Nesta sessão, o dólar avançou 1,83%, em dia marcado por baixa liquidez e pela formação da Ptax, taxa calculada pelo Banco Central (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 30 de dezembro de 2015 às 18h38.
Dólar deve subir em 2016 - As crises política e econômica que vêm marcando o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff levaram o dólar a fechar 2015 com o maior avanço ante o real em 13 anos, e sem perspectiva de que possa recuar no curto prazo.
Estrategistas, economistas e operadores esperam que o dólar continue subindo em 2016, já que não há sinais de trégua no cenário local. No entanto, o ritmo do fortalecimento deve ser menor, já que boa parte do ajuste do câmbio já aconteceu ao longo deste ano.
A moeda norte-americana subiu 48,49% em 2015, maior avanço anual desde 2002, quando o dólar subiu pouco mais de 50% em meio a incertezas envolvendo a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Este foi o quinto ano consecutivo de avanço do dólar em relação ao real, com alta acumulada no período de cerca de 137%.
Nesta sessão, o dólar avançou 1,83%, em dia marcado por baixa liquidez e pela formação da Ptax, taxa calculada pelo Banco Central que serve de referência para uma série de contratos cambiais.
"A história para este ano era muito ruim e se demonstrou pior do que o esperado. Para o ano que vem, a história continua muito ruim", resumiu o sócio-gestor da Absolute Investimentos Roberto Campos, para quem os maiores riscos para o câmbio estão relacionados à política, e não aos fundamentos macroeconômicos.
Investidores temem que a presidente Dilma Rousseff volte atrás e afrouxe o compromisso com a austeridade fiscal diante do processo de impeachment no Legislativo. Essa percepção foi fortalecida recentemente pela substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no comando do Ministério da Fazenda.
Barbosa vem reiterando a importância do ajuste das contas públicas, incluindo a reforma da Previdência Social, mas operadores ainda não estão convencidos de seu rigor fiscal, já que ele foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda na gestão de Guido Mantega, no primeiro mandato da presidente Dilma, quando o governo elevou os gastos públicos.
Além disso, a profunda recessão econômica --possivelmente a mais longa desde a década de 1930-- deve reduzir as receitas tributárias, enquanto as tensões políticas dificultam a implementação de cortes de gastos e aumentos de receitas.
"A premissa é de ajuste fiscal bastante lento e uma situação fiscal bem preocupante, com a dívida crescendo rapidamente porque o ambiente é de crescimento baixo nos próximos anos", afirmou o economista da Nomura Securities João Pedro Ribeiro.
Nesse contexto, a Nomura Securities projeta que o dólar fechará 2016 a 4,20 reais, próximo da máxima histórica de fechamento de 4,1461 reais atingida em setembro deste ano. No entanto, Ribeiro ressaltou que o quadro de incertezas dificulta previsões e que, caso ocorram ajustes nas suas contas, o viés é para cima.
O Credit Suisse é mais pessimista, prevendo que o dólar vai atingir 4,60 reais em doze meses. "As moedas da América Latina podem não estar mais excessivamente valorizadas, mas ainda não estão baratas", escreveu a equipe de estratégia do banco em apresentação a clientes.
Pela pesquisa Focus do BC, que ouve uma centena de economistas toda semana, o dólar deve ir a 4,20 reais em 2016.
Mesmo com o cenário de incertezas, a maior parte dos profissionais não espera que o Banco Central intensifique sua atuação no câmbio. Segundo eles, a menos que haja um surto de volatilidade muito intenso, o BC deve continuar atuando apenas por meio de rolagens integrais ou parciais dos swaps cambiais -- equivalentes a venda futura de dólares -- e leilões de linha ocasionais.
"A intenção do BC é reduzir o estoque de swaps, tanto para diminuir o custo dessas operações como para não gerar distorções nos mercados", emendou Campos, da Absolute.
Atualmente, o BC administra estoque equivalente a cerca de 110 bilhões de dólares em swaps e rolou integralmente os contratos que venceram nos quatro últimos meses, assim como o lote que vence em janeiro.
Entre as moedas latino-americanas, que assim como o real foram pressionadas pelo aumento dos juros nos Estados Unidos, a moeda brasileira só teve desempenho melhor do que o peso argentino, que passou a ter flutuação livre neste ano.