Natália Flach
Publicado em 11 de junho de 2020 às 17h16.
Última atualização em 11 de junho de 2020 às 17h41.
Os principais índices das bolsas americanas derreteram, nesta quinta-feira, com os investidores preocupados com uma nova onda do coronavírus. O ativos brasileiros não escaparam da queda. O iShares MSCI Brazil (EWZ), um dos mais importantes fundos de índices do mundo e o maior listado em Nova York e com lastro as ações brasileiras, encerrou o dia com recuo de 7,74%. Assim como o indicador, os recibos de ações brasileiras (ADRs, na sigla em inglês) também operaram no vermelho. O ADR da Petrobras caiu 8,99%, enquanto o da Vale cedeu 7,07%. Já os da Gol despencaram 18,73% e os da Embraer, 13,76% (confira a lista abaixo).
O Dow Jones Brazil Titans, que é o índice que mede o desempenho dos 20 maiores ADRs brasileiros, recuou 8,71%. "Está em linha com o desempenho de outros ativos de mercados emergentes, mas a gente está com uma performance pior. O EEM, por exemplo, que é o ETF ligado a países emergentes, cai menos, 5,25%", afirma Juliana Machado, especialista da EXAME Research. A preocupação central dos investidores é com a chamada segunda onda da pandemia da covid-19, agora que vários países estão ensaiando reaberturas (ou reabrindo de fato), como o Brasil.
"A visão geral ainda é de que estamos frágeis nesse processo: o número de mortes por coronavírus reportado continua crescendo e já ultrapassamos 40.000", afirma a especialista. Nesta quinta-feira, os shoppings reabriram na capital paulista.
Para Florian Bartunek, gestor da Constellation Investimentos, trata-se de uma correção de curto prazo. "Apesar da potencial bolha no médio prazo, até haver uma percepção melhor dos efeitos do coronavírus na economia os mercados ficarão muito voláteis”, diz Bartunek.
Confira o desempenho dos ADRs brasileiros nesta quinta:
O mar vermelho que se criou em Wall Street pode ser um prenúncio de um dia de queda no Brasil, na sexta-feira, quando os mercados locais retomam suas atividades. "Os riscos estavam todos na mesa com a disparidade da bolsa com a economia real. O Fed chamou a atenção para isso e para um crescimento mais lento do que o esperado, o resultado é realização", afirma Bruno Lima, especialista em ações da EXAME Research. "Os papéis que subiram muito nas últimas semanas no Brasil devem devolver os ganhos, em um movimento de reversão. É possível que o Ibovespa caia de 5% a 6% amanhã e o dólar suba 2% a 3% contra o real", acrescenta.
Para além do receio de uma segunda onda, o banco central americano projetou ontem uma contração de 6,5% do produto interno bruto (PIB) neste ano e taxa de desemprego de 9,3% ao final de 2020. Embora a maior parte do comunicado tenha repetido a linguagem da reunião de abril, o Fed prometeu manter as compras de títulos “no ritmo atual” de cerca de 80 bilhões de dólares por mês em títulos do Tesouro e 40 bilhões de dólares por mês em títulos lastreados — um sinal de que começa a formatar sua estratégia de longo prazo para a recuperação econômica. "O discurso foi um toque de realidade que serviu como um gatilho para a bolsa", explica Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos.
Isso mostra que há dúvidas sobre a recuperação do mercado de trabalho nos Estados Unidos. As demissões estão diminuindo, mas milhões de pessoas que perderam o emprego por causa da covid-19 continuam obtendo benefícios de desemprego, sugerindo que pode levar anos para se recuperar da pandemia.
De qualquer forma, os novos pedidos de auxílio-desemprego caíram para 1,5 milhão na semana encerrada em 6 de junho, segundo dado com ajuste sazonal, ante 1,9 milhão na semana anterior, informou o Departamento do Trabalho na quinta-feira. "Com esses números, voltamos a 70% do patamar de empregos de janeiro, antes de a pandemia atingir os Estados Unidos. É uma notícia muito boa", diz Cantreva.