG Pactual Digital.
Na bolsa, poucas ações operam em terreno positivo. Entre os papéis com maior participação no Ibovespa, somente as ações da Vale (VALE3) são negociadas em alta, impulsionadas pela valorização de quase 3% do minério de ferro na China. Por outro lado, os papéis da Petrobras (PETR3/PETR4) e dos grandes bancos derrubam o índice.
"Os vilões vão de temores inflacionários até possíveis desdobramentos da CPI da Covid, que aparentemente está próxima demais de queimar as pontes entre Planalto e o Centrão uma vez que grandes nomes da aliança aliança política do presidente estão envolvidos no imbróglio dos últimos dias", afirma em nota André Perfeito, economista-chefe da Necton.
No caso da Petrobras, a queda é agravada pelo desempenho do mercado de commodities. Nesta manhã, o preço do petróleo Brent chegou a bater a máxima desde 2018 com a notícia de que a Opep+ não havia chegado a um acordo sobre a produção de petróleo. A commodity, no entanto, virou para o terreno negativo e cai mais de 3%. Com a queda, as ações da PetroRio (PRIO3) são a maior baixa do dia, recuando quase 5%.
Em Nova York, os principais índices do mercado americano recuam, após uma longa sequência de recordes. Além de alguma realização de lucros, investidores ponderam o cerco chinês a grandes empresas de tecnologia do país.
Segundo Bruno Komura, analista de renda variável da gestora Ouro Preto, o ISM de serviços dos Estados Unidos, que ficou em 60,1 pontos, abaixo das expectativas de 63,5 pontos, também dá o tom negativo ao mercado americano.
"Agora com a vacinação, a reabertura econômica estava acontecendo e o setor de serviços tenderia a reagir muito bem. Mas o dado acabou frustrando bastante o mercado e talvez coloque em dúvida os efeitos da reabertura da economia, levando em conta até as novas variantes do coronavírus", diz Komura.
Temores em relação à reabertura econômica também impactam as ações de aéreas no Brasil, com Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) caindo mais de 3% e figurando entre as maiores quedas da sessão. Os papéis foram impactados pela notícia de que a cidade de São Paulo registrou hoje o primeiro caso da variante Delta do coronavírus, o que pode prejudicar o processo de retomada econômica.