Bovespa: forte alta levou o indicador para perto dos 50 mil pontos (Marcos Issa/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2013 às 17h07.
São Paulo - A China vai ter um desempenho da economia melhor do que o esperado pelo mercado e isso deve ajudar o Índice Bovespa a se recuperar, podendo voltar para os 60 mil pontos até o fim do ano, acredita Patrícia Valente Stierli, responsável pela Fator Administração de Recursos (FAR).
Para ela, a forte alta do Índice Bovespa ontem e hoje, que levou o indicador para perto dos 50 mil pontos, já é um sinal de que os investidores estrangeiros estão voltando ao mercado brasileiro. “Já vínhamos notando na comparação trimestre contra trimestre anterior que o PIB chinês estava melhorando”, diz. “Finalmente, começamos agora a ver fluxo de recursos para emergentes”, afirma, lembrando que esse fluxo estava no mais baixo nível desde 2011.
Mesmo os problemas locais da economia brasileira não devem afastar os investidores. “O que vai ocorrer é que virá uma parcela menor do que para outros emergentes, mas virá”, diz a executiva.
Commodities saem ganhando
Com essa retomada do otimismo com a China, os papéis ligados ao mercado de commodities devem se beneficiar, puxando o Ibovespa para cima. Patricia acredita que, com isso, a bolsa brasileira tem condições de subir nos próximos 30 dias. “Um sinal é que o Índice Futuro de Ibovespa estava sendo negociado anteontem por um número de pontos abaixo do à vista, mas agora está no mesmo nível, o que mostra uma recuperação”, afirma.
A gestora acredita que o segundo semestre será bem melhor para a bolsa do que foi o primeiro, quando protestos, queda na popularidade da presidente Dilma Roussef, dúvidas no crescimento brasileiro e chinês jogaram o Ibovespa para perto dos 44 mil pontos. “Com a recuperação da China, podemos ter um movimento mais forte no último trimestre do ano”, acredita.
Outro fator para melhorar o mercado é o Banco Central (BC) brasileiro continuar a subir os juros para segurar a inflação, retomando a confiança do mercado de que o governo vai voltar a ser rigoroso com os preços. “Têm vários aspectos que podem ajudar a melhorar no segundo semestre”, diz Patrícia, que acha que os 50 mil pontos são apenas a primeira etapa. “Até o fim o ano, o Ibovespa pode chegar aos 60 mil”, acredita.
Relação preço/lucro baixa
Ela cita indicadores de desempenho das empresas, como a relação entre o preço e o lucro das companhias, e que dá uma ideia de em quanto tempo o investidor terá o retorno de seu investimento. Portanto, quanto menor, melhor. O chamado P/L das empresas brasileiras está hoje abaixo de 10 vezes, para 15 vezes da média histórica brasileira e 14 vezes do maior concorrente atual, o México. “Portanto, os ativos estão desvalorizados e há espaço para ganhos da bolsa brasileira”, afirma.
Setor elétrico atrativo
Patrícia diz que a FAR gosta do setor elétrico, que ficou muito depreciado e com grande potencial. “Nosso fundo de dividendos tem 30% da carteira nesse setor e que, junto com outras, resultam em um retorno médio da carteira em 6,5% apenas com os lucros distribuídos pelas empresas, sem contar o ganho de capital com o preço das ações”, explica. Assim o fundo no ano acumula perda, de 5%, mas muito abaixo dos 20% do Ibovespa. A gestora gosta de Cemig, Tractebel e Alupar.
O fundo de ações de governança da Fator, o Sinergia, aposta também no setor de infraestrutura, com Santos Brasil, e montou recentemente posição em Marfrig, apostando na reestruturação da dívida e das contas da empresa.
Small caps mais fraco
Patricia vê uma situação diferente do mercado neste ano, com o Índice Small Caps, de pequenas empresas, não repetindo os ganhos do ano passado. “Depois das fortes altas de 2012, ele caiu bastante este ano, 15%, pois havia muitas ações que subiram demais”, lembra ela. Agora, o small caps tende a se recuperar, mas menos do que no ano passado.
Ao mesmo tempo, o Ibovespa tende a apresentar um desempenho melhor pois tem um peso maior de ações de commodities, como a Vale, siderúrgicas, papel e celulose. “Quando se fala em recuperação da China, o fundo ou investidor tem de ter Vale na carteira, e mais ações de valor”, diz Patrícia.
Essa é a estratégia de outro fundo da casa, o tradicional Jaguar, que tem 41% da carteira parecida com o Índice Bovespa e 50% em ações de valor. Entre as ações preferidas pela FAR, além das elétricas, estão Queiroz Galvão, Iochpe, Santos Brasil, CCR e Marfrig.
Poucos bancos, varejo e construção
Patricia diz que a gestora não tem muita coisa no setor financeiro, apenas Itaú Unibanco, nem empresas do setor de varejo que, apesar de baratas, só devem se recuperar com a melhora da atividade no fim do ano. Construção civil também está fora das carteiras da FAR. “O setor de construção teve um primeiro semestre melhor em cima de São Paulo e Rio, mas, no segundo semestre, a tendência é de desaceleração”, diz.
A gestora acredita que mesmo a redução dos incentivos monetários ao mercado financeiro americano não vão atrapalhar a recuperação da bolsa. “Achamos que a recuperação econômica nos Estados Unidos está consistente, na Europa, o pior já passou e se a China se recuperar termos uma redução dos incentivos americanos de forma mais tranquila”, acredita.
Impacto do fim dos incentivos nos EUA
Patrícia diz que a previsão é que os juros de 10 aos do Tesouro dos EUA não suba tanto, ficando entre 2,50% ao ano e 2,70%. “O risco seria se ele fosse a 3% ou mais”, diz.
O otimismo com a bolsa fez os fundos multimercados da casa aumentarem a posição em ações. Na renda fixa, a expectativa é de ganhos com as taxas atuais, que embutiriam ganhos em quase todos os vencimentos. A preferência é mais por papéis indexados à inflação, as NTN-Bs, e menos por papéis prefixados.
Já o dólar é mais arriscado pois, apesar de a moeda americana poder se valorizar, o juro alto torna a aplicação menos favorável.