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Keynes, Hayek e a briga do BCE pelo juro baixo no mercado

Mario Draghi age corretamente ao intervir no mercado? Segundo um estudo, isso depende de qual dos dois famosos economistas está certo

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2012 às 11h36.

São Paulo – A crise financeira internacional criou coisas muito fora do comum. A principal mesmo, que deu as caras logo no início dela e que ainda atormenta investidores e bancos centrais por aí, é o descasamento entre os preços dos ativos financeiros e os fundamentos das empresas (países, commodities, etc) que representam em qualquer bolsa do mundo. E essa distorção aproximou também a teoria de dois importantes economistas sempre lembrados em momentos de crise: John Maynard Keynes - economista britânico famoso defensor do estado intervencionista - e, no outro, Friedrich Hayek – economista austríaco pensador do livre mercado.

No estudo “Expectations and asset prices: Keynes meets Hayek”, os economistas e pesquisadores Giovanni Cespa e Xavier Vives trazem a discussão para avaliar a atuação do Banco Central Europeu nos mercados secundários de títulos das dívidas dos países europeus. As compras do BCE visam baixar o juro pago pelos países emissores por conta da crença de que eles escapam à realidade daqueles países.

Em “A Teoria Geral”, Keynes separava a atividade de projetar juros de papéis de longo prazo da especulação de curto prazo de bolsa. Hayek, por sua vez, acreditava que os preços do mercado agregam e organizam as informações dispersas na economia. Cespa e Vives ressaltam que o consenso muitas vezes foge do fundamento, levando consigo os preços. Isso acontece porque as informações não são homogêneas aos investidores e uma tendência que persegue o consenso é criada.

O consenso e os preços

Em um ambiente fixo, os investidores especulam as diferenças entre o preço e o valor fundamental dos ativos e os preços estão alinhados com a média das expectativas desse valor ( consenso). Ou seja, é o momento no qual “investidores racionais” não têm incentivos para especular preços no curto prazo. “Em um mercado dinâmico, os investidores especulam também as diferenças de curto prazo dos preços. As informações heterogêneas podem desalinhar os preços e a média das expectativas, potencialmente levando os preços para próximo ou distante do fundamento comparado ao consenso”, pontuam.


Dois parâmetros são importantes e apontam quando os preços projetam os fundamentos ou o consenso. O primeiro é o nível de incerteza deixado na mesa após a análise das informações disponíveis e o segundo é o nível da liquidez dos negócios. Quando não há incerteza e a liquidez não aponta uma tendência, então os preços estão alinhados ao consenso, como num ambiente fixo. Entretanto, para um nível positivo de incerteza, a baixa liquidez deteriora o poder de projeção dos preços em relação ao consenso; já a alta liquidez tem o efeito contrário.

Keynes e Hayek

Segundo os autores, isso leva a criação de duas regiões. A primeira (Keynesiana) onde os preços estão mais distantes dos fundamentos do que das expectativas médias e a segunda (Hayekiana) onde o oposto acontece. A fronteira das duas reflete a situação Keynesiana onde os investidores se concentram em perspectivas de longo prazo. Nela, a especulação de curto prazo sem tendência predomina, enquanto na Hayekiana a especulação de curto prazo baseada em informações predomina.

Ou seja, se estiver em uma região Keynesiana, então Mário Draghi – presidente do BCE – pode estar correto ao intervir porque acredita que os preços estão distantes do fundamento comparado às estimativas consensuais (de curto prazo) e a liquidez não aponta uma tendência de consenso mais perto à do fundamento.

Entretanto, se estivermos numa região Hayekiana, as estimativas de consenso estão mais longe dos fundamentos do que os preços, então a intervenção não é justificada. Ou seja, os preços podem estar perto do fundamento com a atuação do BCE, mas o consenso baseado em informações continuará longe e a puxar os preços para ele.

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