(BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images)
Repórter
Publicado em 14 de dezembro de 2023 às 09h29.
Uma onda de otimismo tomou o mercado financeiro global após o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, realizado na véspera. Como o esperado, o Fed manteve a taxa de juro inalterada entre 5,25% e 5,5%. Mas o tom expansionista do maior banqueiro central do mundo pegou de surpresa os investidores que esperavam por falas mais duras.
Powell admitiu pela primeira vez que seu comitê de política monetária, o Fomc, discutiu a possibilidade de cortes de juros. O mercado já precificava mais de 50% de chance de o Fed iniciar os cortes em março. Mas, dada a queda dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano (que já representa um afrouxamento das condições financeiras), parte dos economistas esperavam um discurso mais duro como forma de forçar esse rendimento para cima. Mas o que houve foi justamente o oposto.
Ao admitir as discussões acerca dos cortes, a curva de juros americana passou a precificar mais de 70% de o Fed cortar o juro em 0,25 ponto percentual (p.p) em março. Mas, mais que isso, investidores passaram a precificar uma alta probabilidade de o ritmo de 0,25 p.p. ser mantido ao longo de todas as outras seis decisões de juros previstas para 2024. Caso confirmada a previsão, o juro americano terminará o próximo ano entre 3,50% e 3,75%.
A possibilidade é precificada, nesta quinta-feira, 14, perto de 46% de chance, considerando também a projeção que incorpora um corte mais agressivo, de 0,50 p.p. em alguma dessas reuniões. Até a semana passada, investidores precificavam menos de 15% de chance de isso acontecer, segundo dados do CME Group.,
A previsão do mercado para os corte de juros é mais agressiva que a do próprio Fed. Em relatório trimestral de projeções, também divulgado na véspera, a projeção mediana de seus membros passou a considerar três cortes de 0,25 p.p. para o ano que vem, com a taxa encerrando entre 4,5% e 4,75%. A projeção de setembro indicava cortes para entre 5% e 5,25%.
"O Fed parece ter aceitado o argumento de que pode cortar as taxas de juro porque a queda da inflação aumentará os custos reais dos empréstimos. Mas, dada a nossa perspectiva mais cautelosa para o crescimento, pensamos que o Fed acabará por ser mais agressivo nos cortes do que está esperando atualmente", avaliou o banco ING em relatório.
Com as sinalizações do Fed, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano voltam a operar em queda nesta quinta-feira. O título com vencimento em dez anos, que chegou a superar 5% em outubro, cai para um rendimento abaixo de 4% nesta manhã. O patamar é o mais baixo desde agosto.
"A questão, agora, é entender onde qual é o valor justo para os títulos 10 anos. Achamos que é 4%. Tem como premissa a visão de que a taxa do Fed chega a 3% e estamos adicionando uma curva de 1 p.p. a isso. Abaixo de 4% parece exagerado", escreveu o ING.