"O conjunto de desafios não é trivial e pode demandar muito tempo", diz analista (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 16 de março de 2012 às 15h58.
São Paulo – Os acionistas da BM&F Bovespa (BVMF3) podem dormir um pouco mais tranquilos, pelo menos até o final de 2014. Esse deve ser o tempo necessário para que uma das desafiantes da bolsa se estabeleça no Brasil, explica o analista Paulo Ribeiro do HSBC em um relatório publicado nesta semana.
“Da estrutura regulatória, adaptada à nova situação de concorrência, passando pelas aprovações necessárias e pelo acesso aos mecanismos de pós-negociação (cujo controle é o trunfo mais forte para a BVMF, em nossa opinião), o conjunto de desafios não é trivial e pode demandar muito tempo, como aconteceu na Austrália”, explica Ribeiro.
O governo australiano permitiu em março de 2010 que a unidade local da corretora japonesa Nomura instalasse um novo ambiente de negociações com o objetivo de reduzir custos e incentivar a indústria financeira. A Chi-X Australia iniciou as operações no final de outubro de 2011, pouco mais de um ano após o anúncio, e encerrou 150 anos de monopólio da ASX.
Ambiente
O Brasil já foi um país com vinte ambientes de negociações de ações e outros ativos financeiros. Esse era o cenário brasileiro na década de 1990. Porém, ao longo dos anos seguintes o mercado se consolidou e, depois da quase quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, então a maior do país, hoje só se fala na BM&FBovespa, fusão entre o ambiente de negociações de derivativos e commodities com o de ações, realizada em 2008.
Uma das principais barreiras para a chegada de um novo concorrente é o modelo integrado da BM&FBovespa. Além de bolsa, ela detém também a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia), que é a contraparte para o mercado de ações e de renda fixa e responsável pela fiscalização dos pagamentos e recebimentos. Por lei, a BM&FBovespa é obrigada a oferecer os serviços de compensação para qualquer outro participante do mercado.
Contudo, a bolsa pode cobrar o preço que desejar, o que poderia impossibilitar a entrada. Para Ribeiro, a bolsa "não está interessada em prestar serviços para um concorrente- como compensação, entidade de autorregulamentação e mid e back-office para corretoras".
Fragmentação
A primeira a revelar os planos foi a BATS em fevereiro de 2011. Depois, no final do ano passado, foi a vez da Direct Edge. “As regulamentações no Brasil são em geral mais rígidas do que em outros mercados nos quais essas novas empresas atuam”, ressalta Ribeiro, que só estima a concretização da concorrência ao final de 2014.
“Embora a fragmentação esperada da liquidez no Brasil acompanhe uma tendência global, as questões regulatórias e estruturais discutidas fundamentam nossa tese de que uma plataforma de negociação de ações alternativa em pleno funcionamento no Brasil é uma proposta para o final de 2014, no mínimo”, estima.
Fatia do mercado
Segundo o HSBC, a experiência no exterior indica que a bolsa poderia perder cerca de 30% do mercado com a concorrência, principalmente no segmento de investidores de alta frequência. “Analisamos a experiência em outros países, mais especificamente Canadá e Austrália, que também tinham uma bolsa nacional verticalmente integrada, para contextualizar as possíveis tendências no Brasil”, diz.
Com a perspectiva de uma nova bolsa saindo depois da Copa do Mundo, os investidores continuam com as preocupações de sempre: as canetadas do governo sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para transações realizadas na bolsa por estrangeiros e a crise internacional. E, além disso, de olho na modernização da BM&F Bovespa para se tornar mais rápida e eficiente antes da chegada da concorrência.
O HSBC manteve a recomendação “overweight” – alocação acima da média – e o preço-alvo de 15 reais para as ações da BM&F Bovespa.