Wall Street (jcrosemann/Getty Images)
O rali das Bolsas de Valores internacionais iniciado no final de setembro parece ter recebido a primeira parada no começo de novembro.
A semana terminou negativa em Wall Street, com o Dow Jones, que caiu 1,07%, assim como o S&P 500 que perdeu 2,87% e o Nasdaq que ficou no negativo em 5,02%. Os índices perderam força todos no mesmo pregão: o de quinta-feira 3 de novembro, após a divulgação da nova alta das taxas básicas de juros por parte do Federal Reserve (Fed) no dia anterior,.
A alta dos juros em 0,75% decidida pelo Banco Central dos Estados Unidos foi imediatamente imitada pelo Banco da Inglaterra na idêntica proporção. O Banco Central Europeu (BCE) já tinha realizado a mesma operação no dia 27 de outubro, também com números iguais.
E se a expectativa de afrouxamento da alta das taxas de juros desencadeou um rali inesperado por muitos, especialmente com esse tamanho e duração, mais uma vez as instituições monetárias centrais anularam essa ilusão temporária utilizando as alavancas de política monetária.
Os investidores estavam aguardando uma "virada" nas estratégias dos Bancos Centrais - que o mercado chama de "pivot" - mas, novamente, a luta contra a inflação falou mas alto. Nem mesmo os números razoáveis apresentados pelos balanços trimestrais conseguiram mudar os humores dos mercados, preocupados por uma recessão que está cada vez mais próxima, especialmente na Europa.
Os Bancos Centrais continuaram agressivos em toda a linha, agindo com vigor para evitar efeitos secundários da alta dos preços, ou seja o risco que uma inflação alta persistente se consolide em um momento em que o mercado de trabalho ainda está se recuperando.
Agora os investidores estão de olho nos dados macroeconômicos em constante evolução, que definirão não apenas o ritmo de subida dos juros, mas também o seu ponto de chegada. A aposta mais frequente em Wall Street é que o Fed não consiga iniciar um ciclo de flexibilização no próximo ano, considerando que a inflação deverá permanecer acima do nível da meta durante todo 2023.
A ação dos Bancos Centrais tem efeito imediatos nos títulos da dívida pública, com os rendimentos subindo acentuadamente em todo o mundo. Nos Estados Unidos os títulos do Tesouro com vencimento em 10 anos, os famosos Treasuries, retornaram firmemente para um nível de juros superior a 4%. Na Europa, os Bunds alemães terminaram na sexta-feira em 2,25%, o pico das últimas semanas.
O que é mais interessante salientar é que o índice Move, que mede a volatilidade dos títulos da dívida pública, está aumentando constantemente, mesmo em comparação com o índice de volatilidade de das ações, o Vix, que geralmente é mais elevado mas que, todavia, nesta fase aparece relativamente sob controle.
Agora todos os olhos estão apontados para o Banco Central Europeu, que na próxima reunião de política monetária poderia decidir uma nova alta das taxas na Área do Euro. Entretanto, dentro da Torre de Frankfurt, sede da instituição monetária central europeia, existe um debate entre "falcões" e "pombos", sobre qual seria a melhor opção para os juros. O maior risco na Europa é que tentando derrubar a inflação com doses maciças de altas de juros acabe se abrindo mais um capítulo de crise para a economia do Velho Continente: o das dívidas soberanas.
Países superendividados como Grécia, Espanha, Portugal, França o Itália dificilmente conseguirão pagar juros tão elevados sobre dívidas superiores a, em média, 120% do Produto Interno Bruto (PIB). Especialmente em um momento de contração da economia e aumento dos gastos públicos para fazer frente à crise energética.
Todavia, sem uma alta dos juros europeus, o euro acabaria se desvalorizando ainda mais contra o dólar, aumentando a inflação interna e o mal estar entre a população. Ou seja, no caso dos juros, se subir, a dívida estoura, se para o euro perde. Tudo isso, com as Bolsas de Valores que acabam sem rumo. Mais um dilema para os decisores da política monetária global.