Haddad: presidenciável deve indicar nomes ao governo que agradem ao mercado (Werther Santana/Estadão Conteúdo)
Karla Mamona
Publicado em 28 de setembro de 2018 às 14h19.
São Paulo – A tentativa de aproximação de Fernando Haddad, candidato do PT à presidência, com o mercado financeiro está se mostrando difícil.
Nos bastidores da campanha, o presidenciável tem se encontrado com economistas, gestores e analistas e afirmado que está comprometido com o equilíbrio das contas públicas.
Em café da manhã com o economista André Perfeito, da Spinelli Corretora, ele afirmou, segundo Perfeito, que irá fazer um ajuste fiscal e alguma reforma da previdência.
A iniciativa de tentar uma estratégia mais “paz e amor” com o mercado tem dividido os investidores.
“Uma parte do mercado ficou mais calma, por isso, a volatilidade da bolsa e do dólar diminuiu um pouco, mas acho que é uma visão muito otimista”, diz um gestor. “Faltam detalhes para saber se Haddad está mesmo comprometido com o ajuste fiscal.”
O problema é que o tom da conversa com o mercado financeiro é bem diferente do adotado publicamente até agora.
No início do mês, Haddad disse a jornalistas que, se eleito, revogaria o teto de gastos aprovado pelo governo de Michel Temer. No plano de governo, ele e sua equipe afirmam que é necessário aumentar gastos públicos no curto prazo para fazer a economia crescer, o que equilibraria as contas no futuro (leia mais na revista EXAME desta quinzena).
O risco, na visão de uma parcela dos profissionais do mercado financeiro, é uma repetição das dificuldades do governo Dilma Rousseff – por um lado, ela sabia que precisava equilibrar as contas; por outro, insistiu na agenda intervencionista.
“Existe um risco de o governo ser instável como o de Dilma, de a articulação com o Congresso ser complicada”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futuro Investimentos.
Hoje, logo na abertura, a bolsa registrava queda de mais de 1% e o dólar voltou a subir operando na casa dos 4 reais.
Um dos principais motivos foi a divulgação da pesquisa eleitoral da XP /Ipespe que mostrou que Jair Bolsonaro (PSL) segue na liderança com 28% das intenções de voto seguido por Fernando Haddad (PT) com 21%.Em um eventual segundo turno, Haddad teria 43% dos votos contra 39% de Bolsonaro.
Os investidores esperam que a postura e os planos de Haddad fiquem mais concretos num eventual segundo turno.
Também especulam sobre quem poderia ocupar cargos se ele vencer as eleições. Uma aposta era que Marcos Lisboa, presidente da escola de negócios Insper, poderia assumir o Ministério da Fazenda, mas ele negou.
Ontem, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn foi questionado sobre uma possível permanência no cargo no próximo governo. E afirmou que não comentará sobre convites e campanha eleitoral.
Disse ainda, segundo à Agência Reuters, que não se manifesta sobre qualquer proposta dos candidatos à Presidência, pois não quer o BC se posicionando a favor ou contra.