Eletrobras: disparada nas ações após anuncio de desestatização (Adriano Machado/Bloomberg)
Rita Azevedo
Publicado em 22 de agosto de 2017 às 17h21.
Última atualização em 22 de agosto de 2017 às 18h09.
São Paulo -- A Eletrobras ganhou quase 9 bilhões em valor de mercado só nesta terça-feira, depois das ações da companhia dispararem quase 50%. A euforia dos investidores está ligada à decisão do governo de desestatizar a empresa de energia elétrica.
Na bolsa brasileira, os papéis preferenciais terminaram o dia em alta de 32,36% a 23,60 reais, enquanto os ordinários tinham ganhos de 48,94%, a 21,15 reais. No dia, o Ibovespa avançou 2,01%, acima dos 70 mil pontos. A última vez que o principal índice da Bolsa atingiu essa marca foi em janeiro de 2011.
Com isso, o valor de mercado da companhia de energia elétrica chegou a 29,13 bilhões de reais, ante 20,17 bilhões de reais do fechamento da véspera. Os números são da Economatica.
De acordo com o Ministério da Fazenda, o processo de desestatização ainda não tem uma modelagem definida e pode ser feito por venda de controle ou por emissão e diluição de ações. Atualmente, o governo tem 51% das ações ordinárias da companhia (com direito a voto) e 40,99% do capital total.
O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse que o governo pretende anunciar “o quanto antes” o modelo que será utilizado. É quase certo que o desenho que venha a ser adotado garanta à União a parcela de ações necessária para ter o poder de veto nas decisões da empresa. Se tudo sair como o esperado, o processo deve ser concluído até o final do primeiro semestre do ano que vem.
Apesar da euforia de hoje, analistas afirmam que apenas o detalhamento do plano vai permitir calcular quanto de fato vale a companhia, e quanto o governo vai conseguir arrecadar – as primeiras estimativas falam em 20 bilhões de reais.
De qualquer forma, como mostra o desempenho das ações, o plano foi muito bem recebido. O principal temor sempre que se fala em privatização da Eletrobras é concentrar geração e transmissão nas mãos de um único grupo.
“Mas da forma como o governo quer fazer não se corre esse risco”, diz a economista Elena Landau, até julho presidente do conselho de administração da companhia. “Nenhum grupo será dono da Eletrobras. O percentual vai ser colocado no mercado. É uma privatização Madura e o mercado de capitais está preparado para isso”.
Como lembra a economista, a motivação do plano, como costuma acontecer com privatizações no Brasil, é fiscal. Mas ele também reforça a delicada situação da companhia. Apesar da elogiada gestão do engenheiro Wilson Ferreira, que assumiu a companhia há um ano, tirar o negócio da lama estava sendo mais difícil que o imaginado. A Eletrobras acumula dívidas de 40 bilhões de reais e continua muito longe da normalidade.
A agência de classificação de risco Moody's disse nesta terça-feira que o plano do governo é um fator de crédito negativo para a Eletrobras, já que traz incertezas sobre o apoio governamental em momentos de necessidade.
"O plano cria também distrações para a administração que podem prejudicar outras iniciativas, incluindo a estratégia de reestruturação da companhia iniciada em novembro passado", disse a vice-presidente e analista sênior da Moody's Cristiane Spercel em comentários.
Com agência Reuters.