A sede da bolsa brasileira, a B3: nova plataforma para negociação de títulos privados (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2020 às 10h24.
Última atualização em 18 de março de 2020 às 18h15.
O Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, fechou em queda de 10,35%, em 66.894 pontos - o menor patamar desde julho de 2017. O movimento de baixa ocorre em meio a mais uma onda de pessimismo global quanto aos impactos econômicos da pandemia de coronavírus Covid-19.
Em mais um dia tenso no mercado financeiro, o pregão precisou ser paralisado no início da tarde, quando o Ibovespa superou 10% de baixa. Esta foi a sexta vez que o circuit breaker foi acionado no Brasil desde a última semana. O mecanismo, usado para interromper as negociações, serve para evitar a venda descontrolada das ações. Após a volta do pregão, o principal índice da B3 ampliou ainda mais as perdas, chegando a cair 14,79%. Se ultrapasse 15% de queda, as negociações iriam precisar ser paralisadas novamente.
Em todo o mundo, apesar de diversas medidas de estímulo econômico anunciadas por governos e bancos centrais, as bolsas têm despencado por causa da incerteza sobre o tamanho da desaceleração que a pandemia vai causar.
"Há uma pressão muito forte nos mercados sobre a possibilidade de uma recessão do PIB (Produto Interno Bruto) global", disse. Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais.
Nesta quarta, o presidente americano Donald Trump afirmou que, "no pior cenário", a taxa de desemprego nos Estados Unidos pode chegar a 20%. Assim como no Brasil, nos mercados americanos o circuit breaker precisou ser acionado. O principal índice de ações dos Estados Unidos, o S&P 500 fechou em queda de 5,18%.
No Brasil, Pablo Spyer, diretor de operações da Mirae Asset, vê a bolsa sendo pressionada pelo avanço do número de casos de coronavírus no país. "O mercado está preocupado com os impactos do coronavírus na nossa economia. Isso está gerando fuga de capital. Até o brasileiro está saindo de ativos de risco", disse.
"Novas baixas não são improváveis, ainda tem espaço para a bolsa cair mais", disse Victor Beyrutti, economista da Guide Investimentos. Segundo ele, a alta volatilidade deve permanecer por mais um ou dois meses, dependendo do avanço do número de infectados por coronavírus no Brasil. "Quando se olha para as ações, parece que está tudo barato, mas, no momento, falta parâmetro pra dimensionar a queda de rendimento das empresas. O mercado acaba incorporando essa incerteza".
Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, definiu o cenário atual como "irracional". "Nada explica subir 10% em um dia e cair 10% no outro". Segundo ele, essa alta volatilidade deve permanecer, pelo menos, por 30 a 40 dias.
Na Bolsa, as ações da Smiles (controlada pela GOL), Azul e da CVC voltaram a liderar as maiores baixas do Ibovespa, recuando 36,9%, 30,7% e 33,6%, respectivamente. O setor de turismo e aviação é visto como o mais sensível aos avanços do coronavírus no Brasil, já que o risco de contágio reduz o fluxo de pessoas
As ações da BR Malls também tiveram forte recuo, caindo 23,6%, após shoppings centers anunciarem que irão reduzir o expediente e até permanecer fechados para evitar a proliferação do coronavírus.
Os papéis da Via Varejo, das marcas Casas Bahia e Pontofrio, também esteve entre as maiores perdas da sessão, despencando 30,3%, a 4,91 reais. Em fevereiro, o ativo chegou a fechar cotado a 16,64 reais.
Entre os componentes com maior peso no índice, as ações da Petrobras voltaram a pressionar o índice para baixo. Nesta quarta, o preço petróleo desabou mais 16% e levou junto os papéis ordinários e preferenciais da Petrobras, que recuaram 15,5% e 13,1%, respectivamente.
Na outra ponta, as ações da rede de supermercados Carrefour Brasil liderava as altas do Ibovespa, subindo 3,4%. Para Bevilacqua, no curto prazo, a empresa pode se beneficiar do cenário atual. "Está acontecendo algo surreal nos supermercados. As pessoas estão estocando alimentos."