Efeito da intervenção no Cruzeiro do Sul é limitado para outros bancos (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 5 de junho de 2012 às 11h33.
São Paulo – As ações do setor financeiro já sofreram em abril. Na ocasião, o que derrubou os papéis foram as preocupações que vieram após o Itaú apontar em teleconferência que esperava um aumento da inadimplência e com as manobras do governo para incentivar a queda nos juros e nas taxas. Dessa vez, são os bancos pequenos e médios que podem sentir efeito de outra notícia.
O Banco Central anunciou uma intervenção no Banco Cruzeiro do Sul (CZRS4) após inspeções apontarem um rombo de aproximadamente 1,3 bilhão de reais. “Num primeiro momento, as ações podem sofrer por um pânico geral, mas é preciso separar a origem do problema e os negócios de cada banco”, pondera Carlos Daltozo, analista do BB Investimentos.
Outro analista que preferiu não se identificar também acredita que as ações de bancos pequenos e médios podem sofrer. Porém, sem motivos. “Não há porque ter receio. É um fato isolado e o mercado já imaginava que havia um problema com o Cruzeiro do Sul”, disse.
Outro analista de um grande banco internacional que acompanha bancos médios com foco em produtos para empresas, disse que essas outras instituições não devem sofrer consequências pelo que aconteceu hoje com o Cruzeiro do Sul. “O perfil de atuação é muito diferente para ocorrer algum efeito”, disse.
Desempenho dos principais bancos médios nesta segunda-feira
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Banco | Código | Variação |
---|---|---|
ABC Brasil | ABCB4 | -3,51% |
Banrisul | BRSR6 | -2,58% |
BicBanco | BICB4 | -6,32% |
Daycoval | DAYC4 | -1,04% |
Pine | PINE4 | -0,96% |
Sinais
Uma das ‘dicas’ que o mercado teve sobre o Cruzeiro do Sul veio logo no final de março, quando a Moody's rebaixou todos os ratings do banco. Na época, a agência de classificação de risco justificou a ação pelo aumento da dependência do banco de fontes de captação garantida para financiar a originação de ativos de crédito, e o enfraquecimento da rentabilidade.
“A Moody's notou a complexidade da estrutura de seu balanço, que contém volume expressivo de securitização para um fundo proprietário, e a opacidade das informações financeiras, como razões adicionais para o rebaixamento dos ratings”, afirmaram os analistas da agência na época.
Num relatório elaborado em dezembro de 2011, analistas do HSBC também apontavam o Cruzeiro do Sul com um alto risco por ter dependência de DPGE (depósitos a prazo com garantia especial). Na ocasião, eles mostraram que o banco tinha uma exposição de 27%, acima do Sofisa, Paraná Banco e BicBanco, que também tinham exposição elevada.
O analista que não se identificou diz que outros bancos não têm apresentado motivos de preocupação que poderiam levar a crer em novas interdições e que uma queda das ações nos próximos dias é provável, mas injustificada.
Setor
Os bancos de menor porte, porém, tem outro desafio pela frente. Um relatório do Goldman Sachs lembrou que uma desaceleração na economia leva bancos de nicho a adotarem uma política mais conservadora, que pode se traduzir num enfraquecimento dos resultados das instituições e na performance das ações.
Com esse cenário e um aumento da aversão ao risco, eles reduziram numa média de 8% o preço-alvo para todos os bancos menores que cobrem (BicBanco, ABC, Panamericano e Banrisul), com exceção do Daycoval, que passou por um aumento de 2% na estimativa do preço-alvo.
O único banco que tem recomendação de compra pelo Goldman Sachs, porém, é o Panamericano. Segundo os analistas, a instituição ainda está passando por um processo de reestruturação e por isso está num momento diferente no ciclo de crescimento.
Quem é quem entre os médios
ABC Brasil (ABCB4)
O banco oferece crédito para grandes e médias empresas. O lucro líquido da instituição atingiu 56,9 milhões de reais no primeiro trimestre, quase estável sobre os 56,7 milhões de reais do mesmo período de 2011. Já a carteira de crédito expandida cresceu 13,1%, para 13,7 bilhões de reais.
Em 2012, a ação do ABC Brasil acumula queda de 8,52% até a última sexta-feira.
Banrisul (BRSR6)
Com atuação em produtos tanto para pessoa física quanto jurídica, o banco tem foco da atuação na região sul do país. No primeiro trimestre do ano, o lucro líquido foi de 214 milhões de reais, parecido com o indicador de um ano antes, de 211 milhões de reais.
A carteira de crédito total do banco registrava 21,3 bilhões de reais no final de março, alta de 18,7% ante o mesmo mês de 2011.
Em 2012, a ação do Banrisul acumula queda de 18,5% até a última sexta-feira.
BicBanco (BICB4)
Segundo o balanço da instituição, o BicBanco é especializado na concessão de crédito corporativo ao segmento de middle market, que são empresas com faturamento anual entre 50 milhões de reais e 500 milhões de reais.
A ação do BicBanco vem sofrendo por uma deterioração na qualidade dos ativos e um menor crescimento na crédito, um problema bem diferente do que acontece com o Cruzeiro do Sul. No primeiro trimestre, as operações de crédito eram de 11,36 bilhões, recuo de 19,5% ante um ano antes. Em 2012, a ação do BicBanco acumula queda de 14,3% até a última sexta-feira.
Daycoval (DAYC4)
O Daycoval também é especializado no segmento de middle market. De acordo com o último balanço, o lucro líquido do banco alcançou 95,3 milhões de reais, 119% acima do mesmo período de 2011.
Na mesma base de comparação, a carteira de crédito encerrou o período com saldo de 7,38 bilhões de reais, alta de 23,2%.
Em 2012, a ação do Daycoval acumula alta de 8,11% até a última sexta-feira.
Banco Pine (PINE4)
O Banco Pine também é especialista no atendimento de empresas.
No primeiro trimestre, a instituição registrou lucro líquido de 47 milhões de reais, alta de 51,6% ante o mesmo período de 2011. A carteira de crédito expandida totalizava no final do período 7,3 bilhões de reais, alta de 25,4% em 12 meses.
Em 2012, a ação do Pine acumula queda de 3,49% até a última sexta-feira.
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