Carlos Takahashi, CEO da BlakRock no Brasil: momento é decisivo para as organizações (Edu Monteiro/EXAME.com/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 8 de abril de 2020 às 13h30.
Última atualização em 9 de abril de 2020 às 19h07.
A crise provocada pelo novo coronavírus expôs uma série de questões importantes para a humanidade. A falta de atendimento básico de saúde e a fragilidade de alguns territórios ficaram evidentes. A queda na poluição em função da quarentena revela o impacto ambiental da atividade econômica. “Tudo fica mais transparente em momentos de crise”, afirma Carlos Takahashi, presidente da gestora de ativos BlackRock no Brasil.
Para as organizações, o momento é decisivo. Segundo Takahashi, passada a pandemia, a sociedade vai demandar mais responsabilidade e os padrões de atuação empresarial vão mudar. Como consequência, ele prevê uma nova precificação de ativos. “Esse evento deixou muito claro a importância de se olhar para o longo prazo”, afirma o executivo.
Maior gestora de ativos do mundo, com uma carteira de quase 7 trilhões de dólares, a BlackRock é uma das organizações mais ativas na disseminação do chamado capitalismo de stakeholder, modelo de gestão de empresas que coloca o impacto gerado pelas companhias à frente do lucro. Para os defensores desse novo capitalismo, o resultado financeiro é apenas a consequência de uma boa gestão e, para obtê-lo, as empresas devem atuar com base em um propósito, que é a sua razão de existir.
Takahashi acredita que esse movimento em direção a um novo capitalismo irá se intensificar por conta da pandemia. “Tanto que nosso CEO, Larry Fink, reescreveu sua carta anual aos investidores”, afirma. Em janeiro deste ano, em seu comunicado aos investidores, Fink fez compromissos importantes, como o de desinvestir em setores intensivos em carbono, a exemplo da indústria de carvão térmico. No final de março, ele publicou um novo texto, em que praticamente dobra a aposta na análise sustentável das empresas. “Quando emergirmos dessa crise, e à medida que os gestores reequlibrem seus portfólios, teremos a oportunidade de acelerar a transição para um mundo mais sustentável”, afirmou Fink.
A tecnologia ajudará nesse processo. A BlackRock utiliza um sistema proprietário de análise de riscos e construção de portfólios chamado Aladdin. Este ano, a gestora finalizou uma atualização no sistema para incluir métricas de ESG (sigla para meio ambiente, social e governança), transversalmente, em todas as suas análises. O ESG estabelece padrões mensuráveis de gestão sustentável. É a versão financeira do capitalismo de stakeholder.
Se, por um lado, o novo capitalismo demanda um pensamento de longo prazo, a severidade da crise exige medidas emergenciais. “Eu comparo a economia brasileira, neste momento, a um paciente na UTI”, diz Takahashi. “Ele precisa de acompanhamento intensivo, o que significa tomar decisões diariamente”. Para o executivo, o conjunto de medidas anunciado pelo Ministério da Economia e pelo Banco Central é bastante razoável e, se o Brasil se comunicar bem com o mercado, os investidores vão retornar. “O País vinha em uma boa trajetória, apesar de alguns atrasos nas reformas e do crescimento decepcionante em 2019”, afirma. “Se o governo conseguir comunicar bem as ações que estão sendo tomadas e as que virão, o ambiente será positivo”.
O cenário externo será complexo, no entanto. Desde o início da crise, os mercados emergentes sofreram a maior fuga de capitais da história, com os investidores buscando mais segurança, em vez de rentabilidade. Após a pandemia, todos os países estarão preocupados em reconstruir a própria economia, o que implica olhar mais para dentro, algo que o Brasil também terá de fazer.
A recuperação promoverá três agendas concomitantes: a de esforços emergenciais de contenção da crise, voltada para o social; medidas mais amplas de retomada, focadas na reconstrução econômica; e a agenda empresarial, concentrada no desenvolvimento de uma nova maneira de atuar perante a sociedade. “As três se conversam e têm como fio condutor a sustentabilidade”, define Takahashi.