Dólares: gigantesco mercado de divisas movimenta quase 5,3 trilhões de dólares em transações diárias (Karen Bleier/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de novembro de 2014 às 17h14.
Londres e Washington anunciaram nesta quarta-feira multas de 3,2 bilhões de dólares a cinco grandes bancos internacionais por manipulação do mercado de divisas, em um novo passo da grande limpeza do sistema financeiro iniciada após a recente crise.
Os bancos multados são os britânicos HSBC e RBS, os americanos Citibank e JP Morgan Chase, Bank of America e o suíço UBS.
Os cinco já haviam sido punidos pela manipulação da taxa de empréstimos interbancários Líbor e enfrentam outras acusações, como suspeitas de fraude fiscal.
A Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (FCA) impôs a cada um dos bancos uma multa de 310 milhões de dólares.
A Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC) americana anunciou uma multa de pelo menos 275 milhões de dólares para cada banco.
Outro organismo regulador bancário americano, o OCC, impos uma multa de 950 milhões de dólares ao bancos JP Morgan, Citigroup e Bank of America.
Os bancos foram multados, entre outras acusações, por tentativa de modificar uma taxa de referência.
A FCA afirma que os cinco bancos "não controlaram corretamente suas operações de câmbio de divisas do G10", um painel que inclui as 10 moedas mais utilizadas no mundo.
"As infrações dos bancos abalam a confiança no sistema financeiro britânico e o colocam em perigo", afirma um comunicado da FCA.
A nota destaca que a má conduta foi registrada do início de 2008 até o fim de 2013.
As multas são parte de uma solução negociada pelas agências reguladoras britânica e americana com seis bancos: os cinco multados e o Barclays.
O Barclays, britânico, anunciou que deseja alcançar uma solução mais coordenada em nível internacional. O banco destacou que continua negociando com a FCA e a CFTC para obter um acordo global.
O gigantesco mercado de divisas movimenta quase 5,3 trilhões de dólares em transações diárias, sendo que 40% da quantia passa pela City (a praça financeira) de Londres.
Como consequência, a mínima alteração nas regras de boa conduta gera um efeito de bola de neve financeira.
"Hoje adotamos medidas severas para acabar com a corrupção de alguns, de maneira que o sistema financeiro funcione bem para todos", celebrou o ministro britânico das Finanças, George Osborne, que disse estar decidido a "consertar o que funciona de maneira equivocada nos bancos".
Escândalos sem fim
O diretor geral da FCA, Martin Wheatley, declarou à BBC Radio 4 que este é um assunto muito grave.
"É grave porque é necessário que o público tenha confiança nos serviços financeiros e nos bancos que os oferecem, mas estes últimos falharam".
"E não é a primeira vez, pois vimos isto com a Líbor há dois anos", recordou Wheatley, apelando aos bancos por uma "mudança de cultura e das práticas de remuneração", com a advertência de que os responsáveis por práticas criminosas serão levados a julgamento.
Sete grupos financeiros foram punidos pela manipulação da taxa Libor.
A investigação das práticas ruins "responde ao desejo das autoridades de serem um pouco mais firmes com os delitos do setor bancário", responsável em parte pela grande crise financeira de 2007-2008, explicou recentemente à AFP Christopher Dembick, economista do Saxo Bank.
"Isto passa pela regulamentação Basileia III", completou, a respeito do novo marco regulatório internacional dos bancos.
"Mas também por uma atenção particular à maneira de funcionar cotidiana dos bancos", destacou.
Nos Estados Unidos, as ações das autoridades acontecem no momento em que os bancos começam a deixar para trás os problemas provocados pelos créditos imobiliários "subprime", que resultaram em uma multa de 13 bilhões de dólares ao JPMorgan, por exemplo.
No Reino Unido, os bancos enfrentam o escândalo e as consequências judiciais dos PPI (Payment Protection Insurance), seguros contra a falta de pagamento de créditos que eram impostos aos clientes como se fossem obrigatórios.
Apenas o Lloyds, por exemplo, destinou 11,3 bilhões de libras (18 bilhões de dólares) de suas contas para cobrir os custos dos casos.