Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)
Paula Barra
Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 10h33.
Última atualização em 17 de dezembro de 2020 às 11h04.
Novatas na Bolsa -- ambas estrearam na B3 no começo de novembro --, as ações da empresa de cashback e cupons de descontos Méliuz (CASH3) e o brechó online Enjoei (ENJU3) vêm chamando atenção nas últimas semanas, em meio à forte disparada na Bolsa. Em dezembro, até o fechamento da última quarta-feira, 16, esses papéis registram ganhos de 63% e 23%, respectivamente, sendo que, no caso da Méliuz boa parte dessa alta foi registrada só nos últimos cinco pregões, todos no positivo, acumulando valorização de 54% no período.
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O otimismo, no entanto, é recente. Depois de terem precificado suas ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) no piso da faixa indicativa, ambas estrearam com perdas na Bolsa: Méliuz, que começou a ser negociada na B3 no dia 5 de novembro, caiu 4% em sua estreia; e Enjoei, no dia 9, recuou 7%. No mês passado, acumularam perdas de 2% e 7%, respectivamente.
A virada agora ocorre em meio a uma série de relatórios de início de cobertura por bancos e corretoras das ações das empresas com recomendação de compra nesta semana.
Na última terça-feira, 15, o Bradesco BBI iniciou cobertura de Méliuz com recomendação de compra, com preço-alvo em 20,00 reais, o que implica um potencial de valorização de 25%. Um dia antes, o BTG também iniciou cobertura com compra e preço-alvo em 18,00 reais.
No caso de Enjoei, as ações tiveram cobertura iniciada pelo Bradesco BBI na quarta-feira, com compra e preço-alvo em 18,00, o que configura um potencial de valorização de 60% frente ao fechamento da véspera. O BTG Pactual iniciou na terça também com compra e preço-alvo em 15,00 reais, o que implica um potencial de valorização de 33%.
Os analistas do Bradesco BBI comentam que os papéis de Méliuz parecem baratos para um nome de tecnologia, tendo em vista o indicador Valor da Firma/Vendas de 7,6 vezes estimado para o ano que vem e a expectativa de crescimento de receita para os próximos anos. Eles projetam que o faturamento da companhia cresça a uma taxa anual composta (CAGR, na sigla em inglês) de 41% entre 2020 e 2023.
Além disso, apontam que a empresa tem uma clara vantagem competitiva na contratação de pessoal especializado, o que a deve permitir continuar inovando em um ritmo mais rápido. O Bradesco BBI apontou a Méliuz como sua ação preferida no setor de tecnologia na América Latina.
Já os analistas Eduardo Rosman, Thomas Peredo e Luiz Guanais, que assinam o relatório do BTG Pactual, destacam que, além de a companhia ser a primeira plataforma de cashback do país, com histórico de 10 anos em conectar consumidores a parceiros (principalmente varejistas e marketplaces), é também impulsionada por uma equipe de gestão empreendedora e cultura sólida que a permitiu desenvolver tecnologia e conhecimento para alcançar ótimos dados de engajamento dos seus usuários.
Segundo eles, a companhia tem espaço para “surfar o forte crescimento do e-commerce” brasileiro, que foi acelerado pela pandemia, além de ter boas oportunidades fora desse nicho. A companhia lançou em 2019 um cartão de crédito em conjunto com o Banco Pan e está trabalhando em outras parcerias no setor financeiro, comentam.
Adicionalmente, apontam que veem a companhia como um grande alvo para fusões e aquisições, com excelente funcionalidade para um banco digital como NuBank ou para alguma empresa de pagamentos caso apareça uma oferta. Eles citam o caso da Honey, empresa americana que atua no mesmo segmento e foi vendida para o PayPal por 4 bilhões de dólares. Ainda assim, reforçam que acreditam que também há espaço para a companhia crescer sozinha, estando bem posicionada para se tornar líder em sua indústria, além de ser negociada a preços atrativos em Bolsa, o que justifica a recomendação de compra dos papéis pelo banco.
Em relatório, os analistas Luiz Guanais e Gabriel Savi, do BTG Pactual, comentam que acreditam que o comércio eletrônico caminha para uma consolidação no país, mas veem ainda espaço para empresas que atuem em nichos, como o Enjoei.
Eles comentam que a empresa tem uma ampla variedade de produtos (85 mil marcas e 350 mil novas listagens por semana), alta taxa de aceitação (de cerca de 20%) e tráfego orgânico (aproximadamente 70%), com “ótima frequência e engajamento de sua plataforma”. “É uma poderosa combinação de milhões de compradores e vendedores em uma plataforma que deve ser beneficiada pelos recursos obtidos com o IPO.”
Embora não vejam o papel como uma “barganha” na Bolsa, acreditam que o preço é justificado pelo forte crescimento esperado. “Apesar de nossas estimativas implicarem em uma grande aceleração em relação aos anos anteriores, a natureza inexplorada e subpenetrada do mercado de segunda mão e comércio eletrônico de vestuário do Brasil cria uma enorme oportunidade à medida em que o Enjoei acelera os investimentos em marketing, melhora os níveis de serviço e constrói uma marca mais forte”, comentam.
Já os analistas do Bradesco BBI destacam que a empresa oferece uma boa experiência ao usuário e que quase quadruplicou o investimento de marketing para 2021 quando comparado com 2020, o que deve trazer novos usuários à plataforma. Eles estimam que o volume bruto de mercadoria da empresa deva crescer a uma taxa média anual composta (CAGR) de 67% nos próximos cinco anos, contra uma média de 25% dos parceiros.