Risco regulatório derruba as ações da bolsa e eleva apreensão do mercado financeiro (Nilton Fukuda/AGÊNCIA ESTADO)
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2010 às 17h17.
São Paulo - “Claro que não gostamos das restrições aos investidores estrangeiros, tanto quanto o governo. Nós dois precisamos deles”. A frase é do presidente da BM&FBovespa (BVMF3), Edemir Pinto, em teleconferência com jornalistas realizada na tarde desta quinta-feira (21) sobre as novas medidas que aplicadas pelo governo e que buscam conter a valorização do real em relação ao dólar.
O Banco Central decidiu ontem também entrar na briga. A autoridade monetária publicou um comunicado proibindo que os bancos e corretoras realizem “operações de aluguel, troca ou empréstimo de títulos, valores mobiliários e ouro ativo financeiro a investidor não residente cujo objetivo seja o de realizar operações nos mercados de derivativos”.
Além disso, o Conselho Monetário Nacional (CMN) também fechou a brecha encontrada pelos investidores estrangeiros para driblar o recente aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas margens de segurança para as operações com derivativos de 0,38% para 6%. O dólar comercial fechou o dia hoje cotado a R$ 1,70, com alta de 1,61%. As ações da bolsa chegaram a cair 4,6% ao longo do dia e fecharam cotadas a 13,63 reais, baixa de 3,2%. Os papéis giraram 350 milhões de reais, o terceiro maior volume da sessão. Só nesta semana, as ações da bolsa já recuaram aproximadamente 10%.
“O governo quer conter o excesso de valorização do real e está usando o IOF em todas as alternativas”, disse o presidente da bolsa. As novas intervenções levaram alguns analistas a considerar com um peso maior o risco regulatório. O HSBC e a corretora Ativa rebaixaram a recomendação para as ações da empresa nesta semana.
Efeitos
"A principal diferença entre a BVMF e seus pares globais é que ela é a única grande bolsa de valores que enfrenta riscos regulatórios, os quais podem ser prejudiciais a seus volumes de negócios", afirmaram os analistas do HSBC Victor Galliano e Mariel Santiago. Edemir Pinto, entretanto, rebateu a visão de uma posição desfavorável.
“Não é só o Brasil que está administrando a moeda, são vários países no mundo que estão tendo esse problema”, disse. Para Eduardo Guardia, diretor financeiro da BM&FBovespa, o impacto sobre as operações de empréstimos de títulos será limitado porque os considerados não-residentes representam apenas 5% do estoque.
Sobre a restrição às cartas de fianças, que foram excluídas do rol de garantias aceitas pela Clearing da bolsa, o diretor afirmou que elas representam apenas 1,7% dos depósitos, “muito pouco”, afirmou. Apesar disso, Edemir Pinto avalia que será preciso esperar entre 15 e 20 dias para ter maior precisão sobre os efeitos da medida.
IOF para ações
Segundo o presidente, a BM&FBovespa teve indicações de que o governo não irá aplicar IOF maior sobre o capital externo destinado à aplicação em ações. “Já houve uma manifestação do ministro (da Fazenda, Guido Mantega) que a questão estava mais nos (mercados) futuros", afirmou. Ele enfatizou, contudo, que uma decisão desse tipo independe das vontades da bolsa.