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Eventos envolvendo Lula elevam incerteza política, diz Fitch

O acirramento dos ânimos na política nos últimos dias devem tirar o foco do Congresso em aprovar medidas econômicas, avalia a Fitch


	Fitch: o acirramento dos ânimos na política nos últimos dias devem tirar o foco do Congresso em aprovar medidas econômicas
 (Matt Lloyd/Bloomberg)

Fitch: o acirramento dos ânimos na política nos últimos dias devem tirar o foco do Congresso em aprovar medidas econômicas (Matt Lloyd/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 11 de março de 2016 às 11h12.

Nova York - Os recentes eventos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo seu depoimento na Polícia Federal, ajudam a aumentar ainda mais a incerteza em um já difícil cenário político no Brasil, afirma a agência de classificação de risco Fitch Ratings em um novo relatório sobre o País, em que alerta para os riscos de piora do cenário e do rating soberano brasileiro.

O acirramento dos ânimos na política nos últimos dias devem tirar o foco do Congresso em aprovar medidas econômicas, avalia a Fitch.

"Esse movimento sugere que o foco político e a energia do Congresso podem ser consumidos em conter as consequências do avanço das investigações da Lava Jato e os procedimentos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff", afirma a Fitch no relatório. Na quinta-feira, 10, o Ministério Público de São Paulo pediu a prisão preventiva de Lula.

A Fitch ressalta que o governo estava planejando a reforma da Previdência e a introdução de tetos para os gastos públicos para melhorar as perspectivas fiscais de médio prazo e melhorar as expectativas dos agentes. "Mas a situação política pode fazer o progresso nestas questões bastante difícil", afirma o relatório.

Na última segunda-feira, a Fitch revisou para baixo a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2016 e agora espera contração de 3,5%, acima da queda de 2,5% da estimativa anterior.

Em 2017, a projeção de crescimento do PIB foi reduzida de alta de 1,2% para expansão de 0,7%. "Riscos de piora para nossas previsões ainda persistem", afirma o relatório.

"O contínuo impacto dos níveis baixos de confiança dos agentes, incerteza política e ventos contrários mais fortes vindos do exterior estão por trás da decisão de reduzir as projeções", afirma o relatório ao comentar o corte nas projeções.

A profundidade e a duração maior da recessão ressaltam o risco de que a persistente fraqueza da economia pode continuar a piorar a consolidação fiscal, por meio da queda da arrecadação, ressalta a Fitch.

Com isso, a trajetória da dívida bruta deve seguir em alta. Em um evento para discutir o Brasil em Nova York na última terça-feira, a diretora da Fitch especializada no país disse que até agora em 2016, a evolução do cenário político e econômico têm sido decepcionantes.

A Fitch avalia que um processo lento de impeachment e preocupações com a piora das contas fiscais devem contribuir para manter a confiança dos agentes em níveis historicamente baixos, impedindo a recuperação do PIB.

Ainda no mercado doméstico, o aumento do desemprego deve contribuir para reduzir o consumo.

A elevada incerteza política e perspectiva de PIB fraco devem provocar outra queda nítida no investimento privado, afirma o relatório, destacando que em 2015 já houve recuo de 14%.

No cenário externo, os fantasmas para o Brasil são a desaceleração da China, a ameaça de mais quedas nos preços das commodities e o estresse no mercado financeiro.

Rebaixamento

"O desempenho da economia, das contas fiscais e a evolução do cenário político permanecem fatores essenciais para nossa avaliação do rating soberano do Brasil", afirma a Fitch.

A piora das projeções do PIB para o Brasil é um indicador do risco de piora do rating soberano, afirma a agência.

Outro fator negativo para o rating soberano brasileiro, diz a agência, é o pedido do Planalto ao Congresso para ter mais flexibilidade para a meta fiscal, o que abre espaço para um déficit primário de 1% do PIB este ano.

"O baixo desempenho da economia e a pressão continuada nos gastos trazem riscos de piora para os objetivos fiscais do governo."

A ausência de um ajuste fiscal eficaz, confiável e dentro do prazo foi um dos fatores que levou a Fitch a retirar o Brasil da classificação grau de investimento em dezembro, com o rating em perspectiva negativa.

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