Felipe Mattar, CIO e gestor de portfólio da Atmosphere Capital | Foto: Divulgação (Atmosphere Capital/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 14 de dezembro de 2021 às 06h35.
O ano de 2021 foi de fortes ganhos para as ações listadas nos Estados Unidos. O S&P 500, índice mais representativo de todos os setores, acumula alta de 24% no ano. Os papéis surfaram a alta impulsionada por um cenário de juros baixos, fortes estímulos monetários e recuperação econômica com o avanço da vacinação para covid. Para o próximo ano, no entanto, o Fed (banco central americano) se prepara para apertar a política monetária, abrindo espaço para subir a taxa básica de juros – que está estacionada no intervalo entre zero e 0,25% desde o início da pandemia.
Para Felipe Mattar, CIO e gestor de portfólio da gestora Atmosphere Capital, os investidores devem se acostumar com períodos intensos de volatilidade no próximo ano. “O mercado deve ficar extremamente volátil porque ainda tem muita rotação setorial para acontecer”, afirma Mattar em entrevista à EXAME Invest.
O gestor estima que o S&P 500, que engloba 500 das principais empresas da economia americana, suba entre 5% e 10% no próximo ano – ainda um percentual considerável, mas bem abaixo da alta acumulada neste ano.
A expectativa é que o cenário mais desafiador em 2022 fortaleça a estratégia da gestora, que, atualmente, possui apenas um fundo em operação no mercado, o Atmosphere Global Total Return.
O produto procura replicar no Brasil a estratégia de um hedge fund, um fundo que pode tomar posições mais arriscadas e manter estratégias descorrelacionadas de seus indicadores de referência. Tanto é que os setores preferidos da gestora representam apenas ⅓ das ações do S&P.
São eles: infraestrutura, bens de capital, energia, commodities, agricultura, energia limpa e biocombustíveis. E é justamente essa descorrelação que pode favorecer o fundo da Atmosphere em 2022.
“A bolsa americana continua atrativa, mas está perdendo fôlego. Isso tende a redirecionar uma parte do capital de quem quer investir no exterior para estratégias descorrelacionadas ao S&P 500 e a outros benchmarks. E essa é uma estratégia que não costuma estar disponível no mercado brasileiro”, afirma.
Por aqui, os hedge funds são comparados aos fundos multimercados, que ainda estão muito presos aos índices de referência, na visão do gestor.
Foi a busca por um produto similar aos hedge funds estrangeiros que levou Mattar, ex-head de research do Goldman Sachs para a América Latina, a se unir a outros veteranos do mercado para criar a Atmosphere em 2017. No ano seguinte, a gestora colocou em operação seu fundo proprietário, testando a estratégia com o capital dos sócios antes de abrir para captação de clientes. É um processo que começou apenas em outubro deste ano.
Em alocação de capital, a principal estratégia da gestora é apostar em setores que possam se fortalecer mesmo com os juros em alta – entre eles, infraestrutura, por exemplo. De forma geral, todas as ações sofrem com a queda de liquidez do mercado, porém, na visão de Mattar, existe um fator que pode contrabalancear a perda: o pacote trilionário de infraestrutura aprovado pelo governo de Joe Biden.
O pacote de recuperação econômica dos Estados Unidos deve investir 1,2 trilhão de dólares no processo de reconstrução da infraestrutura do país, incentivando a adoção de soluções verdes. De olho na mudança, a Atmosphere investe 30% de seu portfólio em economia circular.
“Os setores de saneamento básico e de tratamento de resíduos, por exemplo, estão em franca consolidação nos EUA. Em saneamento, o setor é ainda bastante descentralizado, no qual as as maiores empresas detêm, juntas, apenas 9% do mercado”, afirma Mattar.
O objetivo do fundo é capturar boas teses de crescimento, de 10% a 15% ao ano, e não aquelas empresas que prometem um super crescimento de 100% ao ano. Até mesmo porque essas tendem a ser as principais prejudicadas em um cenário de alta nas taxas de juros.
Mattar reforça, no entanto, que o ajuste nos juros não deve impactar a bolsa americana da forma como estamos acostumados a ver no Brasil, em que a Selic deve chegar aos dois dígitos no início de 2022. “Nos EUA, estamos falando de uma alta para patamares de menos de 2%. Vai continuar sendo um mercado extremamente líquido”, diz.