“O Brasil é nosso mercado emergente favorito”, disse James Dondero, presidente e cofundador da Highland, (Flickr)
Da Redação
Publicado em 20 de dezembro de 2011 às 09h21.
São Paulo - A gestora de fundos Highland Capital Management LP, com US$ 23 bilhões em ativos, está se associando a três grupos de investidores brasileiros para explorar recebíveis de alto rendimento no País.
A Highland está trabalhando junto com a Plural Capital Ltda., o Banco Pine SA e a Quatá Investimentos, para comprar dívidas corporativas e colocá-las em três fundos, no primeiro movimento da gestora na região, disseram duas pessoas com conhecimento dos planos, que não podem ser identificadas porque as informações ainda não são públicas.
Fundos atrelados a recebíveis de empresas brasileiras, com nota de crédito mais alta, pagam cerca de 13 por cento. Papéis de dívidas similares americanos pagam uma taxa média de 5,5 por cento.
Enquanto o crescimento na maior economia da América Latina se desacelera e a inadimplência cresce, a Highland aposta que o Brasil crescerá em meio a seus preparativos para sediar a Copa do Mundo de 2014. O Comitê de Política Monetária do Banco Central cortou o juro básico três vezes desde agosto, para 11 por cento, para proteger o País da crise da dívida europeia.
“O Brasil é nosso mercado emergente favorito”, disse James Dondero, presidente e cofundador da Highland, em comunicado por e-mail. “O mercado de dívida corporativa brasileiro está nos estágios iniciais de desenvolvimento, onde os Estados Unidos estavam 10 ou 15 anos atrás. Os sócios estão pedindo a nossa orientação e conhecimento, da mesma forma que a Highland ajudou a desenvolver o mercado de empréstimos bancários nos Estados Unidos.” Dondero se recusou a comentar sobre potenciais fundos no Brasil.
Investimentos para a Copa
Bancos brasileiros de menor porte estão buscando financiamento mais barato por meio da venda de ativos com garantias após a de crise de dívida europeia fechar o mercado internacional para captações dessas instituições. A expansão da Highland no Brasil traz à tona os esforços dessas instituições para atrair parceiros maiores.
Dondero disse que o Brasil precisa de investimentos em infraestrutura para a Copa do Mundo no País em 2014 e para a Olimpíada no Rio de Janeiro dois anos mais tarde, que podem levar a mais empréstimos durante a construção dos novos estádio e estruturas relacionadas.
“Há uma explosão em grandes projetos de infraestrutura, em parte pelo fato de que o País sediará a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpícos de 2016”, disse Dondero. “Isso contribui para um ponto de vista macro.”
Ativos securitizados
A venda de ativos securitizados no Brasil também começou a se acelerar após as acusações de fraudes no Banco Panamericano SA, no ano passado, colocarem incertezas em um mercado em que os bancos compram e vendem carteiras de crédito e terem levado a Comissão de Valores Mobiliários a propor maiores exigências de informação para o segmento.
A relutância de investidores em comprar ativos garantidos por empréstimos a pessoas físicas levou o Banco Cruzeiro do Sul SA, de São Paulo, a transferir a gestão de metade de seus fundos para o Banco Bradesco SA, sediado em Osasco.
A decisão atrairá mais dinheiro porque a governança corporativa melhora com a transferência da responsabilidade de estruturação, distribuição e gestão de risco dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios -- FIDC -- para o Bradesco, disse Luis Octavio Indio da Costa, presidente do Cruzeiro do Sul, em teleconferência com analistas em 17 de novembro.
“Bem incipiente”
“A indústria de ativos securitizados está crescendo, mas é bem incipiente e o futuro é incerto à luz do que está acontecendo ao redor do mundo agora”, disse Monica Baumgarten de Bolle, sócia do SPX Capital, fundo de hedge do Rio de Janeiro com R$ 2,4 bilhões em carteira.
“Simplesmente existem muitos bancos de médio porte sem nenhuma experiência” na criação de ativos securitizados a partir de empréstimos, disse ela em entrevista por telefone. “É por isso que eles se juntariam a alguém para empacotar.”
A Highland, que supervisiona US$ 17 bilhões em empréstimos alavancados e foi fundada por Dondero e Mark Okada em 1993, era a maior gestora dos chamados collateralized loan obligations, ou CLO, dos Estados Unidos por volume em dólares em 31 de agosto, de acordo com a Moody’s Investors Service. Os CLO são uma espécie de dívida garantida por ativos que reúnem empréstimos de alto rendimento e alto risco que depois são divididos em papéis de risco e retorno variáveis.
A Highland disse em seu website que estabeleceu uma gestora de ativos em São Paulo chamada Highland Brasilinvest Gestora de Recursos em parceria com o Grupo Brasilinvest, fundado por Mario Garnero. Iniciado em 1975 na posição de primeira agência privada de desenvolvimento do País, o Brasilinvest concluiu mais de US$ 4 bilhões em transações, segundo o website.
FIDC
A empresa também está formando três FIDC, cada um com um volume entre R$ 350 milhões e R$ 400 milhões, disseram as pessoas. A Highland está captando para um fundo separado, que não utiliza alavancagem e não é securitizado, para investir nos três FIDC.
O fundo também pode investir em ativos que não são securitizados, de acordo com as pessoas. Os fundos podem ter fechamento inicial já no primeiro trimestre do ano que vem.
“Recentemente tem havido muito interesse por parte das instituições financeiras em explorar” o mercado de FIDC, disse Johann Grieneisen, analista sênior da Moody’s em São Paulo, em entrevista por telefone.
A Quatá Investimentos não retornou um telefonema pedindo comentários. A Plural Capital negou-se a fazer comentários, segundo representante da assessoria de imprensa externa da empresa que não pode ser identificado em obediência às políticas internas. O Banco Central disse em comunicado por e-mail que não comentaria o assunto.
Estratégia do Banco Pine
Plural Capital, Banco Pine e Quatá Investimentos vão coinvestir em 50 por cento das dívidas de mezanino e subordinadas dos FIDC da Highland, e o fundo master da Highland terá os 50 por cento restantes e a maioria das partes sênior, disseram as pessoas. As dívidas remanescentes poderão ser negociadas com investidores brasileiros e estrangeiros, disseram as pessoas.
“Vemos cada vez mais demanda de fundos especializados nos EUA e na Europa por investimentos em crédito no Brasil”, disse Norberto Zaiet, diretor de relações com investidores do Banco Pine, em entrevista por telefone. “Temos sentido uma demanda desse pessoal, eles querem entender mais o mercado de credito no Brasil e participar dele.”
O Banco Pine levantou US$ 37,5 milhões junto a investidores internacionais, disse Zaiet.