Os títulos da Hypermarcas pagam 495 pontos-base a mais do que a dívida pública com vencimento em 2021. Há dois meses, a diferença era de 393 pontos (Pedro Rubens/EXAME)
Da Redação
Publicado em 15 de dezembro de 2011 às 09h01.
São Paulo/Nova York - A Hypermarcas SA não está conseguindo convencer os credores no mercado de renda fixa de que vai reduzir sua dívida o suficiente para preservar a nota de crédito.
O rendimento dos títulos denominados em dólar da Hypermarcas com vencimento em 2021 subiu 18 pontos-base, para 8,30 por cento, desde 13 de dezembro, quando a Standard & Poor’s mudou para negativa a perspectiva para a nota BB- da companhia. O rendimento é 78 pontos-base maior do que a dívida de empresas de risco similar da América Latina, segundo dados compilados pela Bloomberg e pelo Credit Suisse AG. O diferencial de rendimento tem aumentado em relação aos 60 pontos-base, ou 0,60 ponto percentual, em 12 de dezembro.
Enquanto o varejo no Brasil segue em situação melhor do que outros segmentos em meio à desaceleração da maior economia da América Latina, os investidores estão perdendo a confiança na Hypermarcas. A relação entre a dívida e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização pulou de 7,2 vezes em junho para 8,4 vezes no terceiro trimestre, segundo a S&P.
“Nós gostaríamos de ver mais do que desalavancagem”, disse Jane Yu, que ajuda a administrar US$ 6 bilhões em dívida de mercados emergentes no BNP Investment Partners em Londres, em entrevista por telefone. “Nós não gostaríamos de nos envolver com uma companhia com uma perspectiva de setor positiva, mas sem fundamentos positivos por parte da empresa.”
Os títulos da Hypermarcas pagam 495 pontos-base a mais do que a dívida pública com vencimento em 2021. Há dois meses, a diferença era de 393 pontos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A classificação de risco BB- é três níveis inferior ao grau de investimento e quatro níveis abaixo da nota soberana.
Marcas vendidas
A mudança de perspectiva pela S&P’s contribuiu para reverter um ciclo de valorização dos títulos da Hypermarcas, desencadeado pelo anúncio em 12 de dezembro da venda de algumas marcas para a Bunge Ltd. e para a Química Amparo Ltda. por até R$ 305 milhões. O rendimento dos papéis chegou a cair 46 pontos- base no mês encerrado em 13 de dezembro.
A Hypermarcas registrou uma queda de 24 por cento no Ebitda do terceiro trimestre, quando a companhia teve prejuízo de R$ 190,5 milhões no período, comparado a um lucro líquido de R$ 78 milhões um ano antes.
“Uma deterioração mais acentuada” dos níveis de endividamento “aumenta o desafio enfrentado pela empresa para entregar os parâmetros necessários para a nota permanecer em BB- ”, disse Milena Zaniboni, analista da S&P em São Paulo, em entrevista por telefone. “Precisamos ver resultados trimestrais que mostrem que a empresa está a caminho disso.”
Um representante da Hypermarcas em São Paulo se recusou a comentar sobre a possibilidade de rebaixamento na nota de crédito.
‘Preço justo’
Os resultados vão se recuperar no ano que vem, quando os atacadistas retomarem as compras após esgotarem os estoques, disse Marianna Waltz, analista da Moody’s Investors Service. A Hypermarcas reduziu descontos e prazos de pagamento para os clientes, o que levou alguns atacadistas e distribuidores a diminuírem estoques.
“Presumimos que o desempenho da empresa vá melhorar em 2012”, Waltz disse em entrevista no escritório da Moody’s em São Paulo. “Assim que esse processo de diminuição de estoques ficar pra trás, as coisas vão se normalizar porque os consumidores estão comprando produtos da Hypermarcas.”
Jansen Moura, analista da BCP Securities LLC no Rio de Janeiro, tem recomendação “market perform” para os bônus da Hypermarcas, diante da possibilidade de a empresa reduzir os níveis de endividamento até o fim do ano.
“Nós reiteramos a recomendação de ‘market perform’ para a Hypermarcas, por acreditarmos que os títulos estão com preço justo”, Moura escreveu em relatório em 13 de dezembro.