Dólar: revés de governo Trump pode indicar que uma nova rodada de corte de impostos pode ser obstruída (Pavlo Conchar/Reuters)
Reuters
Publicado em 7 de novembro de 2018 às 17h12.
Última atualização em 7 de novembro de 2018 às 17h14.
São Paulo - O dólar terminou esta quarta-feira, 7, em queda ante o real, influenciado pelo mercado externo após o partido Democrata ter conquistado o controle da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, o que pode dificultar medidas de estímulo do presidente Donald Trump.
O movimento da moeda, no entanto, não foi linear e ela chegou a operar em alta firme, sob influência de maior cautela com o cenário político local e algum fluxo de saída. O dólar recuou 0,50 por cento, a 3,7395 reais na venda. Na mínima, marcou 3,7227 reais e, na máxima, 3,7886 reais. O dólar futuro tinha queda de cerca de 0,6 por cento.
"Com o Congresso dividido, Trump e o Senado republicano não serão capazes de fazer maiores mudanças legislativas sem aprovação dos Democratas. Isso significa que as esperanças dos Republicanos de uma segunda rodada de corte de impostos provavelmente morreram na água", disse em nota o economista da empresa de pesquisas macroeconômicas Capital Economics Andrew Hunter.
Nas eleições parlamentares de terça-feira, o partido Republicano de Trump ampliou a maioria no Senado, mas na Câmara os democratas conquistaram mais assentos do que o necessário para controlarem o comando da Casa.
Desta forma, a oposição terá a habilidade de investigar as declarações fiscais de Trump, possíveis conflitos empresariais de interesse e alegações envolvendo a campanha do presidente em 2016 e a Rússia. Os deputados também poderão impedir Trump de construir um muro na fronteira com o México, de aprovar um segundo grande pacote de cortes fiscais e de aplicar mudanças nas políticas comerciais.
Sem novos cortes de impostos, é provável que o Federal Reserve tenha menos trabalho para conter a trajetória de alta da inflação, o que pode esvaziar as apostas sobre aumento de juros.
O banco central norte-americano anuncia na quinta-feira sua decisão sobre a política monetária, mas a expectativa é de que um novo aumento só ocorra em dezembro. O Fed já elevou os juros três vezes neste ano e outras cinco altas são esperadas até o início de 2020.
"Havia quase certeza sobre essas três altas de juros (esperadas para 2019), agora pode ser menos do que isso", comentou a economista da Spinelli Camila de Caso, ao lembrar que o aumento do juro em dezembro está precificado com chances elevadas de acontecer.
O dólar tinha queda ante a cesta de moedas e também recuava ante as divisas de países emergentes como o peso chileno e o rand sul-africano.
Depois da manhã em queda ante o real, o dólar passou a subir com fluxo de saída e também desconforto dos agentes com o cenário político local, diante da indefinição sobre se Ilan Goldfajn seguirá ou não à frente do Banco Central e ainda com a notícia de que o Senado se prepara para votar aumento de salário para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com efeito cascata para outras categorias e impacto bilionário nas contas públicas.
"O mercado quer traçar cenários, saber logo quem é governo. A ausência de novidades tanto em relação ao comando do BC, como do governo de maneira geral, ajuda o dólar a flutuar para cima", disse a estrategista de câmbio do banco Ourinvest, Fernanda Consorte.
O presidente eleito Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira que seu futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, está em vias de anunciar a sucessão no BC, sem dizer se Ilan fica ou sai.
À tarde, o dólar voltou a colar no mercado externo e voltou à trajetória inicial, de queda, até fechar.
O Banco Central vendeu nesta sessão 13,6 mil contratos de swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares. Desta forma, rolou 2,72 bilhões de dólares do total de 12,217 bilhões de dólares que vence em dezembro. Se mantiver essa oferta diária e vendê-la até o final do mês, terá feito a rolagem integral.