Mercados

Empiricus levanta hipótese de fraude em balanço do Marfrig

Alta das ações estaria baseada na assunção equivocada sobre uma melhora operacional

"Existe escassez de ações para aluguel e, quando identifica-se a oferta, cobra-se taxa de até 55% ao ano", destaca a consultoria (Luiz Iria/EXAME.com)

"Existe escassez de ações para aluguel e, quando identifica-se a oferta, cobra-se taxa de até 55% ao ano", destaca a consultoria (Luiz Iria/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2011 às 17h56.

São Paulo – O recente alívio visto nas ações do frigorífico Marfrig (MRFG3) pode estar baseado na assunção equivocada de uma melhora no desempenho operacional. É o que sugere uma carta aberta da casa de análise Empiricus Research publicada nesta segunda-feira.

Os papéis dispararam 16,67% após a publicação do balanço do terceiro trimestre no dia 11 de novembro. Foi a ação que mais subiu na sessão que acompanhou o resultado entre as 63 do Ibovespa. A alta chega a 47% desde 10 de novembro.

O texto da Empiricus aponta uma série de inconsistências contábeis na maneira com que a empresa tem lançado os efeitos da adoção do IFRS (International Financial Reporting Standard), que é a nova norma internacional de contabilidade. “Regra geral, achamos que algumas importantes (e até triviais) correções de erros foram jogadas embaixo do tapete do IFRS”, explica a Empiricus.

Além disso, a consultoria ressalta que a soma das linhas que tipicamente redundam na dívida financeira não batem com os valores divulgados nas informações trimestrais, com “incômodas lacunas”. A diferença foi de 45 milhões de reais em 2009 e de 1,041 bilhão de reais em 2010.

Melhora operacional em xeque

A empresa apresentou um avanço de 687,2% no prejuízo líquido no terceiro trimestre de 2011 em comparação com o mesmo período de 2010. O resultado, contudo, trouxe um desempenho operacional muito melhor. É daí que vem a surpresa positiva dos investidores.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) registrou um aumento de 169,3%, para 637 milhões de reais. A margem Ebitda consolidada foi de 11,5%, percentual 532 pontos-base superior ao mesmo período de 2010 e 632 pontos-base acima do trimestre anterior.


A Empiricus destaca, porém, que ao excluir o efeito da linha “outras receitas/despesas operacionais”, a margem Ebitda cai de 11,5% para 7,8%. “Sem saber a natureza dessa linha, a real confirmação da melhora operacional, em especial num momento de alteração da metodologia contábil, fica prejudicada”, diz.

Alavancagem

A análise sugere que a Marfrig encare os ajustes do IFRS como erros e reapresente os balanços de 2008 e 2009. Caso viesse a acontecer, o Ebitda de 2008 cairia de 844,4 milhões de reais para 490,1 milhões de reais, com uma margem de 7,9%. Para 2009, o valor passaria de 819,5 milhões de reais para 267,5 milhões de reais (uma margem de 2,77%).

Com isso, seria possível ver uma “revolucionária” alteração nos indicadores de alavancagem. A relação dívida líquida/Ebitda de 3,7 vezes ao final de 2008 passaria a 6,6 vezes. Para 2009, avançaria de 2,6 vezes para 7,9 vezes.

“Torna-se especialmente relevante a discussão neste momento de alavancagem alta e dificuldades de geração de caixa próprio, pois estaria em dúvida o respeito aos covenants [termos do acordo entre a empresa e os detentores dos títulos da dívida] e até mesmo a solvência da empresa”, conclui a Empiricus.

A agência de classificação de risco Standard and Poor’s revisou de estável para negativa a perspectiva do rating do frigorífico Marfrig em 19 de outubro. “As condições difíceis de mercado decorrentes de maiores custos com matérias-primas têm afetado consideravelmente as margens brutas e o fluxo operacional da Marfrig, com os altos estoques se traduzindo em fluxos operacionais negativos”, informou a S&P na ocasião.

O frigorífico Marfrig disse em uma nota que cumpriu plenamente todas as normas do IRFS e que os questionamentos e considerações da Empiricus carecem de fundamento. Veja a íntegra da nota:

"Com referência ao artigo publicado sem identificação de autoria pelo blog Empíricus, o Grupo Marfrig esclarece que mantém canais de comunicação de voz e Internet abertos para o esclarecimento de quaisquer dúvidas dos seus acionistas e analistas de mercado e que, em nenhum momento, recebeu qualquer consulta do blog Empíricus. A Empresa entende que cumpriu plenamente todas as normas do IRFS e que os questionamentos e considerações do blog Empíricus carecem de fundamento. As demonstrações financeiras do Grupo Marfrig são auditadas por empresa independente e a Companhia é referência em rigor técnico no setor, reconhecida pela qualidade de suas demonstrações contábeis com o Troféu Transparência 2011 da ANEFAC - Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade".

Acompanhe tudo sobre:Alimentos processadosAnálises fundamentalistasB3bolsas-de-valoresCarnes e derivadosEmpresasEmpresas brasileirasFraudesMarfrigMercado financeiro

Mais de Mercados

Casas Bahia reduz prejuízo e eleva margens, mas vendas seguem fracas; CEO está confiante na retomada

Tencent aumenta lucro em 47% no 3º trimestre com forte desempenho em jogos e publicidade

Ações da Americanas dobram de preço após lucro extraordinário com a reestruturação da dívida

Na casa do Mickey Mouse, streaming salva o dia e impulsiona ações da Disney