Eletrobras: MP prevê que a União seja diluída e deixe de exercer o controle sobre a companhia | Foto: Dado Galdieri/Bloombreg (Dado Galdieri/Bloomberg)
Guilherme Guilherme
Publicado em 18 de junho de 2021 às 16h04.
Última atualização em 18 de junho de 2021 às 22h30.
As ações da Eletrobras (ELET3, ELET6) chegaram a disparar 9% no pregão desta sexta-feira,18 de junho, após a medida provisória (MP) que abre caminho para a sua privatização ter sido aprovada no Senado. No fechamento do pregão, a alta foi de 5,94% (ELET3) e de 5,98% (ELET6). Essa, porém, deve ser apenas uma parte da valorização que a companhia pode alcançar sem a União como controladora.
De acordo com a MP, o processo de privatização se dará por meio de uma oferta subsequente de ações (follow on, em inglês) que resultará na diluição da participação da União para menos da metade. A expectativa é que a operação seja feita em 2022. Mas, para isso, o texto precisa receber o aval da Câmara até terça-feira, 22, quando a MP perde a validade.
No mercado, analistas calculam um potencial de valorização entre 30% e 55% caso a privatização se torne realidade. Uma das avaliações mais otimistas é a do BTG Pactual (BPAC11, do mesmo grupo controlador da EXAME).
Segundo as projeções do analista João Pimentel, as ações ordinárias (ELET3) poderiam chegar a 67 reais, e as preferenciais de classe B (ELET6), a 74 reais. Ou seja, mesmo com a valorização registrada nesta sexta, os papéis poderiam subir mais 44% e 60%, respectivamente. O preço de fechamento foi de 46,22 reais e 45,85 reais, respectivamente.
Menos otimista, o Bank of America calcula 47 reais como preço-alvo para as ações ordinárias. No entanto, caso a privatização seja aprovada, analistas da casa veem potencial para os papéis chegarem a 64 reais.
Já a Neo Investimentos não tem um preço-alvo estabelecido. Mas o analista e sócio da gestora Danilo Vitti acredita que as ações da Eletrobras possam chegar “facilmente” a um preço entre 65 e 70 reais. “De forma alguma a alta de hoje é exagerada, e o papel deve subir ainda mais. Faz muito sentido o investidor entrar agora e participar de todo esse processo”, afirma.
Segundo as projeções de Vitti, a privatização deve abrir espaço para cortes de até 40% dos gastos da companhia. “Há uma estrutura de custo muito relevante se comparado a outras empresas do setor privado.” A redução de custos, diz o analista, deve passar pelo corte de cargos considerados ineficientes.
“A Eletrobras vinha sendo prejudicada há muito tempo por ser um cabide de empregos políticos. Aos poucos, a empresa vai poder fazer ajustes para reduzir o pessoal. Mas não vai ser um processo rápido”, afirma Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset.
Além da redução de custos, Hasegawa afirma que a privatização também deve gerar aumento de receita, com a chamada descotização de usinas da Eletrobras. “Hoje a empresa vende energia a 60 reais/MWh, enquanto o mercado vende a 160 reais/MWh.”
“A descotização dá a permissão para que o preço não seja mais tabelado. O sistema foi posto na MP 579 [de 2012], que causou um efeito muito negativo para a Eletrobras ao longo destes anos. Hoje, parte do ganho da companhia fica abaixo do custo marginal de produzir a energia”, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Embora veja a privatização como “essencial” para a Eletrobras, Arbetman acredita que boa parte da valorização já esteja precificada, após os papéis já terem subido cerca de 60% desde o fim de janeiro. “É sempre bom evitar esses momentos de muita afobação. A ação já pode ter andado bastante.”
Apesar de a capitalização tirar o governo do controle da Eletrobras, a União ainda será a principal acionista da companhia, com cerca de 45% do capital. Pelas regras previstas na MP, nenhum outro acionista poderá ter mais de 10% da companhia.
Essa participação remanescente do governo, segundo Hasegawa, deve manter a ação da Eletrobras mais descontada em relação a seus pares. “Enquanto o governo tiver participação, a Eletrobras nunca vai ser precificada como se fosse uma empresa 100% privada”, diz.
“Se houver votação de temas muito polêmicos por parte do governo, os investidores poderão se juntar para se posicionar contra. Mas se for algo dividido ou houver abstenção de minoritários, vai prevalecer a posição do governo”, comenta Vitti.
O analista da Neo Investimentos, no entanto, avalia que a União pode reduzir de forma gradual sua participação na Eletrobras após a capitalização ter sido debatida no Congresso.
“A tendência é que, ao longo do tempo, o governo reduza sua posição. Vimos isso, por exemplo, na BR Distribuidora (BRDT3), com a Petrobras vendendo participação até perder o controle -- e hoje quer vender tudo o que tem de ações. Vai levar mais tempo pela relevância da Eletrobras, mas deve ocorrer algo semelhante.”