Gerdau: companhia diz que falta de isonomia no Brasil pode impactar investimentos aqui (Germano Lüders/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 16h24.
A decisão do governo dos Estados Unidos de sobretaxar as importações de aço em 25% abre caminho para a Gerdau (GGBR3, GGBR4)) ampliar sua produção local e diluir custos operacionais, mas também leva a siderúrgica a repensar investimentos planejados para o México.
Com 93% de sua produção na América do Norte concentrada nos EUA, a companhia espera elevar o uso de suas plantas e melhorar a rentabilidade. No entanto, as operações no Canadá e no México, que representam 7% da produção regional, podem ser impactadas negativamente. As declarações foram feitas pelo CEO Gustavo Werneck e pelo CFO Rafael Japour em entrevista após a divulgação do balanço do quarto trimestre da companhia.
No período, a Gerdau registrou um lucro líquido ajustado de R$ 666 milhões, uma queda de 9% em relação ao mesmo trimestre de 2023 e de 53,5% ante o terceiro trimestre de 2024. Já o Ebitda ajustado foi de R$ 2,391 bilhões, uma alta de 17,2% na comparação anual.
A receita líquida atingiu R$ 16,822 bilhões, um crescimento de 14,3% na mesma base. As vendas de aço somaram 2,719 milhões de toneladas, um aumento de 2,4% frente ao quarto trimestre de 2023.
“Essas tarifas de defesa comercial nos favorecem porque podemos utilizar mais nossos ativos e diluir nossos custos, aumentando nossa competitividade”, afirmou Werneck durante a entrevista.
Segundo o executivo, os laminadores da empresa nos EUA operam com cerca de 70% de sua capacidade, deixando uma margem de 30% para absorver nova demanda sem investimentos adicionais.
O Itaú BBA classificou os resultados da Gerdau como "neutros", destacando que o Ebitda veio dentro da expectativa do banco e 3% acima do consenso de mercado. A análise ressalta que, apesar da deterioração sequencial das margens devido à sazonalidade de fim de ano, o ambiente operacional nos EUA está melhorando, com maiores volumes e menores custos de manutenção.
Já o Goldman Sachs avaliou que os números foram "marginalmente melhores do que o esperado", mas ressaltou as incertezas elevadas para 2025, especialmente em relação à pressão sobre os preços no Brasil e ao impacto das tarifas nos EUA.
O banco americano vê a recuperação no mercado americano como um fator positivo, mas alerta para o alto nível de investimentos da empresa e a necessidade de uma melhor estrutura de capital. Perto das 16h, as ações da Gerdau caíam 4,26%, para R$ 16,62.
Revisão de investimentos no México e impacto nas operações fora dos EUA
Diante das mudanças no cenário tarifário, a Gerdau decidiu reavaliar sua estratégia de expansão no México. O projeto de uma nova planta de aços especiais, estimado entre US$ 500 e US$ 600 milhões, está sendo analisado, com uma decisão final prevista para julho.
“Estamos estudando as condições para garantir que tomamos a melhor decisão. O novo cenário pode tornar mais vantajoso aumentar a capacidade em nossas unidades nos Estados Unidos”, disse Werneck.
As exportações das plantas canadenses e mexicanas para os EUA representam cerca de 7% do volume da empresa na região. Caso as tarifas sejam aplicadas a esses mercados, a Gerdau pode enfrentar desafios na manutenção desses fluxos comerciais.
“Ainda estamos avaliando os impactos, mas é uma parcela menor do nosso negócio. O principal ponto positivo para nós é a maior defesa comercial nos EUA”, destacou o CFO Rafael Japour.
Perspectivas para a indústria do aço nos EUA
Com a política de defesa comercial mais rigorosa nos Estados Unidos, a expectativa é que o mercado de aço no país se fortaleça. A empresa acredita que o crescimento da demanda virá de setores como energia renovável, data centers e infraestrutura.
“Estamos observando um aumento da demanda, e nossos laminadores têm capacidade para atender essa expansão”, afirmou Werneck.
Além disso, a siderúrgica avalia que a principal vantagem econômica não virá do aumento direto nos preços do aço, mas da otimização da produção e melhoria na composição de produtos vendidos.
“O ganho virá muito mais da diluição de custos, maior utilização dos ativos e um mix de produtos mais nobres, que nos permite melhorar nossos resultados financeiros”, explicou Japour.
À espera de tarifas também no Brasil
No Brasil, a Gerdau e outras siderúrgicas seguem pressionando o governo por medidas mais eficazes de defesa comercial, semelhantes às implementadas pelos EUA -- um pleito constante nos discursos de Weneck.
“A indústria brasileira é competitiva, mas precisa de condições isonômicas para competir”, ressaltou Werneck, alertando que a falta de medidas pode levar a empresa a repensar o nível de investimentos no país.
Ele destaca que a indústria brasileira é competitiva, mas enfrenta "concorrência desleal", especialmente de produtos importados e defende que o governo federal reveja as cotas e seja mais célere em ações que sobretaxem o aço importado, sobretudo o produto chinês.
Enquanto as tarifas nos EUA representam uma oportunidade para a Gerdau fortalecer sua presença no mercado americano, a empresa segue monitorando os impactos nas operações do Canadá e do México e ajustando sua estratégia de investimentos de acordo com o novo contexto global do setor siderúrgico.