Na máxima do dia, a moeda norte-americana bateu os R$ 3,99 (Patricia Monteiro/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 24 de abril de 2019 às 17h22.
Última atualização em 24 de abril de 2019 às 18h04.
São Paulo — O dólar disparou ante o real nesta quarta-feira, fechando no maior patamar em quase sete meses e muito perto do nível psicológico de R$ 4, refletindo a percepção de que a reforma da Previdência pode enfrentar um caminho mais sinuoso pela frente.
O dólar à vista terminou a sessão em alta de 1,63%, a R$ 3,9863 na venda. É o maior patamar de fechamento desde 1º de outubro do ano passado (4,0183 reais).
Na máxima do pregão, a moeda bateu os R$ 3,9950.
Na B3, a referência do dólar futuro subia 1,76% por volta de 17h40, para R$ 3,9910.
O real amargou o segundo pior desempenho global nesta sessão, só à frente do combalido peso argentino. Mas o pregão como um todo foi de fortes perdas para moedas de perfil semelhante ao da brasileira, diante de sinais de força dos EUA em relação ao restante do mundo, o que corrobora expectativas de migração de capital para os mercados norte-americanos em detrimento de emergentes como o Brasil.
"A reação do dólar no mundo foi muito forte, e há uma discussão sobre se a alta sequencial do petróleo pode ser inflacionária, o que reduz o tom 'dovish' do Fed", disse Cleber Alessie, operador da mesa financeira da H.Commcor.
Analistas da Kayros Consultoria destacaram em nota a correlação positiva entre o dólar no Brasil e o índice que mede o valor da moeda norte-americana frente a uma cesta de divisas . Com isso, os analistas lembram o peso dos fatores externos na formação do preço da taxa de câmbio local.
Porém, a performance mais fraca do real nesta sessão se deveu a um ajuste de posições passada a esperada aprovação do texto da reforma da Previdência na CCJ --a primeira e teoricamente mais simples etapa dos trâmites.
A PEC que muda as regras das aposentadorias foi aprovada na comissão da Câmara dos Deputados após acordo fechado pelo governo para retirar trechos do texto. O aval ao texto foi lido pelo mercado como mérito do centrão e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com problemas ainda aparentes na articulação do governo, que agora precisa convencer os deputados da comissão especial, que analisará o conteúdo da proposta.
Nesta quarta-feira, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, avaliou ser necessário que o governo se empenhe mais pela aprovação da matéria.
"O mercado busca a segurança do dólar porque ainda vê um caminho ainda muito complicado para a reforma", disse Thiago Silencio, operador de derivativos na CM Capital Markets. "O sentimento de que a vitória foi menos do governo agora gera grande dúvida sobre a capacidade do governo de convencer o Congresso a favor da reforma", completo
SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa paulista encerrou em queda nesta quarta-feira, pressionada por atrasos na tramitação da proposta de reforma da Previdência em relação à expectativa de aprovação neste semestre. O movimento também foi influenciado por tom negativo no exterior.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,92 por cento, a 95.045,43 pontos. O giro financeiro da sessão somou 14 bilhões de reais.
"Na terça-feira, o mercado subiu forte apoiado na expectativa de aprovação do texto (da Previdência) na CCJ e hoje tivemos uma realização de lucros", afirmou economista-chefe da consultoria independente de investimentos Levante, Felipe Bevilacqua.
Na noite de terça, a CCJ da Câmara considerou, por 48 votos a 18, constitucional a proposta de reforma da Previdência do governo, após acordo para retirar trechos do texto. A proposta segue para comissão especial da Câmara.
Nesta quarta-feira, a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), admitiu que diante dos atrasos na tramitação da proposta está ficando "um pouco apertado" aprovar a reforma da Previdência no Congresso no primeiro semestre, mas destacou que ainda existe essa possibilidade.
As principais praças no exterior também encerraram em baixa, um dia após os principais índices de Wall Street atingirem patamares recordes.
- MARFRIG fechou em queda de 5,85 por cento, figurando entre as maiores perdas do Ibovespa, um dia após ter encerrado em seu maior valor de fechamento desde 8 de agosto.
- CIELO recuou 4,43 por cento, após reportar na véspera queda forte no lucro do primeiro trimestre, diante do prolongado declínio das margens e aumento das despesas com marketing e pessoal para tentar reagir à concorrência feroz no mercado brasileiro de cartões. Nesta manhã, o presidente-executivo da empresa disse que ela oferecerá aos clientes terminais grátis e pagamentos instantâneos, seguindo as recentes iniciativas de concorrentes como a PagSeguro e Rede, do Itaú Unibanco.
- VALE declinou 3 por cento, acompanhando a queda dos preços do minério de ferro na China. Nesta quarta-feira, a mineradora informou que entrou com um processo judicial contra a BSG Resources Limited (BSGR) para fazer cumprir uma decisão arbitral contra a empresa no valor de mais de 1,2 bilhão de dólares, ou mais de 2 bilhões de dólares, se considerados juros e despesas, em disputa relacionada a um projeto na Guiné.
- PETROBRAS PN cedeu 0,29 por cento e PETROBRAS ON desvalorizou-se 1,74 por cento, em meio a definição do governo de diretrizes para o cálculo da compensação devida à empresa por investimentos nos campos de Búzios, Atapu, Itapu e Sépia. O governo se prepara para uma licitação prevista para 28 de outubro que oferecerá volumes excedentes às reservas nessas áreas envolvidas no contrato de cessão onerosa.
- MRV ON fechou em queda de 2,98 por cento, entre as principais baixas do índice. Mais cedo, o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, afirmou que os recursos para o programa habitacional Minha Casa Minha Vida vão se esgotar em junho e a continuidade dependerá de aportes.