A queda de rentabilidade está forçando a Gol a reduzir suas tarifas em um momento em que seus custos operacionais estão aumentando (Divulgação/EXAME)
Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2012 às 09h20.
Nova York - Os títulos da dívida da Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA estão registrando a maior queda em seis meses depois que a decepção com os resultados do quarto trimestre levou Standard & Poor’s e Fitch Ratings a rebaixar as notas de crédito da companhia.
O rendimento dos títulos de dívida em dólar da Gol com vencimento em 2020 disparou 54 pontos-base na semana passada, para 9,55 por cento, na maior alta desde o período encerrado em 6 de outubro, segundo dados compilados pela Bloomberg. O custo médio de captação de empresas da América Latina com nota B pela S&P subiu 24 pontos-base, ou 0,24 ponto percentual, no mesmo período, para 10,52 por cento, segundo dados do Credit Suisse Group AG.
Os investidores estão menos confiantes na Gol depois que a alta dos preços de combustíveis e o aumento da concorrência no País levaram a uma queda de 59 por cento no lucro líquido do quarto trimestre. A S&P cortou a nota da Gol em um nível, no dia 4 de abril, para B+, quatro abaixo de grau de investimento, um dia após a Fitch também rebaixar a empresa. A queda de rentabilidade está forçando a Gol a reduzir suas tarifas em um momento em que seus custos operacionais estão aumentando. A aérea deve cortar 80 de 900 voos diários no fim do mês.
“Mais rebaixamentos estão no horizonte”, disse Roger King, analista na CreditSights Inc., em entrevista por telefone, de Nova York. “As companhias áreas brasileiras menores representam hoje 26 por cento do mercado doméstico, que é onde a Gol opera. Não costumava haver ninguém pequeno ali.”
Os bônus da Gol pagam 632 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro de prazo similar, comparado a uma diferença de 585 há uma semana, de acordo com dados da Bloomberg. A classificação de risco da empresa, B+, é cinco níveis inferior à nota soberana.
Custo de combustível
A empresa informou em 27 de março que o lucro líquido desabou para R$ 54,3 milhões no quarto trimestre, enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização caiu 75 por cento para R$ 83,2 milhões. Os custos e despesas operacionais da Gol deram um salto de 41 por cento em relação a um ano antes para R$ 2,27 bilhões. A despesa com combustível, que representa 40,4 por cento do custo operacional, disparou 56,6 por cento para R$ 915 milhões.
A cotação do petróleo avançou 4,53 por cento este ano, diante de especulações de que sanções com o objetivo de interromper o programa nuclear do Irã vão prejudicar os embarques no Oriente Médio.
Aproximadamente 83 por cento da dívida da Gol e mais da metade das despesas, incluindo combustível e leasing de aeronaves, são denominados em dólar, enquanto a maior parte dos recebíveis é denominada em reais. O governo tenta enfraquecer o real, que voltou a mostrar força no começo deste ano, após uma desvalorização de 11 por cento em 2011. O Brasil também tomará mais medidas, conforme necessário, para depreciar a moeda, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em 3 de abril.
‘Nova realidade’
A Gol pretende limitar o crescimento da capacidade em 2012, como parte de uma estratégia para elevar os preços das passagens e a lucratividade, disse o presidente Constantino de Oliveira Jr. em 27 de março, durante a teleconferência para discutir o balanço da companhia.
A empresa tem uma meta conjunta de crescimento zero em 2012 e pode até registrar queda, disse Oliveira Jr. Segundo ele, o atual cenário macroeconômico, junto com a redução no número de voos, vai levar a Gol a ajustar sua estrutura de custos a essa nova realidade.
Um representante de uma assessoria de imprensa externa contratada pela Gol se recusou a fazer comentários para esta reportagem.
‘Margens negativas’
A Fitch rebaixou a classificação de risco da Gol para B+ em 3 de abril, citando a deterioração da geração de fluxo de caixa e o estreitamento de margens devido ao aumento da concorrência. O custo médio das passagens aéreas caiu no ano passado para o menor nível desde o início da série histórica em 2002, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil.
“Os investidores sempre mencionam que existe tráfego crescente no mercado brasileiro, e isso é verdade: a demanda está crescendo e vai continuar crescendo”, José Vertiz, analista da Fitch, disse em entrevista por telefone. “Mas mais tráfego não significa mais geração de fluxo de caixa. A Gol precisa ter um melhor equilíbrio entre receitas e custos. Você pode ter muita gente viajando, mas com preços menores e custos maiores, as margens ficam negativas.”
A Moody’s colocou a nota da Gol em perspectiva negativa em 14 de fevereiro, após rebaixar a nota de Ba3 para B1 em agosto. Todas as três principais agências de classificação de risco têm perspectiva negativa para a Gol.
Possível melhora
Para Luciano Campos, analista do HSBC Bank Brasil, os lucros da Gol podem melhorar à medida que os preços das passagens subirem. O preço médio pago por passageiro por quilômetro voado, medida conhecida no mercado aéreo como yield, aumentou 9 por cento em fevereiro, informou a Gol em 15 de março.
“Existem duas coisas para se monitorar que podem levar à recuperação para a Gol”, disse Campos em entrevista por telefone de São Paulo. “Uma seria a resolução da crise de petróleo envolvendo o Irã, que é imprevisível, e a outra seria uma diminuição da sensibilidade dos consumidores brasileiros a preço.”