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Fintechs podem liderar safra de IPOs na bolsa brasileira

Entusiasmados com as cifras bilionárias captadas nos EUA e Ásia, empreendedores avaliam que ambiente é favorável para que o movimento se reproduza aqui

Fintechs: para alguns empresários do setor IPO não é o horizonte desejado, como diz David Vélez, criador do Nubank (Nubank/Divulgação)

Fintechs: para alguns empresários do setor IPO não é o horizonte desejado, como diz David Vélez, criador do Nubank (Nubank/Divulgação)

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Reuters

Publicado em 12 de abril de 2017 às 17h30.

Última atualização em 12 de abril de 2017 às 22h02.

São Paulo - Empresas tecnológicas de serviços financeiros no Brasil fazem planos de listar ações na B3, na esteira da rápida popularidade que ganharam com a oferta de soluções para enfrentar os serviços bancários caros e burocráticos no Brasil.

Entusiasmados com as cifras bilionárias de recursos captados por startups financeiras em mercados como Estados Unidos e Ásia, empreendedores das chamadas fintechs nacionais avaliam que o ambiente é favorável para que esse movimento se reproduza aqui, ainda que em escala bem menor.

Embora descartem planos de listagem para logo, executivos de fintechs estão atentos a empresas financeiras maiores, como a XP Investimentos e o Banco Intermedium, que já tornaram público o interesse em lançar ações, antes de definirem os próximos passos.

Os que falam mais abertamente do assunto são executivos de empresas cujos negócios precisam de mais recursos para manter o ritmo de expansão, como as que oferecem crédito.

"Nosso negócio depende de capital, então é natural que empresas desse mercado busquem em algum momento o mercado de capitais", disse Sandro Reiss, sócio da Geru, criada em 2013 e uma das maiores empresas de crédito online a pessoa física no país. "O IPO certamente está no cardápio."

Assim como para a Geru, para outras fintechs que vêm ganhando expressão o mercado de ações não é um assunto estranho. Uma delas é a Biva, plataforma criada em 2015, que conecta tomadores de empréstimos a investidores.

"O IPO é nosso objetivo", disse o fundador e principal sócio da Biva. "Pode acontecer nos próximos anos."

Outra é a Creditas, de crédito pessoal online, que recentemente recebeu um aporte do International Finance Corporation (IFC, braço de investimentos do Banco Mundial) e do sul-africano Naspers.

"Somos uma empresa que precisa de capital e que quer crescer e se manter independente, então é lógico um IPO está dentro dos planos potenciais", afirmou o fundador e presidente da Creditas, o espanhol Sergio Furio. A companhia foi criada em 2012.

O movimento surge em meio ao crescimento exponencial do setor no país. Apoiadas em atrativos oferecidos a clientes como isenção de tarifas e juros menores para financiamentos, as fintechs têm ganhado popularidade se apresentando como alternativa para um setor bancário concentrado e caro.

A Simplic, de crédito pessoal, diz ter atingido a marca de 1 milhão de clientes em fevereiro, cerca de dois anos após ter sido criada. É um número similar ao que o Banco Intermedium prevê alcançar no ano que vem. Já a Creditas afirma ter uma carteira ativa de crédito de 135 milhões de reais.

Notícias de novas fintechs têm surgido na mesma velocidade. Em apenas dois anos, o número dessas empresas em atividade no Brasil passou de poucas dezenas para cerca de 250, divulgou a consultoria Fintechlab em fevereiro.

Para especialistas, o crescimento reflete um conjunto de fatores que tornam a bolsa um destino mais natural para o setor do que para empresas tradicionais. Um dos elementos comuns às fintechs é o fato de serem normalmente fundadas por ex-executivos do mercado financeiro na faixa de 30 a 40 anos. Para muitos deles, IPO é quase sinônimo de sucesso.

Não por acaso, as fintechs frequentemente já nascem com uma estrutura de governança desenhada para ser uma empresa listada. Em parte porque a necessidade de parcerias com bancos e a entrada de sócios institucionais já demandam uma estrutura mais complexa, normalmente adequada a de companhias já no mercado, diz o líder de inovação da Accenture no Brasil, Guilherme Horn.

Algumas fintechs inclusive já buscam recursos no mercado de capitais por meio de instrumentos mais simples, como fundos de recebíveis ou securitização. A Creditas lançou em março um fundo de recebíveis de 50 milhões de reais.

O Geru faz uma modalidade de securitização com seu parceiro europeu AndBank. E o Nubank recebeu no fim de 2016 300 milhões de reais do Goldman Sachs por meio de Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC).

Aliás, várias dessas startups têm recebido recursos de grandes investidores, como fundos de pensão, de private equity, e até de grandes bancos, a exemplo do que tem acontecido no exterior. Todas as fintechs citadas acima já receberam investimentos de algum grande investidor institucional.

"Ao entrarem, esses investidores já estão pensando numa saída futura, não raro por meio de oferta de ações em bolsa", diz Horn.

Em mercados como EUA, Europa e Ásia, as fintechs têm sido destaques entre startups que caem nas graças de grandes investidores e se tornam companhias com valor de mercado acima de 1 bilhão de dólares, chamadas de unicórnios.

Segundo levantamento recente da Accenture e da CB Insights, o investimento global em fintechs cresceu 10 por cento em 2016, para 23,2 bilhões de dólares, impulsionado principalmente por uma onda de negócios na China.

Custos

Embora esses números façam brilhar os olhos de empreendedores no Brasil, eles mesmos sabem que esta não é uma realidade para muitas no país.

Por um lado, porque o próprio mercado se encarregará de selecionar as companhias que atingirão um tamanho para o qual um IPO será factível num país em que não há uma cultura de empresas de menor porte acessando a bolsa.

Além disso, para alguns empresários do setor IPO não é o horizonte desejado, como diz David Vélez, criador do Nubank.

Mesmo tendo todas as características das demais fintechs que almejam a bolsa, incluindo a de ter sócios institucionais de peso e de ser uma das maiores do setor no país, com cerca de 800 mil clientes ativos, segundo profissionais do mercado, a companhia vê a bolsa incompatível com alguns de seus objetivos.

"Os custos de ter uma empresa listada não condizem com a lógica de um fintech, que se apoia justamente numa estrutura de custos menor", justificou Vélez. "Para mim, a empresa terá o controle fechado por décadas."

Numa fase intermediária, há também empresas que não precisam tanto de capital e que por alguns anos estarão totalmente concentradas em se estruturar antes de ganhar robustez.

"Para nós, IPO é um objetivo muito distante, não vale a pena pensar nisso agora", diz Felipe Sotto-Mayor, da fintech de investimento baseada em modelos matemáticos Vérios.

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