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Dos iPhones aos cabides: o desafio dos EUA para deixar de importar da China

Só no ano passado, os americanos importaram US$ 41 bilhões em smartphones da China, em sua maioria modelos da Apple

 (Costfoto/Getty Images)

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Carolina Ingizza
Carolina Ingizza

Redatora na Exame

Publicado em 9 de abril de 2025 às 10h59.

Mesmo que os Estados Unidos decidam cortar radicalmente as importações da China, romper a relação comercial com o país asiático será mais difícil do que parece. Após décadas de integração, a China se consolidou como fornecedora essencial de produtos que vão dos mais estratégicos aos mais triviais — ou de iPhones a cabides.

Só no ano passado, os americanos importaram US$ 41 bilhões em smartphones da China, em sua maioria modelos da Apple. O país asiático respondeu por mais de 70% de todos os celulares comprados pelos EUA no exterior, segundo análise da Bloomberg com base em dados de 2024 da Comissão de Comércio Internacional americana.

Mas a dependência vai além da tecnologia. A China fornece 100% dos pelos de texugo usados na fabricação de pincéis, quase 90% dos consoles de videogame e a maioria esmagadora de uma série de itens do dia a dia.

Entre os produtos mais importados pelos EUA estão torradeiras elétricas, cobertores térmicos, cabides de madeira, guarda-chuvas dobráveis e flores artificiais — todos majoritariamente feitos na China.

ProdutoTotal (US$ bilhões)China (US$ bilhões)Participação da China (%)
Consoles de videogame7686%
Monitores de PC6579%
Brinquedos181476%
Smartphones564173%
Baterias de íons de lítio221670%
Laptops493266%
Produtos plásticos10438%
Fones de ouvido sem fio56814%
Peças de computador5149%
Medicamentos8567%

Fonte: Bloomberg/Comissão de Comércio Internacional dos EUA

As tarifas impostas por Donald Trump nos últimos dois meses, que elevam a 104% o custo de todos os produtos chineses importados, em tese, fazem parte de uma estratégia para reequilibrar o comércio e trazer de volta a produção industrial para os EUA.

No entanto, a força das cadeias de suprimento construídas com a China mostra que esse "desacoplamento" pode ser mais custoso — e mais lento — do que o esperado.

Minerais estratégicos

A situação se agrava quando entram em jogo os minerais estratégicos. No ano passado, empresas chinesas foram responsáveis por quase 80% do escândio e do ítrio importados pelos EUA.

Esses metais são essenciais para setores de alta tecnologia: o escândio entra na composição de ligas leves usadas no setor aeroespacial, enquanto o ítrio é aplicado em motores de aviões, na produção de telas de smartphones e TVs, além de ter uso em tratamentos contra o câncer.

Pequim já começou a usar esse domínio como ferramenta geopolítica: na semana passada, restringiu as exportações desses materiais. O movimento ecoa decisões anteriores, como o bloqueio de exportações de outros metais essenciais. Um passo adiante seria proibir completamente o envio aos EUA — o que poderia comprometer setores de alta tecnologia e defesa.

Nesta manhã, a China anunciou que irá impor tarifas adicionais de 84% sobre os produtos importados dos Estados Unidos em resposta à tarifa extra de 50% imposta pelo presidente Donald Trump.

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