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Inflação, dólar, petróleo: entenda o impacto da guerra Israel-Hamas no mercado

Temores de que uma escalada no conflito entre Israel o Hamas respingue em vizinhos alimenta a aversão ao risco dos investidores

Israel x Hamas: mercado financeiro teme que conflitos escalem no Oriente Médio (AFP/AFP)

Israel x Hamas: mercado financeiro teme que conflitos escalem no Oriente Médio (AFP/AFP)

Janize Colaço
Janize Colaço

Repórter de Invest

Publicado em 9 de outubro de 2023 às 10h56.

Última atualização em 9 de outubro de 2023 às 17h46.

Esta segunda-feira, 9, estava marcada para ser um dia ‘morno’ para o mercado financeiro. Com o feriado de Columbus Day, nos Estados Unidos, a expectativa era de um dia sem grandes movimentações nos mercados globais. Os rumos mudaram há três dias, quando no sábado, 7, o grupo extremista Hamas deu início aos ataques em Israel

O dia começa agitado nos principais índices globais, com os temores de que uma escalada no conflito entre as duas nações respingue em vizinhos. Vale lembrar que a geopolítica do Oriente Médio é marcada por conflitos árabes-israelenses desde o fim da década de 1940, com a fundação do Estado de Israel pela Organização das Nações Unidas (ONU)

“Tudo indica que o conflito será prolongado e, mais uma vez, sem solução. Afinal é impensável que Israel simplesmente destrua toda a Faixa de Gaza. Contudo, o que me preocupa por ora é a reação internacional aos eventos”, alerta o economista André Perfeito. Segundo ele, entrando apenas nos aspectos econômicos e de mercado, a guerra Israel-Hamas pode trazer os seguintes cenários:

  1. conflito longo;
  2. foco saindo da Ucrânia e migrando para o Oriente Médio;
  3. os EUA irão ajudar Israel, e Rússia e Irã serão responsabilizados  — "lembrando que o Irã faz parte dos BRICS agora, e que o Brasil é presidente do Conselho de Segurança da ONU", aponta.

Envolvimento do Irã e disparada do petróleo

A primeira reação imediata do mercado ante ao conflito entre israelenses e o Hamas foi na cotação do petróleo. Um dos principais produtores da matéria-prima é o Irã, que é uma das nações aliadas do Estado da Palestina. A deflagração dos ataques foi comemorada no país, além do presidente, Ebrahim Rais, ter classificado a situação como “legítima defesa” dos palestinos. Apesar disso, nesta segunda, a missão do Irã na ONU negou envolvimento no ataque do grupo extremista.

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Em meio a essas incertezas, a cotação do petróleo no mercado internacional disparou. O barril do Brent opera com alta de 3,8%, a US$ 87,83, enquanto o WTI sobe 4,14%, a US$ 86,16. “São países situados em uma região produtora dessa matéria-prima, então qualquer tensão por lá tem risco de fornecimento para outras regiões do globo. O gás natural na Europa, por exemplo, já sobe um pouco mais de 10%”, aponta Antonio Kritsinelis Filho, economista da Octante.

Já Hulisses Dias, analista CNPI e mestre em finanças pela Sorbonne, aponta para outro país produtor de petróleo que pode impactar o mercado a depender dos novos rumos da guerra entre Israel e o Hamas: a Arábia Saudita. No domingo, o Ministério das Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, pediu o fim imediato da guerra

Embora por décadas o país tenha apoiado a Palestina, os EUA têm tentado negociar um amplo acordo para que a Arábia Saudita concorde em reconhecer diplomaticamente Israel. “Países envolvidos, como a Arábia Saudita, são grandes produtores de petróleo podem aumentar ou até diminuir a quantidade de produção e exportação conforme seus interesses”, afirma.

Inflação fora de controle e fuga ao risco

O economista André Perfeito diz achar pouco provável que a guerra entre Israel e o Hamas se alastre pelos país do Oriente Médio, mas, ainda assim, a situação irá reforçar a aversão ao risco pelo qual os mercados globais enfrentam nas últimas semanas. “Só a possibilidade disso acontecer já mostra que a preferência pela liquidez dos agentes deve subir fazendo que ativos livres de risco subam, como é o caso do dólar”, frisa.

É sob esse cenário que o índice DXY opera com ganhos nesta segunda, acumulando uma alta de 0,18%. “O processo de globalização tende a ser interrompido, com ainda mais intensidade no caso de uma guerra. Isso naturalmente faz a inflação subir, somado ao fato de uma provável alta do petróleo”, explica Hulisses Dias. A busca pela moeda americana, segundo o analista, deve-se à sua segurança e rentabilidade.

Outro ativo de segurança que deve disparar são os treasuries americanos, que como lembra Antonio Kritsinelis Filho, não estão sendo negociados hoje por conta do feriado por lá. “Mas temos o derivativo, que já está fechando por volta dos seis e sete pontos, em linha com os bonds europeus.”

Desdobramentos ao investidor brasileiro

Para o economista André Perfeito, olhando para o médio prazo, a situação geopolítica entre israelenses e palestinos pode não ser necessariamente ruim para o Brasil. “A depender de como o Itamaraty conduzirá a crise internacional, o Brasil pode se manter como um lugar ‘suficientemente distante’ de todo esse ‘ruído’”, diz.

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Em relação ao mercado financeiro, Antonio Kritsinelis Filho, economista da Octante, pontua que os investidores devem ficar atentos aos próximos movimentos dos EUA, Rússia e China. Ele cita, por exemplo, que o país americano colocou um limite de compra do petróleo russo a US$ 60, o que acaba afetando a cotação da matéria-prima e a inflação global. 

“Além disso, o tesouro dos EUA anunciou ontem, 8, novas condições para algumas empresas chinesas, então talvez volte aquelas restrições até pelos polos opostos que cada país está em relação a geopolítica global e, por conseguinte, às dinâmicas no Oriente Médio."

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