Projeção do dólar foi revisada, de R$ 3,80 para R$ 3,90 este ano e para R$ 4,25 no final de 2020. (Nelson_A_Ishikawa/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de outubro de 2019 às 18h56.
São Paulo — O dólar começou a semana se fortalecendo na economia mundial, em meio às dúvidas sobre o acordo comercial parcial anunciado na sexta-feira pela Casa Branca com a China. Em dia de liquidez reduzida, o dólar à vista fechou em alta de 0,81%, a R$ 4,1280. No mercado futuro, a moeda americana chegou a R$ 4,14.
Na falta de notícias locais positivas e sem fluxo de estrangeiros, desestimulado pela tendência de queda do diferencial de juros do Brasil com o resto do mundo, o real foi a moeda que teve pior desempenho nesta segunda-feira, em uma cesta de 34 moedas mundiais, superando inclusive a lira turca, que tem sido pressionada com as ameaças de Donald Trump de impor sanções à Turquia em resposta aos ataques do país contra populações curdas na Síria.
A divulgação de mais um indicador mostrando fraqueza da atividade provocou perspectivas de juros ainda menores no Brasil. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) avançou apenas 0,07% em agosto ante julho. O Banco Fibra reduziu projeção para a taxa básica, a Selic, para 4% e alertou para a possibilidade de taxas ainda mais baixas que esse patamar.
Por conta da redução do diferencial de juros e a tendência desse movimento persistir, o Itaú Unibanco anunciou revisão na projeção do dólar, de R$ 3,80 para R$ 3,90 este ano e para R$ 4,25 no final de 2020. A estimativa anterior era que a moeda americana terminasse o ano que vem em R$ 4,00. "O diferencial de juros em patamar historicamente baixo pode ter impacto potencialmente maior sobre o câmbio do que no passado", ressalta relatório do banco, que tem como economista-chefe o ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita.
No relatório, o Itaú ressalta que o diferencial tão baixo de juros "ainda é uma nova realidade e requer algum tempo de aprendizado" para que se possa estimar com maior confiança seu impacto sobre o mercado de câmbio. O Itaú observa ainda que outro risco para o real é uma desaceleração mais acentuada das principais economias globais e/ou nova deterioração das relações comerciais entre EUA e China, que podem gerar uma aversão ao risco global, diminuindo o fluxo de capitais para emergentes.
"O acordo fase 1 não retira as nuvens de incerteza sobre o comércio", observam os estrategistas do banco americano Citi.
Para o sócio-fundador da Veedha Investimentos, Rodrigo Marcatti, o quadro atual, doméstico e externo, não permite a queda das cotações do dólar. A moeda americana se fortaleceu nesta segunda em meio às dúvidas sobre o acordo comercial "fase 1" entre a China e EUA e, no mercado doméstico, um fator para adicionar cautela, além do diferencial de juros, é a briga de Jair Bolsonaro e família com o PSL. "É um cenário ruim para quem precisa aprovar reformas", disse ele, ressaltando que o governo ainda precisa garantir a aprovação da Previdência em segundo turno no Senado, em votação prevista para o próximo dia 22.