Dólar caiu cerca de 15% em relação ao real no primeiro trimestre de 2022, para surpresa da maior parte do mercado (Lee Jae-Won/Reuters)
Beatriz Quesada
Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 18h07.
Última atualização em 27 de janeiro de 2021 às 18h19.
(Reuters) A gangorra no mercado de câmbio se manteve e o dólar fechou em firme alta contra o real nesta quarta-feira, 27, influenciado sobretudo pelo ambiente externo conservador. Os principais pontos de preocupação foram ainda os receios sobre a pandemia e agora os riscos de correção nos mercados globais após o rali dos últimos meses.
O dólar subiu 1,50%, a 5,4071 reais na venda, após despencar 2,71% na véspera.
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No exterior, o índice do dólar saltava 0,5%. A moeda dos EUA mostrava ainda mais força contra divisas emergentes, em alta de mais de 1% ante peso mexicano e rand sul-africano .
Wall Street guiava o sentimento global nesta sessão, com os índices de ações em queda de até 2,7% em meio a uma liquidação por rumores de que fundos estariam correndo para fechar posições depois de o mercado ter saltado 20% apenas nos últimos dois meses e 76% desde as mínimas da pandemia, tocadas em março do ano passado.
Em coletiva de imprensa após o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) ter mantido os juros perto de zero, o chair da instituição, Jerome Powell, disse que vulnerabilidades na estabilidade financeira são de forma geral moderadas e limitou-se a afirmar que a conexão entre juros baixos e preços dos ativos não é tão próxima quanto se pensa.
Analistas afirmam que o rali nos mercados globais -- que ajudou o real a se valorizar desde a eleição norte-americana, no começo de novembro -- tem sido sustentado pela avalanche de estímulos monetários e fiscais que governos e BCs têm adotado desde o choque da pandemia.
A combinação entre o guidance de política (monetária) e a resposta ao questionamento sobre estabilidade financeira ameaça impulsionar alguns investidores para um risco cada vez maior de irresponsabilidade", disse Mohamed A. El-Erian, conselheiro econômico da Allianz e ex-CEO da Pimco.
O dia negativo no exterior elevou novamente a volatilidade no mercado doméstico, com uma medida de incerteza para a taxa de câmbio indo a máximas desde outubro do ano passado, mantendo o real como a moeda mais volátil do mundo.
Na véspera, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o prêmio de risco das reformas é um dos fatores por trás desse fenômeno e que, nesse sentido, as expectativas em torno das eleições para as presidências da Câmara e do Senado também têm afetado os preços da moeda.
E analistas do Barclays esperam que o vaivém nos preços do dólar persista, embora considerem que o real tem espaço para alguma recuperação caso o cenário fiscal de 2021 fique mais claro.
No curto prazo, o Rabobank projeta que a moeda brasileira se manterá pressionada, mas em 12 meses o real poderá se valorizar para 4,95 por dólar, apoiado por altas de juros.