Dólar: segundo a edição desta segunda-feira da pesquisa Focus, do Banco Central, a mediana das projeções de economistas para a taxa de câmbio no fim de 2014 é de 2,45 reais (REUTERS/Soe Zeya Tun)
Da Redação
Publicado em 23 de dezembro de 2013 às 17h24.
São Paulo - A expectativa de alta do dólar deve guiar as estratégias de investidores brasileiros em 2014, com fundos de que alocam parte dos recursos no exterior e empresas exportadoras listadas em bolsa atraindo os fluxos de liquidez, avaliam especialistas.
O início da redução do programa de compra de ativos pelo banco central norte-americano, que ocorrerá em janeiro, reduzirá os fluxos de capitais para países emergentes, o que deve levar a moeda norte-americana a se valorizar ante o real.
Segundo especialistas, a redução da liquidez ao mercado anunciada pelo Fed na semana passada corrobora a perspectiva de que a autoridade monetária dos EUA deve aumentar os juros em 2015, atraindo liquidez para o país. De outro lado, a percepção é de que a política fiscal do Brasil deve continuar alvo de preocupações, afugentando mais ainda investidores.
Segundo a edição desta segunda-feira da pesquisa Focus, do Banco Central, a mediana das projeções de economistas para a taxa de câmbio no fim de 2014 é de 2,45 reais.
Nesse cenário, e levando em conta que se espera poucos ganhos para a Bovespa em 2014, a exposição à alta da moeda norte-americana é um dos principais alvos no radar do mercado.
"Devem ficar atrativos fundos multimercado que permitem alocar um percentual em ativos externos, em papéis comerciais ou títulos do governo norte-americano", disse o diretor da Unidade Private Bank do Banco do Brasil, Rogério Lot. A instituição tem dois fundos multimercado, ambos com até 20 por cento do patrimônio investido no exterior.
Neste mês, a gestora do HSBC anunciou plano de lançar em 2014 um novo fundo com até 20 por cento dos investimentos no exterior, com ativos de renda fixa e variável em países desenvolvidos e em emergentes de na África, no Oriente Médio e na Ásia, como Nigéria, Vietnã e Egito.
O fundo será voltado para investidores qualificados, com 300 mil reais disponíveis para investir. Além da atratividade do dólar, o presidente-executivo da gestora para Brasil e América Latina, Pedro Bastos, afirmou que os brasileiros estão com mais apetite por fundos que investem no exterior pois procuram diversificação em um momento em que a rentabilidade no Brasil é "pouco atraente".
Além de fundos multimercado, fundos cambiais podem ser uma boa opção para clientes mais tolerantes a risco, avalia Lot.
Segundo especialistas, a deterioração das contas públicas do país pode atrapalhar a estratégia voltada para fundos cambiais.
"Se pensarmos no aumento de risco governo e na deterioração de rating, o cupom pré-fixado do título (indexado ao dólar) pode ter uma desvalorização, o que de certa forma pode reduzir ou até anular o ganho (com a alta da divisa norte-americana)", afirmou o sócio da Quantitas Asset Management, Marcos Fritzen.
Bovespa
Outra maneira de se expor ao câmbio mais forte é investir em empresas exportadoras na bolsa. O ideal é que tais papéis também consigam se beneficiar do crescimento econômico internacional, com alguns países na Europa saindo da recessão, a atividade dos Estados Unidos acelerando e a economia da China entrando em uma trajetória mais previsível.
"O setor com o qual estamos mais animados, pelo menos na entrada de 2014, é o siderúrgico, que se beneficia de um real mais desvalorizado, possibilitando aumento de preços no mercado interno", disse Rafael Barros, gestor da Humaitá Investimentos.
O dólar mais alto inibe a importação de aço para o mercado interno, o que pode ajudar as vendas de companhias como Usiminas e CSN.
A mineradora Vale também é boa aposta, segundo Barros, em detrimento de papéis ligados ao consumo, com o juro e a inflação elevados reduzindo o poder de compra das famílias.
Contudo, investidores terão que garimpar bons ativos na Bovespa, cujo principal índice não deve compensar as perdas deste ano em 2014. Segundo pesquisa Reuters, o Ibovespa deve encerrar o ano que vem em 59 mil pontos, abaixo do nível de fechamento de 2012, de 60.952 pontos.
Renda fixa
Apesar das más perspectivas para o cenário fiscal doméstico, títulos de renda fixa também podem ser interessantes para o investidor em uma carteira geral.
"Achamos que ativos indexados ao IPCA com taxas acima de 6 e 6,5 por cento, mesmo com o risco governo, podem valer a pena na carteira, como NTN-Bs com vencimento um pouco mais curto, até 2020", afirmou Fritzen, da Quantitas. Para ele, o mercado deve exigir mais prêmio de títulos com vencimento mais longo no caso de maior deterioração fiscal.
Para Barros, da Humaitá, como a valorização do dólar acarreta pressão inflacionária e consequente alta dos juros, títulos indexados à Selic e ao CDI também podem ser vantajosos.
"Não me parece que o real vai se desvalorizar de forma tão relevante que valha a pena abandonar o CDI, a Selic, para ir para um fundo cambial", afirmou.