Bolsonaro: presidente completa 100 dias na presidência nesta quarta-feira (Adriano Machado/Reuters/Reuters)
Karla Mamona
Publicado em 10 de abril de 2019 às 04h38.
Última atualização em 10 de abril de 2019 às 11h08.
São Paulo - Duas saídas de ministros, quatro viagens internacionais, uma briga com o presidente do Congresso, vários tuítes polêmicos, e uma reforma da Previdência empacada. Os primeiros 100 dias do governo Bolsonaro foram repletos de notícias capazes de mexer com os mercados.
Para quem investe também foi necessário ter sangue frio para lidar com a alta volatilidade da Bolsa no período. Depois de um janeiro glorioso, com alta de 10% no Ibovespa, o índice passou a oscilar na casa dentro da casa dos 90 mil pontos nos dois meses seguintes. A euforia dos 100 mil, no dia 18 de março, durou apenas alguns minutos. Foi tragada pelos desentendimentos entre Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Até a semana passada, a questão foi tratada como pontual e classificada apenas como um ruído no mercado. Ainda assim, os ruídos podem levar a oscilações importantes. No início desta semana, Maia afirmou que não tem mais as condições de ser um articulador político da Previdência, o que levou a bolsa cair 1,3%, nesta terça-feira.
Para investidores e analistas ouvidos por EXAME, a pressão agora está em cima do governo. Bolsonaro terá que construir a sua base de apoio dentro do Congresso – desde a semana passada, o presidente iniciou uma série de reuniões com 12 líderes partidários. Apesar de nenhum deles ter fechado questão em prol da reforma, a tendência geral é de voto pela aprovação, com ressalvas.
Segundo um levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, apenas 49 dos 513 deputados afirmam que não é preciso mexer nas regras da aposentadoria. “O Congresso não vai querer carregar a culpa de não ter aprovado o ajuste fiscal e de ter travado a economia do país”, explica Tony Volpon, economista-chefe do banco UBS.
Os dias de fortes emoções parecem não ter abalado a confiança do mercado financeiro. Passados os 100 dias, o cenário ainda é otimista e a expectativa é grande em relação à aprovação da PEC da Previdência – seja ela qual for. Nesta segunda-feira o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, admitiu que a economia gerada com o projeto pode não bater o 1 trilhão de reais previsto inicialmente.
Para Volpon, a proposta do ministro Paulo Guedes é bastante ambiciosa e resolveria o problema fiscal do Brasil de uma vez por todas. “Nunca mais precisaríamos voltar a discutir Previdência neste país. ”
Mas no cenário real, ninguém acredita que a reforma seja aprovada na íntegra. É possível que a capitalização, o Benefício de Prestação Continuada e aposentadoria rural fiquem de fora neste primeiro momento.
Enquanto o texto não for aprovado, o que nos cenários mais otimistas ainda deve levar três meses, as incertezas da economia internacional e até as perspectivas pessimistas para o PIB brasileiro devem ficar em segundo plano. Nesta segunda-feira o boletim Focus, do Banco Central, voltou a reduzir a previsão de crescimento do Brasil para 1,97% em 2019.
Nesta terça, o Fundo Monetário Internacional (FMI), um pouco mais otimista, também anunciou um recuou nas projeções para o país: prevê alta de 2,1%, ante 2,5% em janeiro. O FMI também reduziu a previsão de crescimento global de 3,5% para 3,3% em 2019, com incertezas sobre a guerra comercial entre China e Estados Unidos como uma das principais ameaças. Após a Previdência, é um tema que deve entrar mais no radar dos investidores interessados no Brasil.
Ao comparar com o início de mandatos de outros governos, o desempenho da Bolsa com o Bolsonaro, alta de 10%, não faz feio. Só perde para o início do governo Sarney e o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, quando a Bolsa se valorizou 120% e 18%, respectivamente.
André Perfeito, economista da Necton Corretora, explica que altas da Bolsa nestes períodos refletem as mudanças de percepção do caminho que estava sendo traçado. “A morte de Tancredo foi um momento bem dramático para o país. Com a posse do Sarney houve uma expectativa de mudança.”
O pior desempenho da Bolsa foi com o governo Collor, com desvalorização de 60%. O mercado, assim como os brasileiros, foi surpreendido pelo o confisco do dinheiro depositado nas cadernetas de poupança. O objetivo era conter a inflação, mas quebrou a confiança do investidor.
Entre os governos petistas, a Bolsa subiu mais nos primeiros 100 dias do segundo mandato no governo Lula, do que no primeiro. O mercado olhava com muita desconfiança a chegada dele à presidência. Já com a Dilma, a Bolsa subiu cerca de 6% nos primeiros 100 dias de cada um de seus mandatos.
Os dados foram divulgados pela Economatica, provedora de informações financeiras, a pedido do site EXAME. Os valores foram ajustados pela inflação.
Governo | Desempenho do Ibovespa ajustado pelo IPCA |
---|---|
José Sarney | 120,74% |
Fernando Collor | -60,65% |
Fernando Henrique Cardoso (1º mandato) | -34,62% |
Fernando Henrique Cardoso (2º mandato) | 18,82% |
Lula (1º mandato) | 2,19% |
Lula (2º mandato) | 6,43% |
Dilma Rousseff (1º mandato) | 6,07% |
Dilma Rousseff (2º mandato) | 5,77% |
Jair Bolsonaro | 10% |