Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 20 de maio de 2022 às 07h20.
Última atualização em 20 de maio de 2022 às 11h48.
Após o começo de ano marcado pela entrada histórica de estrangeiros, agora são os fundos locais que lideram as compras da B3. Investidores institucionais aumentaram em R$ 8,2 bilhões as apostas na bolsa brasileira desde o início do mês. Fundos internacionais tiraram R$ 12,7 bilhões no mesmo período. A quantia já é 65% superior à toda a retirada de abril.
O movimento pode indicar que, para gestores locais, os preços das ações chegaram a patamares convidativos. A melhora da percepção tem ajudado a sustentar a bolsa brasileira neste mês, apesar do cenário ainda caótico no exterior, marcado por lockdowns na China e preocupações cada vez maiores sobre os efeitos recessivos da inflação e altas de juros no mundo.
O Ibovespa tem se mantido praticamente estável em maio, após ter desabado 10,1% em abril, registrando sua maior queda mensal desde março de 2020.
Índices internacionais, no entanto, têm estendido as perdas do mês anterior. O S&P 500 acumula queda de 5,5% em maio e o Nasdaq, de mais de 7%. A performance da bolsa brasileira é melhor até mesmo que a média dos mercados emergentes, representada pelo MSCI Emerging Markets, que já caiu 4% no mês.
Sinais do maior otimismo também se materializam nas reaberturas de grandes fundos que estiveram fechados para captação, como os da Atmos e Dynamo.
"Os preços das ações têm chamado bastante atenção e feito com que gestores aumentem a exposição, reabrindo fundos ou criando produtos específicos", afirmou Pedro Rudge, sócio-fundador e COO da Leblon Equities. Rudge disse que para aproveitar a queda de preços a sua gestora montou um fundo específico para comprar papéis de seis empresas.
"Os preços atuais justificam o risco. Temos eleições em outubro e toda a discussão sobre inflação e guerra na Ucrânia. Isso tudo cria grande volatilidade. Mas, com uma perspectiva de 3 ou 5 anos, parece que o momento é bastante oportuno."
A indústria local, porém, tem trabalhado com recursos limitados diante dos contínuos pedidos de resgate de fundos de ações. A captação líquida segue negativa desde setembro, segundo dados da Anbima.
A maior probabilidade é de que gestores locais estejam usando o caixa feito durante a entrada massiva de estrangeiros no primeiro trimestre.
Enquanto as compras de fundos internacionais ficaram em R$ 65,3 bilhões no período (excluindo a entrada em IPO e follow-on), o resgate de fundos de ações foi de R$ 31,3 bilhões. Mas essa lógica vem se invertendo. A saída de estrangeiros, desde abril, superou os resgates dos fundos de ações, ficando em R$ 20,4 bilhões contra R$ 9,1 bilhões.
Relatório recente do BofA revelou que os gestores globais estão com a menor posição em mercados emergentes desde fevereiro de 2016. Ainda assim, os preços atuais têm encorajado investidores internacionais com horizontes mais longos a aumentarem suas fichas na bolsa brasileira. O exemplo disso ocorreu com a gestora de private equity americana General Atlantic, que viu na Locaweb uma oportunidade tão grande -- ou ainda maior -- que as oferecidas por empresas de capital fechado.
Com foco em companhias de alto crescimento a General Atlantic aumentou nesta semana sua participação na Locaweb para quase 11%, fazendo as ações dispararem. Os papéis da empresa, que até segunda-feira, 16, acumulavam 77% de queda em 12 meses, subiram cerca de 34% nos últimos três pregões.
"Esse caso mostra o quão depreciado está o nível de valuation de alguns ativos da bolsa. O mercado precificou um cenário extremamente conservador em termos de crescimento. [A compra da General Atlantic] chama atenção para o valuation da bolsa brasileira como um todo", disse Bruno Lima, head de Equity Research do BTG Pactual em morning call do banco.