Uber: IPO está previsto para ocorrer na sexta-feira (Germano Lüders/Exame)
Karla Mamona
Publicado em 7 de maio de 2019 às 11h01.
(Bloomberg) -- O Goldman Sachs perdeu a chance de coordenar um dos maiores IPOs dos últimos anos: o da Uber Technologies.
O consolo: uma bolada de US$ 600 milhões a partir de uma aposta de somente US$ 5 milhões que os banqueiros do Goldman fizeram com o dinheiro da própria empresa em 2011, apenas um ano depois da Uber ter começado a operar no mercado de transporte urbano.
Como o Goldman perdeu a preferência da Uber, a startup da década, para o Morgan Stanley é apenas a mais recente disputa de uma longa rivalidade. Mas como o Goldman está conseguindo ganhar dinheiro da mesma forma é outra história.
A situação deixa os banidos do Goldman na rara posição de torcer por seu tradicional inimigo. Se o Morgan Stanley conseguir promover bem a ação e atingir o piso superior da faixa de preço da Uber, o ganho do Goldman será de 12.000%.
Foi uma aposta com poucas chances de dar certo que envolveu os principais executivos da empresa, algumas brigas internas e pelo menos um cético - David Solomon, segundo uma pessoa envolvida na decisão. No começo, o executivo não estava convencido, mas acabou apoiando o negócio.
"Lembro que muitas pessoas pensaram que não era um bom investimento - um fenômeno localizado, de curta duração", disse Gary Cohn, ex-presidente do Goldman, referindo-se à decisão de apostar na Uber.
“Definitivamente, havia pessoas que não compravam a ideia. Reforcei o compromisso de capital através da empresa."
Cohn não identificou os que se posicionaram contra o investimento, mas disse que o desacordo era sinal de boa "due diligence". O ganho do Goldman estimado em US$ 600 milhões é calculado com base no provável valuation de 10 milhões de ações que o banco ainda possui, combinado com os lucros que já obteve em uma venda de ações para o SoftBank.
Nos anos após a crise financeira, Solomon - então codiretor do banco de investimentos do Goldman, e agora diretor-presidente da empresa - defendeu a criação de um fundo que impulsionou o investimento na Uber, segundo Gregg Lemkau, que comandou a unidade de tecnologia, mídia e telecomunicações na época e agora lidera a divisão do banco de investimento da empresa.
O fundo tinha uma quantia de capital próprio do banco para que fosse investida em startups promissoras. A ideia: aplicar o dinheiro em empresas novatas e esperar que seu crescimento simultaneamente trouxesse lucros e melhorasse as credenciais do banco de Wall Street para mandatos de banco de investimentos.
Durante a ascensão da Uber, a atuação do Morgan Stanley não era tão evidente, com exceção de medidas sutis como a decisão de permitir que funcionários do banco pudessem pedir reembolso das despesas com corridas da Uber.
Uma sequência de eventos por volta de 2016 começou a mudar esse quadro, enfraquecendo a posição do Goldman.
Semanas após a eleição de Donald Trump em 2016, Cohn saiu para formar parte da equipe da Casa Branca. No ano seguinte, o alto comando da Uber foi trocado, após alegações de comportamento grosseiro e cultura tóxica no local de trabalho.
O Morgan Stanley continuou estreitando o contato, coordenando colocações privadas e ofertas de dívida. Michael Grimes, que faz parte do alto escalão do Morgan Stanley, até mesmo trabalhou como motorista da Uber. E, como um dos principais subscritores de IPOs de tecnologia de Wall Street, o Morgan Stanley foi uma escolha segura para o conselho da Uber, quando a empresa sentiu que estava preparada para a oferta.
Um representante da Uber não quis comentar.