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Dólar fecha em alta com receio de intervenção política, mas BC ameniza pressão

O estresse no mercado de câmbio já era esperado, depois de uma série de decisões e falas do presidente Jair Bolsonaro nos últimos dias

Dólar caiu cerca de 15% em relação ao real no primeiro trimestre de 2022, para surpresa da maior parte do mercado (Lee Jae-Won/Reuters)

Dólar caiu cerca de 15% em relação ao real no primeiro trimestre de 2022, para surpresa da maior parte do mercado (Lee Jae-Won/Reuters)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 22 de fevereiro de 2021 às 18h32.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2021 às 18h41.

(Reuters) - O dólar começou a semana em alta frente ao real, impulsionado pelo aumento do risco político depois de o presidente Jair Bolsonaro intervir na direção da Petrobras e falar em mudanças em outras companhias e setores. A moeda, porém, desacelerou os ganhos ao longo da tarde, após atuação do Banco Central e alguma melhora no exterior.

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O dólar subiu 1,27% e encerrou o dia negociado a 5,4539 reais. A cotação variou entre 5,535 reais (+2,79%) -- patamar alcançado imediatamente antes de o BC anunciar leilão de swap cambial -- e 5,4316 reais (+0,87%), por volta de 16h15.

No mercado futuro da B3, o dólar bateu 5,5350 reais, máxima desde 6 de novembro do ano passado.

O estresse -- que afetou ainda juros e bolsa-- já era esperado, depois de uma série de decisões e falas do presidente da República nos últimos dias.

Guinada populista de Bolsonaro

Na sexta-feira, o presidente indicou o nome do general Joaquim Silva e Luna para assumir os cargos de conselheiro e presidente da Petrobras, após ruídos com o atual presidente da companhia, Roberto Castello Branco.

No sábado, Bolsonaro disse que nesta semana deve ocorrer uma nova substituição de autoridade e que vai "meter o dedo na energia elétrica". Nesta segunda-feira, ele criticou a atual política de preços praticada pela petrolífera, que, segundo ele, deixa o mercado financeiro feliz e atende o interesse de alguns no Brasil.

O receio de agentes financeiros é que o governo possa estar dando início a uma guinada populista para estancar a queda de popularidade do presidente. A avaliação positiva do governo caiu para 32,9%, mostrou pesquisa CNT/MDA nesta segunda-feira, ao passo que a avaliação negativa subiu e totaliza agora 35,5%, superando o percentual dos que veem a gestão como ótima ou boa.

"Acreditamos que os ativos locais apresentarão um desempenho inferior no curto prazo. Com o dólar acima de 5,50 reais, poderemos ver uma continuação do movimento para cima", disse o Citi em nota.

Real ainda com espaço para alta

Mas alguns analistas ponderaram que a piora do real pode ser limitada.

"Acho que, hoje, o mercado mais frágil é o de renda fixa. No caso do câmbio, em momentos de forte alta aparecem fluxos de exportação. As commodities estão em valorização e há expectativa de aumento de juros, enquanto no exterior há muita liquidez", disse Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital.

"O governo é reativo. Existe uma possibilidade de, vendo a reação dos mercados, o governo reveja algumas ações. O fato é que o mercado vai exigir entrega de algo relacionado ao fiscal", completou.

Em meio à repercussão do noticiário em torno da Petrobras, o relator da chamada PEC emergencial, senador Marcio Bittar (MDB-AC), apresentou parecer preliminar à proposta para permitir a concessão de um auxílio residual neste ano aos mais vulneráveis, mas sem previsão de valores para a prorrogação do auxílio.

Para outro gestor, o real pode sentir o baque de forma diluída devido ao amplo descolamento da moeda ante seus pares nos últimos dois anos e à perspectiva de que expressivos fluxos de saída dos últimos meses (como os relacionados ao overhedge, por exemplo) não se repetam.

"Acredito que uma piora muito grande do real contra moedas pares parece improvável", disse, acrescentando: "Paulo Guedes (ministro da Economia) prometeu várias coisas e não entregou. Já não sei mais se o mercado deveria piorar caso ele saísse."

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