O investimento do BTG Pactual, que poder ser feito através do mercado secundário, representaria cerca de 97 milhões de ações da Hypermarcas (Germano Lüders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2012 às 09h22.
Nova York - A Hypermarcas SA, fabricante brasileira de mais de 190 bens de consumo, está superando os concorrentes do setor no mercado de renda fixa com especulações de que o bilionário André Esteves está tentando comprar uma participação de R$ 1 bilhão na companhia.
O rendimento dos US$ 750 milhões em títulos da Hypermarcas com vencimento em 2021 caiu 31 pontos-base desde 6 de janeiro, quando o jornal O Estado de S. Paulo noticiou que o Banco BTG Pactual SA, controlado por Esteves, estava em negociações para ingressar no grupo de controle da companhia. O rendimento de papéis de empresas de artigos de consumo dos Estados Unidos que compartilham a mesma nota de crédito especulativa da Hypermarcas caiu seis pontos-base no mesmo período, para 8,88 por cento, segundo dados do Bank of America Corp.
Investidores estão apostando que Esteves ajudará a Hypermarcas na recuperação da Hypermarcas. O pior resultado trimestral desde pelo menos 2007 e o aumento do endividamento levaram a Moody’s Investors Service a rebaixar a nota de crédito empresa em 8 de novembro. No ano passado, a compra por Esteves do Banco Panamericano SA, instituição que foi socorrida duas vezes em meio a investigações de fraudes contábeis, levou a uma valorização de 17 por cento nos títulos do Panamericano em 2011.
“O Brasil está criando um tipo de cultura na qual algumas pessoas estão se tornando bastante conhecidas por comprar empresas que acreditam ter possibilidade de valorização, e esse é o caso de Esteves”, disse Klaus Spielkamp, operador de renda fixa na Bulltick Capital, em Miami, em entrevista por telefone. “Isso será visto como algo positivo, porque ele também está apostando seu dinheiro nisso. O preço dos títulos estava se recuperando, e agora você tem essa cereja no topo, que é o BTG tentando comprar” parte da empresa.
Mercado secundário
O rendimento dos títulos Hypermarcas desabou 94 pontos- base, ou 0,94 ponto percentual, para 7,77 por cento após ter atingido recorde em 4 de outubro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Os papéis pagam 429 pontos-base a mais do que os títulos do governo brasileiro com vencimento em 2021. A diferença estava em 511 pontos-base em 2 de dezembro.
O investimento do BTG Pactual, que poder ser feito através do mercado secundário, representaria cerca de 97 milhões de ações da Hypermarcas com base no preço de fechamento do papel ontem, a R$ 10,26 reais. Os acionistas controladores estão avaliando a oferta, que não levantaria mais capital, segundo uma pessoa próxima às conversas, que pediu para não ser identificada.
“Não tem conhecimento”
A empresa disse em comunicado ao mercado em 6 de janeiro que “não tem conhecimento de quaisquer fatos, informações ou eventos, inclusive qualquer manifestação formal de grupo de investidores para ingresso no bloco de controle da companhia.”
A assessoria de imprensa externa da Hypermarcas não quis fazer comentários adicionais para esta reportagem.
O BTG Pactual disse em comunicado ao mercado em 11 de janeiro que não pretende fazer oferta hostil por ações da Hypermarcas e que nem a instituição nem quaisquer dos fundos sob sua administração detém participação acionária superior a 5 por cento na empresa.
A assessoria de imprensa externa do BTG Pactual também não fez comentários adicionais.
Esteves, de 43 anos, tornou-se o mais jovem brasileiro a ficar bilionário por conta própria quando vendeu o BTG Pactual ao UBS AG em 2006. Ele comprou o banco de volta por US$ 2,5 bilhões em 2009 e o uniu a uma instituição fundada por ele em 2008 para formar o BTG Pactual. No ano passado, a instituição adquiriu participações em empreendimentos incluindo redes de farmácias, hospitais e operadoras de estacionamento, a fim de ganhar com a expansão da economia doméstica.
Queda do lucro
A Hypermarcas, que produz desde fraldas a preservativos, anunciou em 7 de novembro que teve queda de 24 por cento lucro antes de impostos, juros, amortização e depreciação no terceiro trimestre. A empresa impôs condições de vendas que levaram distribuidores a reduzir encomendas diante da desaceleração econômica. A companhia, que realizou pelo menos 12 aquisições desde o começo de 2010, teve a nota de crédito rebaixada em um nível para Ba3, ou três níveis abaixo do grau de investimento, pela agência Moody’s em 8 de novembro.
No mês passado, a S&P mudou para negativa sua perspectiva para a nota BB- da Hypermarcas, citando a disparada dos níveis de endividamento. A proporção entre a dívida e o lucro saltou de 7,2 vezes em junho para 8,4 vezes no terceiro trimestre, de acordo com a S&P.
‘Muito bom’
Se o acordo for adiante, “será muito bom para o crédito”, disse Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities em Nova York, em entrevista por telefone. “A história de sucesso do BTG seria combinada a uma empresa que tem tudo para ir bem, mas que não está indo bem porque a direção da Hypermarcas não conseguiu se focar em apenas um ou dois setores.”
Uma aquisição pelo BTG Pactual “não implicaria qualquer capital adicional para a companhia, então não teria impacto sobre o perfil de crédito da empresa”, disse Debora Jalles, analista da Fitch Ratings no Rio de Janeiro, em entrevista por telefone. “Estamos preocupados principalmente com a habilidade de a empresa recuperar a geração de Ebitda e desalavancar em 2012.”
A Fitch reduziu para negativa sua perspectiva para a nota BB da Hypermarcas em dezembro.