(Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de abril de 2021 às 16h31.
Última atualização em 18 de abril de 2021 às 16h35.
A entrada de dólares no Brasil, puxada pelas exportações de commodities, não tem sido suficiente para colocar a moeda americana em patamares mais acomodados. Após ter subido cerca de 30% ante o real em 2020, o dólar à vista acumula alta próxima de 8% em 2021. Em tese, ao receber mais dólares com a exportação de commodities, o Brasil deveria passar por um processo de desvalorização da moeda americana - o que não está ocorrendo.
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“É a primeira vez que as cotações das commodities sobem e os países produtores pioram no câmbio”, comentou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em um evento recente. Para ele, esse comportamento atípico ocorre devido à deterioração fiscal e ao aumento da dívida dos emergentes no enfrentamento da pandemia de covid-19.
Com a demanda global por commodities, os preços em reais de produtos como soja e milho têm aumentado, o que traz pressão adicional sobre a inflação brasileira. Embora o fenômeno era tratado como passageiro no ano passado, o BC já reconhece que seus efeitos sobre a inflação são mais duradouros que o esperado. Este foi um dos fatores considerados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC no mês de março, quando a Selic (a taxa básica de juros) foi elevada de 2% para 2,75% ao ano.
Para o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria, o dólar não tem cedido ante o real porque a exportação de commodities é apenas um dos fatores de influência sobre as cotações. “Há muita coisa acontecendo. Ao mesmo tempo em que o País exporta bastante e cria um superávit na balança comercial, ocorrem saídas no resto do balanço”, pondera. “É o caso dos resultados de Investimento Direto no País (IDP) e portfólio. Além disso, as expectativas em relação ao futuro do real não são animadoras”, completa.
O professor Michael Viriato, do Insper, destaca que o Brasil conseguiu aproveitar melhor o último boom das commodities (2003/2007), porque o País vinha em uma trajetória de melhora na condição fiscal, que começou ainda no governo FHC e continuou nos primeiros anos do governo Lula.
“O câmbio sempre responde ao crescimento econômico e à capacidade de pagamento do País. Lá atrás, o contexto internacional era favorável e o Brasil crescia impulsionado pelo crédito e melhorava seus indicadores fiscais. Agora o mundo está se recuperando, mas o Brasil está um pouco atrasado e com piora nas contas públicas.”