Centro de distribuição do Magazine Luiza em Jundiaí, SP (Germano Lüders/Exame)
Guilherme Guilherme
Publicado em 24 de agosto de 2020 às 18h26.
Última atualização em 24 de agosto de 2020 às 18h45.
Com cerca de 80% de rentabilidade acumulada desde o início do ano, o fundo de investimento Santander Colaboradores Magazine Luiza tem um desempenho invejável - e um histórico ainda mais. Criado em 2011 para facilitar o acesso de funcionários às ações da varejista, o fundo permanece praticamente 100% comprado em Magazine Luiza - estratégia que lhe rendeu retorno de 28.522,27% do início de 2016 até o fim de julho deste ano.
Considerando sua performance de agosto, a alta pode ultrapassar os 30.000%. Ou seja, quem, no início de 2016, tinha 1.000 reais no fundo hoje teria em torno de 301.000 reais. Gerido pelo Santander Asset, o patrimônio líquido médio de seus cotistas cresceu 67 vezes, passando de 1.900 reais para 130.000 reais, segundo dados da plataforma Mais Retorno. O patrimônio líquido do fundo, no entanto, só cresceu 22 vezes nesse período, de 1,5 milhão de reais para 35 milhões de reais. A conta não bate porque, entre 2011 e 2020, o número de cotistas caiu 64%, de 801 para 289.
Apesar do desempenho, dois fatores explicam essa fuga. Um deles foi a rentabilidade dos primeiros anos, já que até o fim de 2015, o fundo acumulou perdas de 86,48% e só foi se recuperar na segunda metade da década. O outro motivo é o maior acesso aos home brokers, que tem popularizado a compra e venda de ações por pessoas físicas e minado o futuro dos fundos mono ação.
“Com a facilidade para acessar o mercado de capitais no Brasil, esses fundos têm perdido bastante relevância, considerando os custos. A taxa de administração deveria ser a menor possível e nem chegar perto de 1%”, comenta Juliana Machado, analista de fundos de investimentos da Exame Research.
Embora essa modalidade demande pouco trabalho para o gestor, é possível encontrar fundos mono ação que chegam a cobrar taxa de administração superior a 1%. Um dos mais tradicionais nessa categoria, o fundo Caixa Petrobras cobra 1,5% de taxa de administração ao ano de seus pouco mais de 27.000 cotistas.
Com 600 milhões de patrimônio líquido, o fundo recebe 9 milhões de reais para comprar e vender ações ordinárias da Petrobras. Mas a quantidade de cotistas tem diminuído. Durante a euforia pré-crise de 2008, o número de cotistas no fundo bateu seu ápice de mais de 80.000 cotistas.
O fundo mono ação do Itaú que investe nos papéis da Vale chegou a ter mais de 90.000 cotistas também durante a pré-crise de 2008. Hoje são cerca de 20.000. Com isso, o patrimônio líquido que chegou a ser de 1,2 bilhão de reais caiu para menos de 500 milhões, apesar das ações da Vale ter se valorizado nesse período. A gestora cobra 3% de taxa de administração ao ano.
"Qual é o grande desafio e a estrutura complexa e cara que justifique uma cobrança de um taxa de administração elevada? Nenhuma. Então espera que isso se reflita em custos extremamente reduzidos. Isso necessariamente não é verdade, por isso muitos fundos mono ação perderam a relevância com o passar dos anos", diz Machado.
Outra desvantagem de investir em fundos mono ação é a tributação, tendo em vista que é cobrado 15% de imposto de renda sobre a rentabilidade adquirida no momento de resgate, enquanto as pessoas físicas não pagam impostos de renda sobre vendas de ações abaixo de 20.000 reais por mês. Machado avalia que para operações acima desse valor a aplicação nesse tipo de fundo pode ser até mais cômodo do que comprar a ação pelo home broker, mas ainda assim é preciso fazer contas para ver se vale a pena.
"Quando opera na bolsa acima de 20.000 reais é preciso fazer o recolhimento da Darf por conta própria. No geral, nos fundos de investimento, o recolhimento do imposto é mais vantajoso porque é recolhido na fonte. Nesse caso, ele não precisaria se preocupar com o recolhimento", explica.